O fenômeno urban sketchers em fragmentos: anacronismo da imagem e (micro)territórios globais

Abstract

Essa tese aborda o Urban Sketchers (USk), um fenômeno global desde o fim dos anos 2000, quando o jornalista e ilustrador espanhol Gabi Campanario, de Seattle, criou um perfil no Blogger para o compartilhamento de desenhos in loco. Com seguidores convidados a fazer o mesmo, surgiu um movimento homônimo, que hoje é formalizado e coordenado por uma equipe internacional que promove o desenho urbano ao redor do mundo, a todos quanto possível, através de encontros locais, regionais e de um simpósio internacional anual, além de promover atividades como workshops em formatos on-line e presencial. A hipótese do trabalho é a de que os desenhos produzidos pelos sketchers possibilitam ler as cidades a partir de seus fragmentos, que são representados de forma intersubjetiva diante do tempo e diante do espaço, ou seja, dando a ver uma consciência de globalidade e heterogeneidade temporal que pode ser explorada por uma análise historiográfica atenta à Antropologia do visual, ao Anacronismo da imagem e à Sociologia das cidades. Assim, esse trabalho rompe com delimitações geográficas mais rígidas, destacando os alcances, conexões entrelaçamentos entre realidades locais, unidades menores, e realidades globais, grande parte em função da internet, e trânsitos de imagens e pessoas através do urban sketching, no qual a abordagem da História Global mostra-se útil. A análise das imagens produzidas pelos sketchers são pensadas através da Antropologia do visual, com base no pensamento de Georges Didi-Huberman e seus interlocutores, que permitem também refletir sobre questões de representação e produção de presença a partir de Hans Gumbrecht. Seguindo pelo conceito de anacronismo das imagens, se propõe extrapolar o atrelamento dos objetos artísticos ao seu contexto histórico, sendo demonstradas as sobrevivências de visualidades e práticas do passado artístico no presente do fenômeno, posicionando o Urban Sketchers não no tempo, mas diante do tempo, onde fragmentos temporais se encontram. Essa atualidade se dá nas cidades contemporâneas, locus dos urban sketchers, que são apresentadas através de seus fragmentos espaciais, os (micro)territórios. A partir de conceitos da Sociologia das Cidades, com base em Carlos Fortuna, são observadas as experiências de vivência urbana, da caminhada, da serendipidade, da territorialização dos espaços vivenciados e do despertamento crítico para realidades sociais da urbe, como o aceleracionismo, o individualismo e a espetacularização. Assim, sendo contemporâneos, tal qual Giorgio Agamben o define, os urban sketchers resistem às brutalidades da cidade atualizando práticas dos tipos urbanos do passado como o flâneur e o trapeiro. As fontes de pesquisa do trabalho são principalmente as postagens do blog oficial USk, fragmentos de experiências narradas ao redor do mundo pelos sketchers, além de algumas páginas pessoais ou coletivas de sketchers nas redes sociais e entrevistas realizadas durante estágio doutoral no exterior. Tem-se, assim, um trabalho de organização de um extenso material e uma análise no campo da História da Arte, com auxílio de outras disciplinas, sobre esse massivo fenômeno contemporâneo.

Abstract: This thesis deals with Urban Sketchers (USk), a global phenomenon since the late 2000s, when the Spanish journalist and illustrator Gabi Campanario from Seattle created a profile on Blogger to share drawings on the spot. With followers invited to do the same, a movement of the same name was born, now formalised and coordinated by an international team that promotes urban sketching around the world, as widely as possible, through local and regional meetings and an annual international symposium, as well as promoting activities such as workshops in online and face-to-face formats. The hypothesis of the work is that the drawings produced by the sketchers make it possible to read cities from their fragments, represented intersubjectively in time and space, in other words with an awareness of globality and temporal heterogeneity that can be explored through a historiographical analysis attentive to the anthropology of the visual, the anachronism of the image and the sociology of cities. In this way, the work breaks with more rigid geographical demarcations, highlighting the scope, connections and entanglements between local realities, smaller units and global realities, largely due to the Internet, and the transits of images and people through urban sketching, in which the Global History approach proves useful. The images produced by the sketchers are analysed through the anthropology of the visual, based on the thinking of Georges Didi-Huberman and his interlocutors, which also allows us to reflect on issues of representation and the production of presence based on Hans Gumbrecht. Following the concept of the anachronism of images, it is proposed to extrapolate the connection of artistic objects to their historical context, demonstrating the survival of visualities and practices from the artistic past in the present of the phenomenon, positioning Urban Sketchers not in time but before time, where temporal fragments meet. This actuality takes place in contemporary cities, the site of the urban sketchers, which are presented through their spatial fragments, the (micro)territories. Using concepts from the sociology of the city, based on the work of Carlos Fortuna, we look at the experience of urban life, walking, serendipity, the territorialisation of the spaces experienced and the critical awakening to the social realities of the city, such as accelerationism, individualism and spectacularisation. Being contemporary, as Giorgio Agamben defines it, urban sketchers resist the brutalities of the city by updating the practices of past urban types such as the flâneur and the ragamuffin. The research sources for this work are mainly posts on the official USk blog, fragments of experiences narrated by sketchers around the world, as well as some personal or collective sites. The study's research sources are mainly posts on the official USk blog, fragments of experiences told by sketchers around the world, as well as some personal or collective sketchers' pages on social networks and interviews conducted during a doctoral internship abroad. The result is a work that organises extensive material and analyses this massive contemporary phenomenon in the field of art history, with the help of other disciplines.