Havana em metamorfose: negros esclavos e colonos asiáticos, 1845-1876

Abstract

Esta dissertação investiga as transformações demográficas e sociais em Havana entre 1845 e 1876, tomando como fonte principal os registros batismais das igrejas de Santo Ángel Custodio e Jesús, María y José. O estudo analisa a reconfiguração do escravismo cubano na segunda metade do século XIX, período marcado pela crise do tráfico transatlântico de africanos, pela importação de trabalhadores chineses (coolies) e pela emergência de novas categorias jurídico-sociais como emancipados, libertos e ingênuos. Através de uma metodologia que articula a microanálise de registros paroquiais com a macroanálise das estruturas do sistema-mundo escravista, demonstra-se como a Igreja Católica funcionou simultaneamente como instrumento de controle colonial e espaço de negociação de identidades. Os resultados revelam: a persistência de batismos de africanos ilegais (bozales) após a Ley Penal de 1845; a assimilação de coolies chineses à lógica escravista mediante cristianização e apagamento de parentesco; e o impacto demográfico da Lei de Ventres Livres (1870) nos registros de crianças ingênuas. Conclui-se que o escravismo cubano não entrou em colapso passivo, mas se reinventou através de estratégias jurídicas, religiosas e trabalhistas que articularam trabalho cativo, semilivre e livre em uma mesma estrutura de exploração. A pesquisa contribui para historiografias da escravidão atlântica ao integrar as diásporas africana e asiática em uma análise conjunta, evidenciando como as macroestruturas do capitalismo global se materializavam nas práticas cotidianas de Havana.

Abstract: This dissertation investigates the demographic and social transformations in Havana between 1845 and 1876, using as its primary source the baptismal records of the churches of Santo Ángel Custodio and Jesús, María y José. The study analyzes the reconfiguration of Cuban slavery in the second half of the 19th century, a period marked by the crisis of the transatlantic African slave trade, the importation of Chinese laborers (coolies), and the emergence of new legal and social categories such as emancipated, freed, and ingénuos (ingenues). Using a methodology that combines the microanalysis of parish records with the macroanalysis of the structures of the slave world-system, it demonstrates how the Catholic Church simultaneously functioned as an instrument of colonial control and a space for identity negotiation. The results reveal: the persistence of baptisms of illegal Africans (bozales) after the Penal Law of 1845; the assimilation of Chinese coolies into the logic of slavery through Christianization and the erasure of kinship; and the demographic impact of the Free Womb Law (1870) on the records of naive children. The study concludes that Cuban slavery did not passively collapse, but rather reinvented itself through legal, religious, and labor strategies that combined captive, semi-free, and free labor within a single structure of exploitation. This research contributes to historiographies of Atlantic slavery by integrating the African and Asian diasporas into a joint analysis, highlighting how the macrostructures of global capitalism materialized in everyday practices in Havana.