A inclusão do trabalho não remunerado nas contas nacionais: uma análise do SNA 2025 a partir da obra If Women Counted, de Marilyn Waring

Abstract

Este trabalho analisa a inclusão e a exclusão do trabalho não remunerado nos Sistemas de Contas Nacionais (SNA), a partir de uma abordagem crítica fundamentada na obra de Marilyn Waring e no diálogo com literatura especializada e documentos oficiais nacionais e internacionais. O objetivo central é investigar como o SNA 2008 e as propostas do SNA 2025 abordam o trabalho reprodutivo, com ênfase nas atividades historicamente invisibilizadas, como o trabalho doméstico e o cuidado, predominantemente realizados por mulheres. Adotando o método qualitativo de natureza bibliográfica e analítica, foram examinados relatórios oficiais, publicações de organismos multilaterais, artigos acadêmicos e livros de referência, buscando compreender o percurso histórico e metodológico que levou à consolidação do atual paradigma contábil. O estudo parte do entendimento de que a definição de valor econômico dominante no SNA reflete opções políticas e ideológicas que marginalizam práticas essenciais à reprodução social e à sustentabilidade ambiental, ao priorizar apenas transações mercantis e assalariadas na mensuração da riqueza nacional. A partir de uma análise comparativa entre as versões do SNA, evidencia-se que, embora o SNA 2008 tenha consolidado avanços metodológicos em relação a versões anteriores, permaneceu restrito ao valor de mercado e pouco sensível à incorporação das atividades não remuneradas. As propostas para o SNA 2025, contudo, indicam uma inflexão relevante ao prever a criação de contas-satélite, a mensuração do trabalho doméstico e o uso de indicadores auxiliares para captar o valor econômico do cuidado, ainda que tais avanços estejam, em parte, condicionados à persistência de uma lógica contábil centrada no PIB tradicional. O trabalho destaca, ainda, a importância da crítica feminista e dos movimentos internacionais por novas métricas de progresso, como fator determinante para a ampliação do debate sobre bem-estar, equidade e sustentabilidade. A pesquisa conclui que, para que a contabilidade nacional possa refletir a complexidade da vida social e promover justiça de gênero e sustentabilidade, é imprescindível que as reformas propostas sejam aprofundadas, exigindo a adoção de instrumentos capazes de incorporar plenamente o trabalho não remunerado e os custos ambientais ao núcleo das métricas econômicas. Ao final, ressalta-se que a revisão do SNA constitui não apenas uma questão técnica, mas um debate político e ético fundamental sobre os rumos do desenvolvimento e as prioridades das sociedades contemporâneas.

This study examines the inclusion and exclusion of unpaid work in the System of National Accounts from a critical perspective grounded in Marilyn Waring and in dialogue with specialized literature and official national and international documents. The central objective is to investigate how SNA 2008 and the proposals for SNA 2025 address reproductive work, with emphasis on historically invisibilized activities such as domestic work and care, predominantly performed by women. Adopting a qualitative, bibliographic, and analytical approach, the research reviews reports by multilateral organizations, technical guidelines, academic articles, and reference books to reconstruct the historical and methodological trajectory that consolidated the current accounting paradigm. The analysis starts from the understanding that the dominant SNA definition of economic value reflects political and ideological choices that marginalize practices essential to social reproduction and environmental sustainability by prioritizing only market and paid transactions in the measurement of national wealth. The comparative assessment shows that, although SNA 2008 consolidated methodological advances over previous versions, it remained anchored in market valuation and was largely insensitive to unpaid activities. By contrast, the proposals for SNA 2025 indicate a relevant inflection by envisaging the creation of satellite accounts, the measurement of household production, and the use of auxiliary indicators to capture the economic value of care, even though these advances are partly conditioned by the persistence of a GDP-centered logic. The study also highlights the importance of feminist critique and international movements for new metrics of progress as drivers of a broader debate on well-being, equity, and sustainability. It concludes that, for national accounting to reflect the complexity of social life and promote gender justice and sustainability, the proposed reforms must be deepened through instruments capable of fully incorporating unpaid work and environmental costs into the core of economic metrics. Ultimately, revising the SNA is not only a technical matter, but also a fundamental political and ethical debate about development paths and the priorities of contemporary societies.