Amplificação e silenciamento da vontade na metafísica da música schopenhaueriana: um contraponto

Abstract

O principal objetivo deste trabalho é problematizar a valorização da música na filosofia de Arthur Schopenhauer, procurando ressaltar sua condição de contraponto ao pessimismo metafísico sistematizado pelo pensador. O problema que motiva essa questão é o aparente contraste entre, por um lado, uma metafísica que entende o mundo como um lugar de dor e sofrimento e, por outro, alternativas de suspensão, ainda que temporárias, dessa condição, entre as quais a música em específico ocupa um lugar privilegiado. Na seção dedicada à metafísica da música de O mundo como vontade e representação, bem como nas preleções correspondentes, música e mundo ganham uma relação de identidade ou de analogia na filosofia schopenhaueriana, na medida em que a primeira seria capaz de expressar a própria vontade como em si do mundo (ao contrário das outras artes, que expressariam apenas Ideias). Ao mesmo tempo, a música, na hierarquia das artes dessa filosofia, ocupa o lugar privilegiado da possibilidade de suspensão do querer e da própria vontade como geradores de sofrimento. Tendo isso em vista, pretendemos apresentar, investigar e discutir como o chamado pessimismo e a concepção de música se relacionam no contexto teórico schopenhaueriano, em que medida a música se contrapõe ou não ao seu pessimismo metafísico e o quanto a presença ou ausência dessa contraposição comprometem o chamado pensamento único de Schopenhauer.

Abstract: The main objective of this paper is to examine the value of music in Arthur Schopenhauer's philosophy, seeking to problematize its condition as a counterpoint to the metaphysical pessimism systematized by the thinker. The problem that motivates this question is the apparent contrast between, on the one hand, a metaphysics that understands the world as a place of pain and suffering and, on the other, alternatives for suspending this condition, albeit temporarily, among which music in particular occupies a privileged place. Music and the world gain a relationship of identity or analogy in Schopenhauerian philosophy (cf. § 52 of The World as Will and Representation and the Lectures on the Metaphysics of Beauty) insofar as the former, according to the thinker, would be capable of expressing one's own will as the in-itself of the world (unlike the other arts, which would only express Ideas). At the same time, music, in the hierarchy of the arts of this philosophy, occupies the privileged place of the possibility of suspending the will and the will itself as generators of suffering. With this in mind, we intend to present, investigate and discuss how so-called pessimism and the conception of music are related in the Schopenhauerian theoretical context, how much music does or does not oppose his metaphysical pessimism and how much this opposition or lack of it can interfere in Schopenhauer's so-called single thought, as well as what its main consequences might be.