Capacitismo na educação básica: reprodução e enfrentamentos por estudantes e profissionais de uma escola pública

Abstract

Esta pesquisa teve como foco a análise da (re)produção do capacitismo nas práticas educativas e pedagógicas, bem como as estratégias anticapacitistas voltadas para seu enfrentamento, a partir de narrativas de estudantes e profissionais do ensino fundamental, anos finais, em uma escola pública. Para tanto, estabelecemos quatro objetivos específicos: a) caracterizar a produção do conhecimento que relaciona o capacitismo na Educação, com base em artigos científicos e ensaios teóricos publicados em periódicos internacionais e nacional, no período de 2009 a 2020, que tenham enfoque na educação básica; b) identificar como o capacitismo é (re)produzido nas práticas pedagógicas no ensino fundamental, na educação básica, a partir dos relatos das/os profissionais de uma escola pública; c) identificar como o capacitismo é (re)produzido nas práticas pedagógicas, na educação básica, a partir dos relatos das/os estudantes de uma turma do ensino fundamental, anos finais, de uma escola pública; e d) investigar os elementos constituintes de práticas pedagógicas anticapacitistas no contexto escolar, a partir dos relatos de profissionais e estudantes. Metodologicamente, a pesquisa adotou uma abordagem qualitativa de natureza exploratória (MINAYO, 2002), seguindo o delineamento proposto por Donna Haraway (1995), alinhando-se aos estudos da deficiência em educação (VALLE; CONNOR, 2014; BAGLIERI et al., 2011) e aos estudos feministas da deficiência (GARLAND-THOMSON, 2002; KITTAY, 1999, 2011). No que tange aos procedimentos metodológicos, no artigo um, realizou-se uma revisão integrativa de literatura (COOPER, 1984), seguindo as etapas metodológicas propostas por Botelho et al. (2011), para buscar artigos científicos e ensaios teóricos em quatro bases de dados. Essa busca resultou na seleção de 32 trabalhos, que foram analisados por meio da análise de conteúdo (BARDIN, 2004). Em relação aos demais artigos que compõem a tese, empregaram-se técnicas como entrevistas semiestruturadas e observações com registros em diário de campo (NETO, 2002, MINAYO, 2008). Além disso, para obter informações sociodemográficas, utilizou-se um questionário. A análise das entrevistas e registros seguiu a abordagem de análise temática de Virginia Braun e Victoria Clarke (2006). Os resultados da pesquisa foram compilados em três artigos científicos. O primeiro, discute a revisão integrativa de literatura, explorando como o capacitismo é reproduzido na educação básica e destacando as contribuições das práticas educativas anticapacitistas. O segundo artigo, apresenta os relatos das/os profissionais da educação, em uma escola pública, abordando as barreiras estruturais, a falta de conhecimento sobre Atendimento Educacional Especializado/AEE, as práticas pedagógicas que perpetuam o capacitismo e àquelas com elementos anticapacitistas. O terceiro artigo, baseia-se nos depoimentos de estudantes, explorando suas percepções sobre o capacitismo e práticas com elementos anticapacitistas, além de discutir as diversas concepções de deficiência e a intersecção com outros marcadores sociais. Fica evidente, no término da pesquisa, que a opressão do capacitismo está presente nas práticas educativas e pedagógicas de professoras/es e profissionais. Contudo, há evidências de elementos anticapacitistas em algumas dessas práticas, ainda fragmentadas e sem consolidação na aplicabilidade coletiva de escola, apontando a urgência de que práticas anticapacitistas sejam incorporadas neste cotidiano.

Abstract: This research focused on the analysis of the (re)production of ableism in educational and pedagogical practices, as well as anti-ableist strategies aimed at addressing it, based on narratives from students and professionals in the final years of elementary education in a public school. To this end, we established four specific objectives: a) to characterize the production of knowledge that relates ableism in Education, based on scientific articles and theoretical essays published in international and national journals, from 2009 to 2020, with a focus on basic education; b) to identify how ableism is (re)produced in pedagogical practices in elementary education, based on the reports of professionals from a public school; c) to identify how ableism is (re)produced in pedagogical practices, in basic education, based on the reports of students from a final-year elementary school class in a public school; and d) to investigate the constituent elements of anti-ableist pedagogical practices in the school context, based on reports from professionals and students. Methodologically, the research adopted a qualitative, exploratory approach (MINAYO, 2002), following the design proposed by Dona Haraway (1995), aligning with studies of disability in education (VALLE; CONNOR, 2014; BAGLIERI et al., 2011) and feminist disability studies (GARLAND-THOMSON, 2002; KITTAY, 1999, 2011). Regarding methodological procedures, in the first article, an integrative literature review was conducted, (COOPER, 1984), following the methodological steps proposed by Botelho et al. (2011) to search for scientific articles and theoretical essays in four databases. This search resulted in the selection of 32 works, which were analyzed using content analysis (BARDIN, 2004). In the other articles composing the thesis, techniques such as semi-structured interviews and observations with field diary records were employed (NETO, 2002, MINAYO, 2008). Furthermore, a questionnaire was used to obtain sociodemographic information. The analysis of interviews and records followed the thematic analysis approach of Virginia Braun and Victoria Clarke (2006). The research results were compiled into three scientific articles. The first discusses the integrative literature review, exploring how ableism is reproduced in basic education and highlighting the contributions of anti-ableist educational practices. The second article presents the reports of education professionals in a public school, addressing structural barriers, the lack of knowledge about Specialized Educational Service/AEE, pedagogical practices that perpetuate ableism, and those with anti-ableist elements. The third article is based on student testimonials, exploring their perceptions of ableism and practices with anti-ableist elements, in addition to discussing the different conceptions of disability and the intersection with other social markers. At the end of the research, it becomes evident that the oppression of ableism is present in the educational and pedagogical practices of teachers and professionals. However, there is evidence of anti-ableist elements in some educational and pedagogical practices, still fragmented and without consolidation in the collective applicability of the school, pointing out the urgency for anti-ableist practices to be incorporated into this daily routine.