Cuidados de enfermagem na perspectiva da segurança: estudo de métodos mistos a partir da experiência do paciente internado por COVID-19

Abstract

O envolvimento do paciente tem potencial para contribuir para uma assistência mais segura. A pandemia da COVID-19 gerou impactos econômicos, sociais e políticos e trouxe mudanças na infraestrutura e práticas assistenciais da enfermagem. Dessa forma, pergunta-se: Qual a experiência do paciente internado por COVID-19, em relação ao cuidado de enfermagem, na perspectiva da sua segurança? Para responder a essa pergunta foi realizada uma revisão de escopo com o objetivo de identificar os fatores que impactaram a experiência de pacientes hospitalizados durante a pandemia e delineada uma pesquisa de métodos mistos incorporada concomitante, buscando analisar a experiência do paciente internado por COVID-19, em relação ao cuidado de enfermagem, na perspectiva da segurança, em hospitais universitários brasileiros. Nove hospitais brasileiros participaram da pesquisa. Um estudo transversal foi desenvolvido para descrever os fatores que contribuem para a segurança, usando o questionário Patient Measure of Safety (PMOS). Os dados foram analisados por meio de estatísticas descritivas e inferencial. Um estudo qualitativo descritivo-exploratório orientado pela Técnica do Incidente Crítico foi elaborado para identificar as experiências dos pacientes. Foi realizada análise temática e as categorias foram definidas durante o processo de análise. Para a etapa de integração dos resultados foi realizada análise de conteúdo utilizando o referencial Yorkshire Contributory Factors Framework. Os fatores que contribuíram para a segurança do paciente foram associados à comunicação (média 4.14; DP 0.53) e ao trabalho em equipe (média 4.10; DP 0.72). Contudo, os fatores que precisam de atenção e foram percebidos como menos favoráveis à segurança do paciente foram relacionados ao fluxo da informação (média 3,61; DP 0,67), e a atribuições e responsabilidades da equipe (média 3,79; DP 0,80). A idade, raça, nível educacional, local de residência, número de sintomas e necessidade de cuidados intensivos foram estatisticamente associados à percepção de segurança dos pacientes. A partir da análise temática, as experiências dos pacientes internados estavam relacionadas a aspectos emocionais, como sentimento de insegurança e ansiedade. Os pacientes também notaram os aspectos de organização e gestão do hospital, como falta de monitoramento de enfermagem, carga de trabalho da equipe, atrasos no atendimento e infraestrutura precária. As fases quantitativa e qualitativa convergiram, permitindo uma compreensão detalhada dos motivos representados nas pontuações do PMOS. Assim como os pacientes com respostas discrepantes são identificados no PMOS, as exceções nas experiências dos pacientes também são reconhecidas, especialmente em relação ao tratamento recebido dos profissionais de saúde, aos cuidados da equipe de enfermagem e à comunicação. A comunicação foi identificada como tendo uma função dupla na segurança, tanto como um elemento contribuinte quanto como um fator que pode comprometer a segurança do paciente. Os pacientes mostraram ser boas fontes de informações quanto aos cuidados de enfermagem e segurança do paciente, permitindo inferências quanto à qualidade da assistência. Os resultados desta pesquisa têm o potencial de impulsionar avanços nas práticas de segurança do paciente e na promoção do envolvimento dos pacientes em sua própria segurança, especialmente em um cenário de crise sanitária. Esta pesquisa pode estimular novas discussões e incentivar investigações adicionais neste campo do conhecimento.

Abstract: Patient involvement has the potential to contribute to safer care. The COVID-19 pandemic has had an economic, social, and political impact and has led to changes in care infrastructure and practice. The question therefore arises: What are the experiences of patients hospitalized for COVID-19 in terms of care from a safety perspective? To answer this question, a scoping review was conducted to identify the factors that impacted the experience of hospitalized patients during the pandemic, and a concurrent nested mixed-methods study was designed to analyze the experience of patients hospitalized for COVID-19, in terms of nursing care, from the perspective of safety, in Brazilian university hospitals. Nine Brazilian hospitals participated in the study. A cross-sectional study was conducted to describe the factors that contribute to safety, using the Patient Measure of Safety (PMOS) questionnaire. Data were analyzed using descriptive and inferential statistics. A descriptive-exploratory qualitative study guided by the Critical Incident Technique was designed to identify patients' experiences. Thematic analysis was performed, and categories were defined during the analysis process. Content analysis using the Yorkshire Contributory Factors Framework was used to integrate the findings. The factors that contributed to patient safety were associated with communication (mean 4.14; SD 0.53) and teamwork (mean 4.10; SD 0.72). However, the factors requiring attention and perceived as less favorable to patient safety were related to the information flow (mean 3.61; SD 0.67), and team roles and responsibilities (mean 3.79; SD 0.80). Age, race, education level, place of residence, number of symptoms, and need for intensive care were statistically associated with patients' perceptions of safety. The thematic analysis revealed that inpatient experiences were related to emotional aspects, such as feelings of insecurity and anxiety. Patients also noted aspects of hospital organization and management, such as lack of nursing supervision, staff workload, delays in care, and poor infrastructure. The quantitative and qualitative phases converged, allowing a detailed understanding of the reasons represented in the PMOS scores. Just as patients with discrepant responses are identified in the PMOS, exceptions in patients' experiences are also recognized, especially in relation to the treatment received from healthcare professionals, the care provided by nursing staff, and communication. Communication was identified as having a dual role in safety, both as a contributing element and as a factor that can compromise patient safety. Patients were found to be a good source of information about care and patient safety, which can be used to infer the quality of care. The results of this research have the potential to drive advances in patient safety practices and to promote patient involvement in their own safety, especially in a health crisis scenario. This research can stimulate new discussions and encourage further research in this area of knowledge.