Seres sencientes e o dano da morte

Abstract

Esta dissertação contribui para responder, principalmente, a três problemas filosóficos: (1) A morte pode ser um dano para quem morre? (2) Se sim, o que determina a magnitude desse dano? (3) Como avaliar o dano da morte de diferentes seres sencientes? O primeiro capítulo aborda o primeiro desses problemas, avaliando os principais argumentos em favor da tese epicurista de que a morte nunca é um dano para quem morre. A partir da análise desses argumentos, conclui-se que não há boas razões para negar que a morte possa ser um dano. O segundo capítulo examina a Abordagem Comparativa da Vida, de acordo com a qual a morte é um dano para quem morre porque, e na medida em que, o priva de um futuro que teria sido bom para ele. O terceiro capítulo analisa a Abordagem do Interesse Relativo ao Tempo, que mantém que a magnitude do dano da morte depende não apenas do valor do futuro que o indivíduo é privado de viver ao morrer, mas também da força das relações de unidade prudencial que vinculariam o indivíduo no momento da morte com ele próprio nos momentos futuros em que usufruiria dos bens, sendo a força dessas relações determinada, sobretudo, pelo grau de unidade psicológica. Ao discutir essas abordagens, suas implicações para avaliar a morte de diferentes seres sencientes são analisadas. Além disso, objeções a essas abordagens são consideradas e novas objeções são formuladas, argumentando que ambas as abordagens enfrentam problemas. Assim, por um lado defende-se que não há boas razões para afirmar que a morte não pode ser um dano; por outro, sustenta-se que as duas abordagens mais influentes da literatura filosófica sobre o dano da morte estão suscetíveis a sérios problemas. Disso segue-se uma das principais conclusões desta dissertação: a de que há a necessidade teórica de uma nova abordagem do dano da morte que seja uma alternativa viável às abordagens existentes. O último capítulo visa fornecer tal abordagem ? ou, ao menos, o desenvolvimento inicial dela. A ideia central dessa nova proposta é reformular a Abordagem do Interesse Relativo ao Tempo reconhecendo a existência de duas relações de unidade prudencial como igualmente relevantes: identidade numérica e unidade psicológica. Isso fornece uma nova estrutura teórica para avaliar a morte de seres sencientes que, argumenta-se, é melhor embasada e evita os problemas centrais da versão original da abordagem sem minar suas virtudes.

Abstract: This Master?s thesis contributes to answering, mainly, three philosophical problems: (1) Can death be a harm to the one who dies? (2) If so, what determines the magnitude of this harm? (3) How should we evaluate the harm of death for different sentient beings? The first chapter addresses the first problem, evaluating the main arguments in favor of the Epicurean thesis that death is never a harm to the one who dies. Based on the analysis of these arguments, it is concluded that there are no good reasons to deny that death can be a harm. The second chapter examines the Life Comparative Account, which holds that death is harmful to the one who dies because, and to the extent that, it deprives one of a future that would have been good for one. The third chapter analyzes the Time-Relative Interest Account, which argues that the magnitude of the harm of death depends not only on the value of the future the individual is deprived of by death but also on the strength of the prudential unity relations that would have bound the individual at the time of death to themselves at future times when they would have enjoyed those goods. The strength of these relations is primarily determined by the degree of psychological unity. By exploring these accounts, their implications for evaluating the deaths of different sentient beings are analyzed. Additionally, objections to these accounts are examined, and new objections are formulated, arguing that there are compelling objections to both accounts. Thus, on the one hand, it is defended that there are no good reasons to claim that death cannot be a harm; on the other, it is argued that the two most influential accounts of the philosophical literature on the harm of death have serious shortcomings. From this, one of the thesis? main conclusions follows: there is a theoretical need for a new account of the harm of death that presents itself as a viable alternative to the existing accounts. The final chapter aims to provide such an account?or at least its initial development. The central idea of this proposed new account is to reformulate the Time-Relative Interest Account by recognizing the existence of two prudential unity relations as equally relevant: numerical identity and psychological unity. This provides a new framework for evaluating the deaths of sentient beings that, it is argued, is better grounded and avoids the central problems of the original version of the account without undermining its virtues.