Associação entre o consumo de alimentos considerados saudáveis e sintomas depressivos em idosos residentes em Florianópolis/SC: um estudo EpiFloripa Idoso

Abstract

Introdução: pesquisas apontam que o consumo de alimentos considerados saudáveis parece exercer efeito protetor e/ou terapêutico na depressão e sintomas depressivos, transtorno em crescente prevalência no mundo todo, especialmente nas populações idosas. Objetivo: verificar a associação entre o consumo semanal e diário de alimentos considerados saudáveis e sintomas depressivos em uma amostra representativa de idosos de Florianópolis/SC. Métodos: estudo transversal com dados da terceira onda de coleta (2017-2019) do estudo EpiFloripa Idoso, coorte de base populacional e domiciliar que iniciou em 2009/2010. Sua amostra consiste em idosos (>60 anos) residentes na área urbana de Florianópolis/SC. Devido às perdas ao longo do tempo, em 2017 a coorte tornou-se aberta, incluindo novos participantes, totalizando 1335 entrevistas nessa coleta. Os dados foram coletados por entrevistador treinado através de questionário composto por ferramentas validadas. Os sintomas depressivos foram verificados pela Escala de Depressão Geriátrica (GDS-15), considerando >6 pontos como positivo para sintomas depressivos. O consumo alimentar foi coletado por uma pergunta de frequência semanal para frutas, vegetais, feijão, alimentos integrais e peixes e frequência diária para frutas e vegetais (F+V). Essas variáveis foram divididas em: <1 vez/semana, 2-4 vezes/semana e >5 vezes/semana para frutas, vegetais, alimentos integrais e feijão; 0x/semana, 1 vez/semana e >2 vezes/semana para peixes e <1 vezes/dia, 2-4 vezes/dia e >5 vezes/dia para F+V. ?Consumo regular? considerado como >5 vezes/semana para frutas, vegetais, feijão e alimentos integrais, para peixe >2 vezes/semana e para F+V >5 vezes/dia. A associação entre as variáveis foi feita por regressão de Poisson, expresso em razão de prevalência (RP) com intervalos de confiança de 95%. Foi criado um gráfico acíclico direcionado (DAG) para definir o modelo mínimo de ajuste, incluindo variáveis sociodemográficas, comportamentais e de saúde. Resultados: foram analisados dados de 1197 idosos. Observou-se prevalência de sintomas depressivos de 14,6%. O consumo regular de frutas foi de 87,6%, vegetais 70,4%, feijão 51,2% e alimentos integrais 45,8%; de peixe foi de 29,9% e frutas e/ou vegetais de 13,6%. Observou-se menor RP de sintomas depressivos nos idosos que consumiam regularmente frutas (RP = 0,71; IC = 0,56-0,90), vegetais (RP = 0,81; IC = 0,68-0,96), feijão (RP = 0,84; IC = 0,74-0,96), e alimentos integrais (RP = 0,86; IC = 0,74-0,99); nos que consumiam peixes 1 vez/semana (RP = 0,82; IC = 0,71-0,95) e que consumiam F+V 2-4 vezes/dia (RP = 0,80; IC = 0,65-0,97) e >5 vezes/dia (RP = 0,75; IC = 0,58-0,96). Conclusão: idosos que consumiam regularmente frutas, vegetais, feijão e alimentos integrais apresentaram menor RP de sintomas depressivos. Aqueles que consumiam peixes 1 vez/semana e F+V 2-4 e >5 vezes/dia apresentaram menor RP de sintomas depressivos. Este estudo traz informações importantes acerca do consumo alimentar e saúde mental dessa população. Mais estudos na área são necessários para compreender o papel da alimentação nas desordens neuropsiquiátricas.

Abstract: Introduction: research show that the consumption of healthy food appears to have a protective and/or therapeutic effect on depression and depressive symptoms, a disorder with increasing prevalence worldwide, especially among elderly populations. Objective: to investigate the association between weekly and daily consumption of healthy food and depressive symptoms in a representative sample of elderly individuals in Florianópolis, SC. Methods: cross-sectional study using data from the third wave of data collection (2017-2019) from the EpiFloripa Aging study, a population-based household cohort started in 2009/2010. The sample consists of older adults (>60 years) residing in the urban area of Florianópolis, SC. Due to losses over the years, the cohort became open in 2017, and new participants were included, totaling 1335 interviews. Data were obtained by trained interviewers through a questionnaire composed of validated tools. Depressive symptoms were assessed using the Geriatric Depression Scale (GDS-15), considering >6 points as positive for depressive symptoms. Dietary intake was collected through a weekly frequency question for fruits, vegetables, beans, whole foods and fish, and daily frequency for fruits and vegetables (F+V), categorized as: <1 time/week, 2-4 times/week, and >5 times/week for fruits, vegetables, whole foods, and beans; 0 times/week, 1 time/week, and >2 times/week for fish, and <1 time/day, 2-4 times/day, and >5 times/day for F+V. The \"regular consumption\" was considered at >5 times/week, for fish consumption was >2 times/week, and for F+V was >5 times/day, The association between variables was assessed by Poisson regression, expressed as prevalence ratios (PR) with 95% confidence intervals. A directed acyclic graph (DAG) was created to define the minimum adjustment model, including sociodemographic, behavioral, and health variables. Results: data from 1197 elderly individuals were analyzed. The prevalence of depressive symptoms was 14.6%. Regular consumption of fruits was reported by 87.6% of participants, vegetables by 70.4%, beans by 51.2%, and whole foods by 45.8%, fish by 29.9% and F+V by 13.6%. Lower PR of depressive symptoms was observed in older adults who regularly consumed fruits (PR = 0.71; CI = 0.56-0.90), vegetables (PR = 0.81; CI = 0.68-0.96), beans (PR = 0.84; CI = 0.74-0.96), and whole foods (PR = 0.86; CI = 0.74-0.99); those who consumed fish once a week (PR = 0.82; CI = 0.71-0.95) and those who consumed F+V 2-4 times/day (PR = 0.80; CI = 0.65-0.97) and >5 times/day (PR = 0.75; CI = 0.58-0.96). Conclusion: older adults who regularly consumed fruits, vegetables, beans, and whole foods had lower PR of depressive symptoms. Those who consumed fish once a week and F+V 2-4 and >5 times/day also hadlower PR of depressive symptoms. This study provides important information about dietary intake and mental health in this population. Further studies in the field are necessary to understand the role of nutrition in neuropsychiatric disorders.