Escolhas alimentares e percepções de consumidores adultos insatisfeitos com a imagem corporal em supermercado: um estudo exploratório

Abstract

As expectativas sociais para ter uma imagem corporal aceitável podem gerar no indivíduo sentimentos negativos sobre o corpo, exacerbando comportamentos compensatórios e desmotivando escolhas alimentares saudáveis. O objetivo deste estudo exploratório de abordagem quali-quantitativa conduzido com 26 adultos de ambos os sexos insatisfeitos com a imagem corporal foi conhecer suas escolhas alimentares e suas percepções sobre produtos disponíveis no setor de ?alimentos saudáveis? de uma rede de supermercados em Florianópolis/SC; além de analisar descritivamente as informações presentes nos rótulos dos produtos disponíveis no setor. A insatisfação com a imagem corporal foi avaliada pela escala de silhuetas; o estado nutricional pelo Índice de Massa Corporal (IMC); o padrão de comportamento alimentar pelo TFEQ-R21; os produtos do setor de ?alimentos saudáveis? pela classificação NOVA e pela presença de estratégias de marketing nutricional nas embalagens; as percepções dos consumidores e motivos para as escolhas foram analisadas tematicamente. Associações entre a insatisfação com a imagem corporal e padrão de comportamento alimentar entre os sexos foram avaliadas pelo teste exato de Fischer com nível de significância p<0,05. Os participantes tinham média de idade de 43,7 anos, 85,6% eram brancos, 73% tinham nível superior completo e 50% tinha renda mensal entre 4 e 10 salários mínimos (classe C). O IMC médio foi 26kg/m2, indicando excesso de peso. A associação do padrão de comportamento alimentar com o sexo demonstrou a presença de restrição cognitiva estatisticamente significativa (p= 0,041) nos homens. Foram identificados 506 produtos no setor, 59.3% dos quais eram alimentos ultraprocessados (AUP) principalmente nos subsetores ?diet/light? (adoçantes, sobremesas, biscoitos e chocolates) e ?cereais? (barra de nuts, barra de cereais e granola). O marketing nutricional predominou na parte frontal das embalagens de AUP; constatou-se também a presença de selos e certificações nacionais e internacionais, predominando ?Orgânico do Brasil? e ?certificado produto vegano SVB?. Os participantes escolheram 81 produtos, 53% dos quais era AUP (principalmente granola, barra de cereais e biscoitos); análise temática revelou que as escolhas foram motivadas prinicalmente por hábitos de consumo, preferências, conveniência e fidelidade a marcas. Os participantes questionaram o conceito de ?saudável? promovido pelo supermercado e sugeriram que tipo de produto disponível no ?setor saudável? pode levar à confusão sobre a saudabilidade de alimentos embalados industrializados. Apesar da crítica, os consumidores escolheram predominantemente AUP e mencionaram motivações relacionadas à saúde para justificar a seleção, revelando um cenário de contradições. Os resultados indicam que, para indivíduos insatisfeitos com a imagem corporal devido ao sobrepeso e com padrão emocional de comportamento alimentar, o ambiente do ?setor saudável? de supermercados não favorece a aquisição de alimentos saudáveis.

Abstract: Social expectations to have an acceptable body image can generate negative feelings about one?s body, exacerbating compensatory behaviors and discouraging healthy food choices. The objective of the study was to understand the food choices and perceptions of adult consumers dissatisfied with their body image about the products available in the ?healthy food? sector in a supermarket chain in Florianópolis/SC; and carry out a descriptive analysis of the information on the products? labels. Exploratory study with a quali-quantitative approach conducted with 26 adults, from both sexes, who made food choices in the supermarket using photo-elicitation and were interviewed face-to-face in three stores of the supermarket chain. Associations between dissatisfaction with body image, pattern of eating behavior and concern with body image between the sexes were evaluated with Fischer's exact test considering the significance level p<0.05. The results showed a mean age of 43.7 years; 85.6% were white; 73.1% had higher education degree and half received between 4 and 10 minimum wages per month (class C). The mean Body Mass Index was 26kg/m2, indicating overweight. The association of eating behavior pattern with sex showed that for men cognitive restriction was statistically significant (p= 0.041). A total of 506 products were identified in the sector, 59.3% of which were ultra-processed (UPF), predominantly exposed in the ?diet/light? (sweeteners, desserts, cookies and chocolates) and ?cereals? subsectors (nut bars, cereal bars and granola). Regarding nutritional marketing strategies on UPF labels, these were identified mainly on the front-of-pack; presence of national and international seals and certifications was also noted, predominantly ?Orgânico do Brasil? and ?SVB certified vegan product?. Participants chose 81 food products, most of which (53%) were ultra-processed. Thematic analysis revealed that participants were motivated mainly by consumption habits, preference, convenience and brand loyalty. Participants questioned the concept of health promoted by the supermarket and suggested that the kind of food items available in ?healthy foods section? may confuse consumers about the healthfulness of packaged processed foods (PF). Despite being critical of the concept of healthfulness promoted by the supermarket, participants predominantly selected ultra-processed foods (UPF) mentioning health-related motivations for their selection, revealing a realm of contradictions. The results indicate that, for individuals dissatisfied with their body image due to overweight and with emotional eating behavior, the environment of the healthy foods section of supermarkets is not conducive to healthy food shopping.