"O santo moderno é o santo social": a Conferência dos Religiosos do Brasil numa época de transição

Abstract

O objetivo desta pesquisa é analisar a atuação da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) a partir da segunda metade do século XX, num contexto de transição política, religiosa, econômica e social e o seu papel neste espaço de tensões. A metodologia adotada é qualitativa, com ênfase na análise documental, tendo como fonte principal a Revista Convergência, periódico oficial da CRB. A análise articula a produção da Revista Convergência com a bibliografia especializada sobre o catolicismo progressista, sendo orientada teoricamente pelas contribuições de Michel de Certeau, Pierre Bourdieu e Michel Foucault. De Certeau, parte-se da noção de práticas cotidianas como formas de resistência e invenção do espaço religioso. De Bourdieu, a noção de campo e de habitus é mobilizada para compreender as disputas de poder simbólico no interior da Igreja e entre seus agentes. De Foucault, emprega-se a análise das práticas discursivas e das tecnologias de subjetivação para interpretar como a CRB produziu modos específicos de espiritualidade e engajamento político, forjando novas formas de vida consagrada. A imigração das congregações europeias intensificadas a partir da década de 1920 trouxe ao Brasil uma grande quantidade de homens e mulheres consagrados que tinham como objetivo colaborar na expansão do catolicismo, ocupando espaços em que a Igreja estava ausente. A pesquisa evidencia como a CRB, pensada a partir de um alinhamento à centralização romana promovida por Pio XII desde sua fundação em 1954, estabelece-se nas décadas de 1960 a 1980, como um espaço de organização e promoção de um catolicismo comprometido com as demandas sociais. Nesse processo, a CRB animou setores eclesiais e sociais, dinamizou a presença dos religiosos e religiosas no espaço público e contribuiu para a conformação de uma espiritualidade social, engajada e crítica, expressa nas páginas da revista e nas práticas de seus protagonistas.

Abstract: The objective of this research is to analyze the role of the Conference of Religious of Brazil (CRB) from the second half of the twentieth century onward, within a context of political, religious, economic, and social transition, and its role in this space of tensions. The methodology adopted is qualitative, with an emphasis on documentary analysis, having as its main source Revista Convergência, the official periodical of the CRB. The analysis articulates the production of Revista Convergência with the specialized bibliography on progressive Catholicism, and is theoretically guided by the contributions of Michel de Certeau, Pierre Bourdieu, and Michel Foucault. From Certeau, the notion of everyday practices as forms of resistance and invention of religious space is employed. From Bourdieu, the notions of field and habitus are mobilized to understand disputes of symbolic power within the Church and among its agents. From Foucault, the analysis of discursive practices and technologies of subjectivation is applied to interpret how the CRB produced specific modes of spirituality and political engagement, forging new forms of consecrated life. The immigration of European congregations, intensified from the 1920s onward, brought to Brazil a large number of consecrated men and women whose aim was to contribute to the expansion of Catholicism, occupying spaces where the Church had been absent. The research shows how the CRB, originally conceived in alignment with the Roman centralization promoted by Pius XII since its foundation in 1954, established itself in the decades of the 1960s to 1980s as a space for organizing and promoting a Catholicism committed to social demands. In this process, the CRB animated ecclesial and social sectors, energized the presence of male and female religious in the public sphere, and contributed to shaping a social, engaged, and critical spirituality, expressed in the pages of the journal and in the practices of its protagonists.