Abstract:
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Este trabalho analisa os impactos da intensificada rivalidade geopolítica entre Estados Unidos
(EUA) e China na política externa brasileira, com foco comparativo nos governos de Jair
Bolsonaro (2019-2022) e Luiz Inácio Lula da Silva (a partir de 2023). Investiga-se como cada
administração reagiu às pressões e oportunidades decorrentes dessa disputa, suas prioridades
estratégicas, a conciliação entre interesses econômicos e políticos, e os reflexos na inserção
internacional do Brasil em um contexto de transição hegemônica e crise do multilateralismo.
A pesquisa utiliza uma abordagem quali-quantitativa, fundamentada em revisão bibliográfica,
análise documental de discursos oficiais, posicionamentos do Itamaraty, notícias e dados
econômicos. O referencial teórico articula a Teoria da Interdependência Complexa de
Keohane e Nye, para examinar as múltiplas dimensões das relações do Brasil com EUA e
China, e a Teoria Crítica de Robert Cox, para interpretar as dinâmicas de poder, a crise
hegemônica e as diferentes estratégias de inserção internacional adotadas. As discussões
evidenciam que o governo Bolsonaro adotou uma retórica de alinhamento ideológico aos
EUA sob Trump e de crítica à China, embora o pragmatismo econômico, impulsionado pela
crescente interdependência, tenha limitado um rompimento completo com Pequim. Sua gestão
caracterizou-se por tensões diplomáticas com a China e um ceticismo em relação ao
multilateralismo, resultando em certa auto-marginalização internacional. Em contraste, o
governo Lula 3 promoveu uma reorientação, buscando a reinserção ativa do Brasil no cenário
global, aprofundando a parceria estratégica com a China e defendendo a reforma da
governança global. Com os EUA, inicialmente reconstruiu laços com base em valores
democráticos, mas demonstrou autonomia em temas sensíveis e frente a medidas
protecionistas. A crise do multilateralismo foi enfrentada com retraimento por Bolsonaro e
com engajamento reformista por Lula 3. Os resultados indicam que a política externa de
Bolsonaro, apesar do alinhamento discursivo com os EUA, resultou em ganhos limitados e
custos à autonomia estratégica, sendo a interdependência econômica com a China um fator de
moderação. A política externa de Lula 3 busca ativamente diversificar parcerias, reforçar o
multilateralismo e utilizar a relação com a China como pilar para o desenvolvimento e
projeção internacional, mantendo autonomia e diálogo com os EUA. Conclui-se que a
capacidade do Brasil de navegar a rivalidade EUA-China e preservar seus interesses é
significativamente influenciada pela orientação estratégica do governo, com a abordagem de
Lula 3 demonstrando um esforço para maximizar a margem de manobra do país. |