Uma "floresta oficial" em uma paisagem social: as transformações na Comunidade do Araçá em Porto Belo/SC

Abstract

Esta tese investiga as transformações socioterritoriais na Comunidade Tradicional do Araçá, em Porto Belo (SC), ao longo de cinco gerações, diante da intensificação de políticas ambientais, da urbanização e do avanço do turismo no litoral catarinense. A paisagem é concebida como resultado das interações entre humanos e não humanos (Ingold, 2002), sendo simultaneamente espaço vivido, memória coletiva e campo de disputa. A pesquisa analisa o impacto das Unidades de Conservação ? especialmente a Reserva Biológica Marinha do Arvoredo e a Área de Proteção Ambiental da Ponta do Araçá ? sobre os modos de vida locais, compreendendo essas unidades como artefatos culturais (Barretto, 2001) e espaços de fricção (Tsing, 2005), onde diferentes regimes de valor, concepções de natureza e projetos de futuro colidem, negociam e, por vezes, se articulam. A partir de uma abordagem etnográfica que incluiu observação participante, entrevistas, histórias orais, análise de mapas, imagens históricas, fotografias e documentos oficiais, a tese revela como a comunidade ressignifica, contesta ou se adapta as imposições de uma ?floresta oficial?, produzindo paisagens marcadas por diferentes camadas.

Abstract: This thesis investigates the socio-territorial transformations in the Traditional Community of Araçá, in Porto Belo, Santa Catarina, over five generations, amidst the intensification of environmental policies, urbanization, and the expansion of tourism along the Santa Catarina coast. Landscape is conceived as the result of interactions between humans and non-humans (Ingold, 2002), simultaneously serving as lived space, collective memory, and a field of dispute. The research analyzes the impact of Conservation Units ? especially the Arvoredo Marine Biological Reserve and the Ponta do Araçá Environmental Protection Area ? on local ways of life, understanding these units as cultural artifacts (Barretto, 2001) and spaces of friction (Tsing, 2005), where different value regimes, conceptions of nature, and projects for the future collide, negotiate, and sometimes articulate. Using an ethnographic approach that included participant observation, interviews, oral histories, analysis of maps, historical images, photographs, and official documents, the thesis reveals how the community reinterprets, contests, or adapts to the impositions of an ?official forest,? producing landscapes marked by different layers.