Prevalência de sofrimento mental e fatores associados em trabalhadores da segurança pública: estudo transversal com guardas municipais de Santa Catarina

Abstract

Este estudo objetiva verificar a prevalência de sofrimento mental nos Guardas Municipais de Santa Catarina e analisar os fatores associados. Foi realizada uma revisão de literatura e um estudo transversal. A revisão sistematizada de literatura científica foi realizada a fim de resgatar estudos sobre a temática de interesse e foi consultada em agosto de 2023 nas seguintes bases de dados eletrônicas: SCIELO, LILACS/IndexPsi, PubMed/Medline, PsycINFO, SCOPUS e Web of Science. A busca pelos artigos nessas bases utilizou descritores em inglês e espanhol dos Medical Subject Headings (MeSH) e dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), além de outros termos que não estão presentes nessas listas. As pesquisas foram realizadas combinando os descritores ou usando-os de forma isolada, empregando operadores booleanos ?AND? e/ou ?OR? e aplicando limitações com parênteses e aspas. A seleção dos estudos não teve restrições quanto ao idioma, sendo adotado o período de 2018 a 2023 como filtro para escolher os artigos. A busca resultou em 5173 artigos, dos quais 2480 foram excluídos por duplicidade e 2633 após leitura de títulos e resumos. Ao final, 70 trabalhos foram lidos na íntegra, resultando na seleção de 30 artigos relevantes. O estudo transversal realizado foi quantitativo e descritivo, e teve como participantes, 244 guardas das 14 instituições existentes. A variável dependente foi a ocorrência de Transtornos Mentais Comuns (TMC), medida pelo Self Report Questionnaire-20 (SRQ-20). As variáveis independentes incluíram características sociodemográficas, condições de trabalho e hábitos/estilos de vida. Os dados foram coletados por meio de questionário online e analisados no software STATA 17.0, onde foram calculadas prevalências, razões de prevalência e intervalos de confiança de 95%. A prevalência de sofrimento mental foi de 27,5% (IC95%: 22,2;33,4), sendo maior entre as mulheres (43,6%) em comparação aos homens (22,8%). Fatores como consumo frequente de álcool e ausência de lazer elevaram o sofrimento mental em 14,9% e 50%, respectivamente (p<0,001). Agressões verbais ou físicas (RP=2,1), treinamentos insuficientes (RP=1,6) e exigências contraditórias aumentaram o risco em 370%. O modelo múltiplo destacou a relação entre o sofrimento mental e variáveis como sexo feminino, histórico psiquiátrico, agressões frequentes e relação ruim ou regular com a gestão. O estudo apresentou diversas forças significativas, como uma amostra ampla e diversa, além do uso de ferramentas validadas pela OMS, garantindo robustez dos dados. As análises estatísticas foram claras e revelaram associações relevantes para a prática das Guardas Municipais e para a saúde mental. Contudo, as limitações incluem limitações de pesquisas semelhantes, o acesso restrito aos profissionais que resultou em uma taxa de ausência na participação de 75%, o que pode ter gerado uma amostra tendenciosa, e possíveis visões de autorrelato. Por ser transversal, não permite estabelecer causalidade entre as variáveis. O estudo destaca a importância de aprofundar pesquisas sobre saúde mental em agentes de segurança, melhorando seu bem-estar, desempenho e impacto na sociedade e nas famílias.

Abstract: This study aims to verify the prevalence of mental distress among Municipal Guards in Santa Catarina and analyze the associated factors. A literature review and a cross-sectional study were conducted. The systematic review of scientific literature was performed to retrieve studies on the topic of interest, with searches carried out in August 2023 across the following electronic databases: SCIELO, LILACS/IndexPsi, PubMed/Medline, PsycINFO, SCOPUS, and Web of Science. The search strategy used English and Spanish terms from the Medical Subject Headings (MeSH) and Health Sciences Descriptors (DeCS), along with additional relevant terms. Searches were performed by combining descriptors or using them individually, with Boolean operators ?AND? and/or ?OR,? along with parentheses and quotation marks for specific filters. The study selection had no language restrictions, and a filter was applied to include articles published between 2018 and 2023. The search yielded 5,173 articles, of which 2,480 were excluded due to duplication, and 2,633 were removed after reading titles and abstracts. In the end, 70 articles were read in full, resulting in the selection of 30 relevant studies. The cross-sectional study was quantitative and descriptive, with 244 guards from 14 institutions participating. The dependent variable was the occurrence of Common Mental Disorders (CMD), measured through the Self-Report Questionnaire-20 (SRQ-20). Independent variables included sociodemographic characteristics, working conditions, and lifestyle habits. Data were collected via an online questionnaire and analyzed using STATA 17.0 software, with prevalence rates, prevalence ratios, and 95% confidence intervals calculated. The prevalence of mental distress was 27.5% (95% CI: 22.2?33.4), with higher rates among women (43.6%) compared to men (22.8%). Factors such as frequent alcohol consumption and the absence of leisure activities increased mental distress by 14.9% and 50%, respectively (p<0.001). Verbal or physical aggression (PR=2.1), insufficient training (RP=1.6), and conflicting job demands increased the risk by 370%. The multiple model highlighted associations between mental distress and factors such as female gender, psychiatric history, frequent aggression, and poor or regular relationships with management. The study demonstrated several strengths, including a broad and diverse sample, as well as the use of psychometrically validated tools recognized by the WHO, ensuring data robustness. Statistical analyses were clear and revealed relevant associations for the practice of Municipal Guards and mental health. However, limitations include the scarcity of similar research, restricted access to professionals that resulted in a 75% non-participation rate, potentially biasing the sample, and the possible biases of self-reported data. Being cross-sectional, the study does not allow for establishing causal relationships between variables. The research highlights the importance of further studies on mental health among public safety agents to improve their well-being, performance, and impact on society and their families.