Transmissão intergeracional: relações entre as lembranças de práticas parentais e a parentalidade paterna

Abstract

Um encontro com o passado é propiciado pelo momento do ciclo vital no qual sujeitos passam a assumir em sua vida o papel parental. Entende-se que muitos pais transmitem para a relação com seus filhos, suas vivências de infância, aspectos de sua própria história de criação. Portanto, a presente pesquisa teve como objetivo geral analisar as implicações de lembranças de práticas parentais sobre a parentalidade paterna em famílias com crianças de 3 a 11 anos. As hipóteses foram construídas, especialmente, com base na Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano de Urie Bronfenbrenner e no Modelo de Determinantes da Parentalidade de Jay Belsky, as quais compreendem o desenvolvimento humano e a relação parental de modo contextualizado. Neste estudo a transmissão intergeracional é analisada a partir da análise de lembranças de práticas parentais, considerando a relevância da memória enquanto um processo psicológico básico dos seres humanos. A parentalidade paterna é compreendida enquanto um processo relacional de interações entre a pai e filho (a). A pesquisa delinea-se como um estudo quantitativo e transversal, do tipo descritivo e correlacional. No Artigo 1 realizou-se uma revisão integrativa de literatura com o intuito de caracterizar o estado da arte sobre a transmissão intergeracional na parentalidade paterna, a partir da análise de estudos, nacionais e internacionais. Os achados apontam que os pais têm estabelecido uma relação mais próxima com os filhos quando comparado a gerações passadas. Foi verificado tanto continuidade de relações positivas entre gerações quanto de relacionamentos distantes entre pais e filhos, embora esses achados tenham sido apresentados em menor quantidade. Além disso, descontinuidades também foram constatadas, ou seja, alguns pais evitaram a reprodução de relacionamentos parentais conflituosos ou distantes vivenciados em sua própria infância. No Artigo 2, elaborado com o objetivo de analisar as implicações de lembranças de práticas parentais sobre a parentalidade paterna em famílias com crianças de 3 a 11 anos, foram conduzidas análises descritivas, de regressão linear e teste de variância com dados de 95 participantes da pesquisa. Os resultados indicaram correlações significativas entre lembranças de práticas parentais e as dimensões da parentalidade desenvolvida pelo pai. Lembranças de suporte emocional, por exemplo, parecem ser significativas à construção de uma relação parental de respeito ao outro, apoio e incentivo à expressão de emoções. Além disso, demonstraram associação, também significativa, entre níveis de escolaridade e o escore geral da parentalidade, ou seja, apresentou-se relação positiva com a parentalidade. De modo geral, os achados do artigo apontam que, em sua maioria, os participantes do estudo parecem buscar a promoção de uma parentalidade mais próxima e afetuosa com os filhos, ressignificando suas próprias histórias de criação. Os resultados desta dissertação reforçam a importância da elucidação de experiências contextuais, incluindo as lembranças da infância, para a efetivação de mudanças na parentalidade, além de contribuir nos estudos de uma temática investigada em menor escala com pais (homens), quando comparado a pesquisas com mães, reconhecendo o pai em seu papel também ativo e influente sobre o desenvolvimento infantil.

Abstract: An encounter with the past is provided by the moment in the life cycle in which subjects begin to assume the parental role in their lives. It is understood that many parents transmit their childhood experiences to their relationship with their children, aspects of their own upbringing history. Therefore, the present research had the general objective of analyzing the implications of memories of parenting practices on paternal parenting in families with children aged 3 to 11 years. The hypotheses were built, especially, based on Urie Bronfenbrenner's Bioecological Theory of Human Development and Jay Belsky's Model of Parenting Determinants, which understand human development and the parental relationship in a contextualized way. In this study, intergenerational transmission is analyzed from the analysis of memories of parenting practices, considering the relevance of memory as a basic psychological process of human beings. Paternal parenting is understood as a relational process of interactions between father and child. The research is outlined as a quantitative and cross-sectional, descriptive and correlational study. In Article 1, an integrative literature review was carried out in order to characterize the state of the art on intergenerational transmission in paternal parenting, based on the analysis of national and international studies. The findings indicate that parents have established a closer relationship with their children when compared to the past generations. Both continuity of positive relationships between generations and distant relationships between parents and children were verified, although these findings were presented in smaller quantities. In addition, discontinuities were also found, that is, some parents avoided reproducing conflicting or distant parental relationships experienced in their own childhood. In Article 2, prepared with the objective of analyzing the instructions of memories of parenting practices on paternal parenting in families with children aged 3 to 11 years, descriptive analysis, linear regression and variance test were conducted with data from 95 research participants. The results indicated significant correlations between memories of parenting practices and dimensions of parenting developed by the father. Emotional support memories, for example, seem to be significant for building a parental relationship of respect for the other, support and encouragement for the expression of emotions. In addition, they demonstrated an association, also significant, between levels of education and the general score of parenting, that is, there was a positive relationship with parenting. In general, the findings of the article point out that, for the most part, the study participants seem to seek to promote a closer and more affectionate parenting with their children, re-signifying their own creation stories. The results of this dissertation reinforce the importance of elucidating contextual experiences, including childhood memories, for the effectuation of changes in parenting, in addition to contributing to the studies of a theme investigated on a smaller scale with fathers, when compared to research with mothers, recognizing the father in his also active and influential role on child development.