Ramon de Baños: memórias, cinema pioneiro e colonialismo

Abstract

O ?cameraman español? Ramon de Baños nos aporta duas fontes documentais, uma literária e outra cinematográfica, que permitem pensar no cinema como ferramenta na perpetuação, no início do século XX, de uma visão colonialista da América a partir da perspectiva europeia. A passagem de Baños pela Amazônia brasileira de 1911 a 1913 como tomador de vistas do incipiente cinema está relatada na autobiografia Notas íntimas de un ?cameraman? español. Quando regressa à Europa, participa, em 1916, das filmagens de Vida de Cristóbal Colón y su descubrimiento de América, superprodução franco-catalã considerada a primeira cinebiografia do navegador genovês em longa metragem do cinema mundial. Entender o cinema pioneiro como instrumento para a manutenção do pensamento colonial a partir dos relatos e das filmagens de Ramon de Baños nos leva a uma alteridade construída à base de subalternidade do não europeu, e o lugar que lhes cabe ocupar (ou não) na sociedade; uma relação que inclui, também, valores e escalas sociais bem definidas e que perdura mesmo passados quatro séculos de colonização.

Abstract: The Spanish cameraman Ramon de Baños provides us with two documentary sources, one literary and the other cinematographic, which allow us to think of cinema as a tool in the perpetuation, at the beginning of the 20th century, of a colonialist vision of America from a European perspective. Baños' time in the Brazilian Amazon from 1911 to 1913 as a viewer of the incipient cinema is recounted in his autobiography Notas íntimas de un ?cameraman? español. When he returned to Europe, in 1916 he took part in the filming of Vida de Cristóbal Colón y su descubrimiento de América, a Franco-Catalan super-production considered to be the first feature-length film biography of the Genoese navigator in world cinema. Understanding pioneering cinema as an instrument for maintaining colonial thinking, based on Ramon de Baños' accounts and filming, leads us to an alterity built on the basis of the subalternity of non-Europeans, and the place they have to occupy (or not) in society; a relationship that also includes well-defined social values and scales, and which persists even after four centuries of colonisation.