Fatores preditivos de sintomas depressivos e ansiosos em pacientes com epilepsia mesial temporal associada à esclerose do hipocampo refratária ao tratamento farmacológico

Abstract

Depressão e ansiedade são sintomas mais frequentes em pacientes com epilepsia do que na população em geral. Há vários estudos na literatura investigando fatores demográficos e clínicos preditivos de diagnóstico de ansiedade e depressão em pacientes com epilepsias em geral, sem controlar a concomitância destes sintomas afetivos no mesmo paciente. Neste estudo investigamos variáveis demográficas e clínicas preditivas independentes de sintomas ansiosos e depressivos, controlando para a variação destes sintomas ocorrendo concomitantemente num mesmo paciente. Este estudo exploratório incluiu 94 adultos com epilepsia refratária do lobo temporal mesial associada à esclerose do hipocampo (ELTM-HS) unilateral resistentes ao tratamento farmacológico submetidos à investigação pré-cirúrgica no Centro de Cirurgia de Epilepsia de Santa Catarina (CEPESC) entre outubro de 2008 e março de 2014. As variáveis dependentes foram as pontuações na Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HADS-A e HADS-D). Análises univariadas e regressões lineares múltiplas foram realizadas para identificar variáveis demográficas e clínicas, independentemente associadas aos escores de HADS-A e HADS-D (variáveis dependentes). A média de idade da amostra foi 36 anos, 54% eram mulheres, 40% solteiros, 19% desempregados, 46% tinham esclerose do hipocampo esquerdo, 39% estavam em monoterapia, 54% tiveram diagnóstico psiquiátrico (11% transtorno de ansiedade, 24% transtorno depressivo), a escolaridade média foi de 7 anos, a idade média de início da doença foi 13 anos e o tempo de doença 23 anos. Os pacientes apresentavam em média 7 crises epilépticas com perda de consciência ao mês. Observamos uma forte associação (r = 0,62 e r2 = 0,38) entre sintomas ansiosos e depressivos entre si, independentemente da distribuição das demais variáveis. A única variável clínico-demográfica significativamente associada a HADS-A foi atividade laboral (r2 = 0,05) sendo os escores maiores nos pacientes desempregados. As variáveis clínico-demográficas independentemente e positivamente associadas à HADS-D foram o sexo feminino e baixo nível educacional, que combinadas explicam 11% da variação dos sintomas. Concluindo, variáveis demográficas e clínicas predizem respectivamente apenas 5% e 11% da variação dos sintomas ansiosos e depressivos em pacientes com ELTM-EH refratários ao tratamento farmacológico. Sintomas ansiosos e depressivos são muito frequentemente observados em concomitância nos pacientes com ELTM-EH e predizem-se mutuamente independentemente de variáveis clínicas (38% da variação das escalas HADS-A e HADS-D). Os achados podem ter impacto na elaboração de modelos preditivos envolvendo diagnósticos categóricos de ansiedade e depressão em pacientes com epilepsia usando DSM-V, particularmente para pacientes que apresentem ambos os sintomas afetivos.

Abstract: Depression and anxiety are more frequent symptoms in patients with epilepsy than in the general population. Several studies in the literature have investigated demographic and clinical predictors of anxiety and depression diagnoses in patients with epilepsy in general, without accounting for the coexistence of these affective symptoms in the same patient. This study aimed to identify independent demographic and clinical predictors of anxiety and depressive symptoms while controlling for their simultaneous occurrence in the same individual. This exploratory study included 94 adults with unilateral mesial temporal lobe epilepsy associated with hippocampal sclerosis (MTLE-HS) who were resistant to pharmacological treatment and underwent pre-surgical evaluations at the Epilepsy Surgery Center of Santa Catarina (CEPESC) between October 2008 and March 2014. The dependent variables were the scores on the Hospital Anxiety and Depression Scale (HADS-A and HADS-D). Univariate analyses and multiple linear regression models were applied to identify demographic and clinical variables independently associated with HADS-A and HADS-D scores. The patients had a mean age of 36 years; 42% were male, 40% were single, 19% were unemployed, 46% had left hippocampal sclerosis, 39% were on monotherapy, and 54% had a psychiatric diagnosis (11% anxiety disorder, 24% depressive disorder). The average level of education was seven years, the mean age at disease onset was 13 years, and the mean disease duration was 23 years. Patients experienced an average of seven epileptic seizures with loss of consciousness per month. A strong association (r = 0.62, r² = 0.38) was observed between anxiety and depressive symptoms, regardless of the distribution of other variables. The only clinical-demographic variable significantly associated with HADS-A was employment status (r² = 0.05), with higher scores observed in unemployed patients. The clinical-demographic variables independently and positively associated with HADS-D were female sex and low educational level, which together explained 11% of the variation in depressive symptoms. In conclusion, demographic and clinical variables accounted for only 5% and 11% of the variance in anxiety and depressive symptoms, respectively, in patients with drug resistant MTLE-HS. Anxiety and depressive symptoms frequently co-occur in MTLE-HS patients and predict each other independently of clinical variables (38% of the variance in HADS-A and HADS-D scores). These findings may have implications for the development of predictive models for categorical diagnoses of anxiety and depression in epilepsy patients based on DSM-V criteria, particularly in those presenting both affective symptoms.