Representações sociais da violência contra imigrantes para autóctones e imigrantes no Sul do Brasil

Abstract

A violência é um fenômeno complexo e multifacetado, vivenciado constantemente por imigrantes de diversas formas. A população imigrante é vista frequentemente a partir de representações negativas, associadas por vezes à sentimentos de medo/aversão, as quais legitimam as violências praticadas. Com isso, essa tese objetiva compreender as Representações Sociais (RS) sobre imigrantes e sobre a violência contra imigrantes para autóctones e imigrantes e as suas relações. Para isso, utilizou-se como embasamento teórico, a Teoria das Representações Sociais, na interface com outras teorias da Psicologia Social. Buscou-se responder aos objetivos por meio de uma abordagem multi-métodos: um estudo documental, um quantitativo e um qualitativo. O primeiro pretendeu caracterizar as RS da violência contra imigrantes construídas em uma rede social a partir de comentários gerados em duas notícias. Os dados foram analisados com auxílio do software IRaMuTeQ. Em geral, verificou-se que os comentários foram permeados por interações conflituosas, polarização política, argumentos poucos fundamentados, valores morais e escassas reflexões sobre o contexto social. Em seguida, o estudo quantitativo caracterizou as RS da violência contra imigrantes para autóctones. Para isso, aplicou-se um questionário online para 189 autóctones do Sul do Brasil. O instrumento foi elaborado pela pesquisadora, contendo um teste de evocação, questões em escala Likert (utilizados para a construção da IPI-autóctones) e dados sócio-demográficos. Realizou-se análises prototípicas e estatísticas. Os resultados indicaram evidências da relevância do instrumento, aspectos representacionais relacionados à vivência migratória, características, sentidos, sentimentos, motivações, definições, questões cotidianas, entre outros. Destaca-se que a maioria apresentou percepções favoráveis à imigrantes, contudo algumas variações apontaram a presença de crenças estereotipadas. Por fim, o estudo qualitativo, objetivou descrever e comparar as RS sobre a violência contra imigrantes para autóctones e imigrantes. Para isso, realizou-se entrevistas com 20 imigrantes e 20 autóctones da região Sul. Os dados foram analisados com auxílio do IRaMuTeQ e por análise de conteúdo. Os resultados apontaram que as RS da violência contra imigrantes para autóctones e imigrantes estão relacionadas. Crenças diversas, atitudes e representações foram encontradas em ambos os grupos, contudo entre os autóctones esteve mais presente características negativas, comentários xenofóbicos, entre outras especificidades. A maioria dos imigrantes acredita que brasileiros sejam contrários à violência e trouxeram mais elementos emocionais e as consequências da violência. Ademais, mais autóctones afirmaram não terem se envolvido em conflitos com imigrantes em comparação ao número de imigrantes que relataram nunca terem sofrido violência. Os resultados foram contextualizados. Conclui-se que a violência contra imigrantes foi representada por diferentes atores sociais a partir da construção de estereótipos e discursos polarizados. Verificou-se narrativas que demonstraram a desumanização sofrida por imigrantes, havendo repercussões na saúde mental. Dessa forma, consideram-se necessárias intervenções para redução de danos associados às violências. Para isso, é relevante compreender este fenômeno integralmente. Apesar de algumas limitações do estudo, considera-se que este pode contribuir para novas práticas sobre a temática. Por fim, sugere-se novos estudos para um maior suporte empírico a esta pesquisa.

Abstract: Violence is a complex and multifaceted phenomenon, constantly experienced by immigrants in different ways. The immigrant population is often seen from negative representations, sometimes associated with feelings of fear/aversion, which legitimize the violence practiced. With this, this thesis aims to understand the Social Representations (SR) about immigrants and violence against immigrants for natives and immigrants and their relationships. For this, the Theory of Social Representations was used as a theoretical basis, in the interface with other theories of Social Psychology. An attempt was made to respond to the objectives through a multi-method approach: a documentary study, a quantitative and a qualitative one. The first intended to characterize the SR of violence against immigrants built on a social network based on comments generated in two news items. Data were analyzed using the IRaMuTeQ software. In general, it was found that the comments were permeated by conflicting interactions, political polarization, arguments that were not well founded, moral values and scarce reflections on the social context. Then, the quantitative study characterized the SR of violence against immigrants to natives. For this, an online questionnaire was applied to 189 natives from southern Brazil. The instrument was elaborated by the researcher, containing an evocation test, questions on a Likert scale (used for the construction of the IPI-autochthones) and sociodemographic data. Prototypical and statistical analyzes were carried out. The results indicated evidence of the relevance of the instrument, representational aspects related to the migratory experience, characteristics, meanings, feelings, motivations, definitions, daily issues, among others. It is noteworthy that the majority presented favorable perceptions of immigrants, however some variations pointed to the presence of stereotyped beliefs. Finally, the qualitative study aimed to describe and compare the SR on violence against immigrants for natives and immigrants. For this, interviews were carried out with 20 immigrants and 20 natives from the South region. The data were analyzed with the help of IRaMuTeQ and by content analysis. The results showed that the SR of violence against immigrants for natives and immigrants are related. Diverse beliefs, attitudes and representations were found in both groups, however among the natives negative characteristics, xenophobic comments, among other specificities, were more present. Most immigrants believe that Brazilians are against violence and brought more emotional elements and the consequences of violence. Furthermore, more natives said they had not been involved in conflicts with immigrants compared to the number of immigrants who reported never having suffered violence. The results were contextualized. It is concluded that violence against immigrants was represented by different social actors based on the construction of stereotypes and polarized discourses. There were narratives that demonstrated the dehumanization suffered by immigrants, with repercussions on mental health. Thus, interventions are considered necessary to reduce harm associated with violence. For this, it is relevant to understand this phenomenon in its entirety. Despite some limitations of the study, it is considered that this can contribute to new practices on the subject. Finally, further studies are suggested for greater empirical support for this research.