Conhecimento normativo, motivação e verdade: uma possível extensão da teoria metaética tríplice de Derek Parfit

Abstract

A Teoria Metaética Tríplice, defendida por Derek Parfit, provocou um intenso debate filosófico. A maioria dos filósofos permanece reticente sobre a possibilidade de conciliar as explicações de Peter Railton, Allan Gibbard e Parfit. Persiste, especialmente, a dificuldade em avaliar o cognitivismo não-realista de Parfit, fundamento dessa teoria, que se apresenta como uma alternativa ao realismo e ao antirrealismo moral. Este estudo investiga a necessidade de suporte, em termos de uma ontologia moral, para o cognitivismo moral na epistemologia moral e para o internalismo moral na psicologia moral. A hipótese é que a Teoria Metaética Tríplice pode fornecer o suporte adequado para a defesa dessas duas posições. A metodologia empregada consiste na pesquisa bibliográfica, com foco nas obras dos filósofos Peter Railton, Allan Gibbard e, principalmente, Derek Parfit. Primeiramente, é apresentada a plausibilidade de uma forma mais ampla de cognitivismo moral, que inclui não apenas o conhecimento proposicional, mas também o conhecimento por familiaridade e o prático, ou saber-como. Em seguida, explora-se a plausibilidade do internalismo de juízo como explicação para a conexão entre moralidade e motivação. Destaca-se que a defesa dessas posições depende da investigação do status ontológico das propriedades normativas. O trabalho avalia o realismo moral naturalista de Railton, o expressivismo quase-realista de Gibbard e o cognitivismo não-realista de Parfit. O resultado da avaliação é que, embora o cognitivismo não-realista solucione as limitações das teorias de Railton e Gibbard e prescinda de uma ontologia moral para explicar a verdade das afirmações normativas, ele carece de uma explicação sobre o papel da verdade. Por fim, o trabalho reformula a Teoria Metaética Tríplice com base na visão indefinibilista da verdade e na ideia de marcas da verdade de David Wiggins, tratando essas marcas como aplicáveis a portadores de verdade (truth-bearers). Além disso, é argumentado que essa reformulação da teoria pode atribuir um papel indispensável ao expressivismo de Gibbard na explicação do conhecimento prático, sustentando, dessa forma, o internalismo de juízo sobre o saber-como. A tese defendida neste trabalho contribui para o debate filosófico ao oferecer uma complementação necessária sobre o papel da verdade e argumentar a favor de uma possível extensão da Teoria Metaética Tríplice que inclua o saber-como. Essa extensão aperfeiçoa a teoria, proporcionando suporte a uma forma mais ampla de cognitivismo moral e a uma defesa não-trivial do internalismo de juízo.

Abstract: The Metaethical Triple Theory, defended by Derek Parfit, has provoked an intense philosophical debate. Most philosophers remain skeptical about the possibility of reconciling the explanations offered by Peter Railton, Allan Gibbard, and Parfit. A major challenge persists in evaluating Parfit?s Non-Realist Cognitivism, the foundation of that theory, which presents itself as an alternative to both moral realism and anti-realism. This study investigates the need for support, in terms of a moral ontology, for moral cognitivism in moral epistemology and moral internalism in moral psychology. The hypothesis is that the Metaethical Triple Theory can provide the necessary support to defend these two positions. The methodology employed consists of bibliographic research, focusing on the works of philosophers Peter Railton, Allan Gibbard, and especially Derek Parfit. First, the study presents the plausibility of a broader form of moral cognitivism, which includes not only propositional knowledge but also knowledge by acquaintance and practical knowledge, or knowing-how. Next, the study explores the plausibility of judgment internalism as an explanation for the connection between morality and motivation. It is emphasized that the defense of these positions depends on investigating the ontological status of normative properties. The study evaluates Railton?s Naturalist Moral Realism, Gibbard?s Quasi-Realist Expressivism, and Parfit?s Non-Realist Cognitivism. The evaluation shows that, although Non-Realist Cognitivism addresses the limitations of Railton?s and Gibbard?s theories and does not require a moral ontology to explain the truth of normative claims, it lacks an explanation for the role of truth. Finally, the study reformulates the Metaethical Triple Theory based on the indefinibilist view of truth and the notion of marks of truth proposed by David Wiggins, treating these marks as applicable to truth-bearers. Furthermore, it is argued that this reformulation of the theory can assign an indispensable role to Gibbard?s expressivism in explaining practical knowledge, thus supporting judgment internalism regarding knowing-how. The thesis defended in this work contributes to the philosophical debate by offering a necessary complement on the role of truth and arguing in favor of a possible extension of the Metaethical Triple Theory that includes knowing-how. This extension refines the theory, supporting a broader form of moral cognitivism and a non-trivial defense of judgment internalism.