Transformando o mundo numa obra de arte: Rilke e a função redentora da arte em um mundo desencantado

Abstract

Esta pesquisa investiga as intersecções entre literatura e sociologia a partir da análise da obra de Rainer Maria Rilke e das contribuições teóricas de Max Weber e Pierre Bourdieu. O estudo parte do pressuposto de que a modernidade, marcada por processos como o desencantamento do mundo, a racionalização e a secularização, alterou profundamente as formas de expressão artística e a experiência subjetiva do ser humano. Nesse contexto, busca-se compreender como a poesia rilkeana se posiciona diante das transformações modernas e em que medida ela propõe alternativas para lidar com a perda do sagrado e com a fragmentação da experiência. A partir da teoria de Weber, especialmente de sua formulação sobre o desencantamento do mundo, analisa-se como a progressiva racionalização da sociedade ocidental resultou na exclusão de dimensões simbólicas e metafísicas da vida cotidiana. Este fenômeno se reflete em obras como As Elegias de Duíno e Sonetos a Orfeu, nas quais Rilke explora a tensão entre a finitude humana e a busca por um sentido transcendente. Sua poesia, assim, emerge como uma tentativa de reencantar o mundo, afirmando a arte como um espaço em que o sublime ainda pode se manifestar, mesmo diante da frieza e da impessoalidade modernas. No campo da sociologia da literatura, a pesquisa mobiliza as contribuições de Pierre Bourdieu para investigar o posicionamento de Rilke no campo literário do início do século XX. A partir de conceitos como habitus e autonomia do campo, discute-se como a obra do poeta dialoga com as estruturas simbólicas de sua época e resiste às convenções culturais dominantes, sem, no entanto, isolar-se das tensões próprias da modernidade. Por fim, o estudo também estabelece um diálogo com a tradição romântica, especialmente com a Frühromantik, evidenciando a influência de autores como Novalis, Schlegel e Tieck na concepção de Rilke sobre a arte. Diferentemente dos românticos clássicos, porém, Rilke propõe um transcendentalismo estético, no qual a experiência artística ocupa o lugar de mediação entre o humano e o inatingível. Conclui-se, assim, que sua obra oferece uma via poética e reflexiva para repensar a relação entre arte, subjetividade e transcendência em um mundo desencantado.

Abstract: This research explores the intersections between literature and sociology through the analysis of Rainer Maria Rilke's work and the theoretical contributions of Max Weber and Pierre Bourdieu. The study starts from the premise that modernity ? characterized by processes such as disenchantment, rationalization, and secularization ? has profoundly altered artistic expression and the subjective human experience. In this context, the aim is to understand how Rilke?s poetry responds to modern transformations and proposes alternatives to deal with the loss of the sacred and the fragmentation of human experience. Drawing on Weber?s theory, particularly his concept of disenchantment of the world, the analysis focuses on how the progressive rationalization of Western society resulted in the exclusion of symbolic and metaphysical dimensions from everyday life. This phenomenon is reflected in works such as The Duino Elegies and Sonnets to Orpheus, where Rilke explores the tension between human finitude and the search for transcendental meaning. His poetry thus emerges as an attempt to re-enchant the world, affirming art as a space where the sublime can still manifest itself amid the coldness and impersonality of modern life.In the field of literary sociology, the research mobilizes Pierre Bourdieu?s contributions to investigate Rilke?s position in the early 20th-century literary field. Through concepts such as habitus and field autonomy, the study discusses how the poet's work engages with the symbolic structures of his time and resists dominant cultural conventions, while remaining immersed in the inherent tensions of modernity. Finally, the study establishes a dialogue with the Romantic tradition, especially with the Frühromantik, highlighting the influence of authors such as Novalis, Schlegel, and Tieck in Rilke's conception of art. However, unlike classical Romantics, Rilke proposes an aesthetic transcendentalism in which artistic experience becomes a mediation between the human and the unattainable. Thus, his work offers a poetic and reflective path to rethink the relationship between art, subjectivity, and transcendence in a disenchanted world.