"O retrato de um Apocalipse": o romance Não verás país nenhum de Ignácio de Loyola Brandão a partir da análise da História Ambiental

Abstract

Esta dissertação tem por objetivo geral analisar o romance distópico Não verás país nenhum de Ignácio de Loyola Brandão a partir da História Ambiental em uma perspectiva global, discutindo o diálogo estabelecido pelo escritor entre o contexto histórico do regime militar brasileiro (1964-1985) e o mundo criado na narrativa. Não verás país nenhum foi publicado em 1981 e narra a história de um professor universitário que foi aposentado por um regime autoritário e que vive em um futuro não determinado e catastrófico, especialmente no que tange às questões socioambientais. Algumas das questões socioambientais abordadas são: desertificação da Amazônia, seca dos rios brasileiros, disseminação de doenças, fome, produção de alimentos artificiais e calor extremo. Para realizar a pesquisa utilizando uma obra literária como fonte histórica, utilizamos as reflexões sobre literatura do crítico literário Terry Eagleton (2006, 2017) e dos historiadores Julio Bentivoglio e Kelly Andrade (2023). Ao trabalhar com a projeção de futuro utilizamos a noção de imaginários sociais, a partir dos trabalhos do economista e sociólogo Enrique Leff (2016) e dos filósofos Cornelius Castoriadis (2000) e Bronislaw Baczko (1985), que possibilitaram a interpretação das questões socioambientais presentes na obra analisada. As principais fontes utilizadas na pesquisa, além do romance distópico Não verás país nenhum, foram: o diário de escrita de Ignácio de Loyola Brandão, fornecido pelo próprio escritor; obras citadas no diário, como A Selva Amazônica: do Inferno Verde ao Deserto Vermelho; e duas entrevistas, uma realizada pelo Instituto Moreira Salles para a 11ª edição do Cadernos de Literatura (IMS, 2001), e outra pela historiadora Vera Lúcia Silva Vieira, intitulada Ignácio de Loyola Brandão: memória e literatura, a escrita como exercício da indignação (Brandão, 2011). A dissertação foi dividida em três seções principais: a primeira tem como foco a desertificação da Amazônia imaginada na obra a partir do contexto vivenciado e acessado pelo escritor; a segunda analisa as questões socioambientais representadas na obra como: lixo, água, calor, desigualdade social, alimentação e saúde; a terceira visa compreender como a trajetória do escritor e jornalista possibilitou a criação da obra analisada. Por meio da pesquisa foi possível compreender e demonstrar que a projeção de futuro em Não verás país nenhum se deu pela vivência do escritor, especialmente durante o regime militar brasileiro, e pelos distintos materiais que acessou e pesquisou, uns buscados por ele mesmo e outros indicados por amigos e colegas. Além disso, a Amazônia aparece na narrativa distópica como uma questão central ao ponto de sua desertificação ser apontada como causa das questões socioambientais vivenciadas pelos personagens, o que dialoga com a produção científica e jornalística acessada por Ignácio de Loyola Brandão.

Abstract: The general aim of this dissertation is to analyze Ignácio de Loyola Brandão's dystopian novel And Still the Earth from an environmental history and global perspective, discussing the dialogue established by the writer between the historical context of the Brazilian military dictatorship (1964-1985) and the world created in the narrative. And Still the Earth was published in 1981 and tells the story of a university professor who has been forced into retirement by an authoritarian regime and who lives in an undetermined and catastrophic future, especially when it comes to socioenvironmental issues. Some of the socioenvironmental issues addressed are desertification of the Amazon, drought of Brazilian rivers, the spread of disease, hunger, artificial food production and extreme heat. To carry out the research using a literary work as a historical source, we used the reflections on literature by literary critic Terry Eagleton (2006, 2017) and historians Julio Bentivoglio and Kelly Andrade (2023). When working with the projection of the future, we used the notion of social imaginaries, based on the work of economist and sociologist Enrique Leff (2016) and philosophers Cornelius Castoriadis (2000) and Bronislaw Baczko (1985), which made it possible to interpret the socioenvironmental issues present in the work analyzed. The main sources used in the research, apart from the dystopian novel And Still the Earth were: Ignácio de Loyola Brandão's writing diary, provided by the writer himself; works cited in the diary, such as Amazon jungle: green hell to red desert?; and two interviews, one conducted by the Moreira Salles Institute for the 11th edition of Cadernos de Literatura (IMS, 2001), and the other by historian Vera Lúcia Silva Vieira, entitled Ignácio de Loyola Brandão: memory and literature, writing as an exercise of indignation (Brandão, 2011). The dissertation was divided into three main sections: the first focuses on the desertification of the Amazon imagined in the work from the context experienced and accessed by the writer; the second analyzes the socioenvironmental issues represented in the work, such as garbage, water, heat, social inequality, food and health; the third aims to understand how the trajectory of the writer and journalist made it possible to create the work analyzed. Through the research, it was possible to understand and demonstrate that the projection of the future in And Still the Earth was due to the writer's experience, especially during the Brazilian military dictatorship, and the different materials he accessed and researched, some of which he sought out himself and others indicated by friends and colleagues. In addition, the Amazon appears in the dystopian narrative as a central issue to the point where its desertification is identified as the cause of the socioenvironmental issues experienced by the characters, which dialogues with the scientific and journalistic production accessed by Ignácio de Loyola Brandão.