O teatro de Heidegger: uma narrativa trágica da história em diálogo com o idealismo alemão

Abstract

O objetivo deste trabalho é fazer ver uma narrativa trágica da história em Heidegger em diálogo com o idealismo alemão. Desse modo, defendemos que a história em Heidegger, entre os anos 1930 a 1946, pode ser pensada tendo como guia a noção de trágico, retirada de suas referências ao tema e leituras da tragédia, e em diálogo com o idealismo alemão, especificamente Hegel e Hölderlin, que possuem seus pensamentos da história ligados a esse tema. Dessa relação, nos contrapomos ao trágico pensado como dialética - tese de Szondi a partir de Hegel -, sustentando a alétheia como noção ambígua e paradoxal que pode ser vista enquanto trágica na especificidade de seu conflito. Dessas premissas, desenvolvemos, a partir de Heidegger, uma narrativa que abarca elementos da poética de Aristóteles e da poetológica de Hölderlin, bem como um roteiro ?edípico? que se desenvolve a partir do léxico de Heidegger para pensar a história. A narrativa trágica, em Heidegger, ao nosso ver, mostra-se satisfatória para refletir uma concepção ambígua e paradoxal da história, com influência de Hölderlin e em conflito com o pantragismo de Hegel. Mais especificamente, essa narrativa trágica da história se mostra em afinidade com o pensamento da cesura em Hölderlin e em conflito com o roteiro especulativo sacrificial da dialética hegeliana. Para concluir, propomos que Heidegger ressignifica o trágico na história ao pensar a fúria da maquinação e da técnica no fim da metafísica em conflito com uma outra possibilidade. Essa possibilidade envolve o acontecimento apropriador como cesura da história, capaz de convalescer, purificar, a metafísica e doar um outro destino. Mas isso só ocorre a partir do sofrer o estranhamento (pathei to deinon) do homem, que é lançado a assumir esse destino da finitude de sua época. Entre a fuga dos deuses e a proximidade do último deus, o homem, enquanto deinon, prepara-se para a união, ou acontecimento, que sustenta a diferença entre homem e deus, ser e ente.

Abstract: The aim of this work is to show a tragic narrative of history in Heidegger in dialogue with German idealism. Thus, we argue that history in Heidegger, between the years 1930 and 1946, can be thought of using as a guide the notion of tragic, taken from his references to the theme and readings of tragedy, and in conflict and dialogue with German idealism, specifically Hegel and Hölderlin, whose thoughts on history are linked to this theme. From this relationship, we oppose the tragic thought of as dialectical - Szondi's thesis based on Hegel -, supporting alétheia as an ambiguous and paradoxical notion that can be seen as tragic in the specificity of its conflict. From these phases, we developed, based on Heidegger, a narrative that encompasses elements of Aristotle's poetics and Hölderlin's poetology, as well as an ?Oedipal? script that develops from Heidegger's lexicon to think about history. In our view, the tragic narrative in Heidegger proves satisfactory for reflecting an ambiguous and paradoxical conception of history, influenced by Hölderlin and in conflict with Hegel's pantragism. More specifically, this tragic narrative of history shows itself in depth with Hölderlin's thought of the caesura and in conflict with the speculative sacrificial script of Hegelian dialectics. To conclude, we propose that Heidegger resignifies the tragic in history by thinking about the fury of machination and technology at the end of metaphysics in conflict with another possibility. This possibility involves the preparatory event as a caesura of history, capable of convalescing, purifying metaphysics and creating another destiny. But this only occurs after suffering the estrangement (pathei to deinon) peculiar to man, who is thrown into assuming this destiny of the finitude of his time. Between the flight from the gods and the proximity of the last god, man, as deinon, prepares himself for the union, or event, that sustains the difference between man and god, being and beings.