Por uma filosofia da escutação: repensando práticas e o ensino de filosofia

Abstract

Esta tese problematiza o modo como a filosofia canônica preenche nosso imaginário e como ela influencia a postura que temos enquanto filósofos(as/es) e professores(as/ies) de filosofia. Primeiramente, propomos a inclusão das experiências vividas e dos corpos como critérios epistêmicos confiáveis e como categorias legítimas de investigação filosófica. Desta maneira, buscamos apontar as parcialidades e as exclusões decorrentes da formação do cânone filosófico, e pensar a filosofia como uma construção coletiva e plural, que conecta diferentes realidades. Isso nos leva ao debate sobre a revisão de nossas práticas pedagógicas e a inclusão de filosofias marginalizadas pelo cânone em nossos currículos, sobretudo, das licenciaturas em filosofia. Para reforçar essa discussão, refletimos sobre a consolidação de algumas premissas conceituais epistêmicas na formação do nosso cânone filosófico, como as noções de universalidade, imparcialidade, racionalidade, dualismos, etc., e as possíveis consequências de suas reproduções através do ensino de filosofia. Por fim, propomos uma revisão crítica da filosofia canônica por meio de processos de descolonização e de descanonização, evidenciando a prática de uma educação transformadora e libertadora, no sentido freireano, visando um horizonte prático que se relacione com atividades filosóficas comprometidas com a abertura para a escuta e para o diálogo, ou seja, atividades filosóficas de ?escutação?. A proposta de uma filosofia da escutação se conecta com a noção de gramática da experiência filosófica/pedagógica continuamente em formação. Para construir essa ideia utilizamos três metodologias que permitem fazer relações entre experiências pessoais, reflexões sobre minha prática docente, conceitos das epistemologias feministas e descoloniais, pedagogia engajada de bell hooks, filosofia da educação de Paulo Freire e concepção de filosofia e atividade filosófica de Ludwig Wittgenstein. São elas: Metodologia de Pontos de Partida, Metodologia Autorreflexiva e Metodologia Feminista. Ao final da tese, esperamos ter alcançado uma outra forma de compreensão da filosofia, que é pluriversal, experiencial, amorosa, falível, instável e contínua.

Abstract: This dissertation problematizes the way in which canonical philosophy fills our imaginary and how it influences the stance we take as philosophers and philosophy teachers and professors. Firstly, we propose the inclusion of lived experiences and bodies as reliable epistemic criteria and as legitimate categories of philosophical inquiry. In this way, we seek to point out the biases and exclusions resulting from the formation of the philosophical canon, and to think of philosophy as a collective and plural construction that connects different realities. This leads us to the debate on the revision of our pedagogical practices and the inclusion of philosophies marginalized by the canon in our curricula, especially in teaching degrees in philosophy. In order to reinforce this discussion, we reflect on the consolidation of some epistemic conceptual premises in the formation of our philosophical canon, such as the notions of universality, impartiality, rationality, dualisms, etc., and the possible consequences of their reproduction through the teaching of philosophy. Finally, we propose a critical review of canonical philosophy through processes of decolonization and decanonization, highlighting the practice of a transformative and liberating education, in the Freirean sense, aiming at a practical horizon that relates to philosophical activities committed to openness to listening and dialogue, that is, philosophical activities of ?listeningaction? (listening and action). The proposal for a philosophy of ?listeningaction? connects with the notion of grammar of philosophical/pedagogical experience that is continuously being formed. In order to construct this idea, we used three methodologies that allow us to make connections between personal experiences, reflections on my teaching practice, concepts from feminist and decolonial epistemologies, bell hooks' engaged pedagogy, Paulo Freire's philosophy of education and Ludwig Wittgenstein's conception of philosophy and philosophical activity. They are: Standpoint Methodology, Self-Reflective Methodology and Feminist Methodology. At the end of this dissertation, we hope to have achieved another way of understanding philosophy, which is pluriversal, experiential, loving, fallible, unstable and continuous.