A captura populista da liberdade: crítica imanente da regressão democrática

Abstract

A presente tese tem como objetivo analisar a captura do vocabulário progressista da liberdade pelo populismo de ultradireita e os consequentes efeitos antidemocráticos decorrentes dessa apropriação regressiva. Para isso, o primeiro passo consiste em reconstruir a gênese da gramática libertária do populismo tardio ? marcado por uma esfera pública digitalizada e uma articulação política da ultradireita transnacional - distinguindo o modo pelo qual os ideais libertários da modernidade, em sua acepção progressista, foram ressignificados de modo reacionário pela concepções de liberdade neoliberal e tradicionalista do populismo tardio de ultradireita, presentes tanto nos fascismos do início do século XX, quanto no neofascismo do século XXI. Desse esforço de diagnóstico do tempo, emerge uma desiderata dos elementos e dos estágios reflexivos necessários para se criticar o presente fenômeno do populismo tardio no decorrer da segunda parte da tese: (i.) uma teoria política (agonista ou liberal), cuja metodologia de escrutínio crítico (construtivista ou desconstrutivista), seja precedida de uma concepção da liberdade progressista (ética ou moral), como fundamento normativo, (ii.) uma crítica do sequestro/hackeamento/apropriação desse referencial que leve em conta o atual estágio de dominação capitalista como causa do populismo (enquanto hegemonia ou erosão iliberal), e, que aponte, por fim, (iii.) uma concepção de libertação como transformação social dessa regressão política (que seja prefigurativa ou deliberativa). Como alternativa aos modelos de teoria política analisados, a terceira parte da tese defende a hipótese de que a melhor adequação de crítica do fenômeno do populismo tardio e de sua forma de dominação política seria através das lentes da filosofia social, que convencionamos doravante chamar de crítica imanente da sociedade. Comprometida com a análise das patologias da razão e manifestações ideológicas da liberdade, esse modelo pode ser apresentado nos formatos de crítica reconstrutiva e pós-reconstrutiva (negativa, reflexiva e social), no contexto do centro e da periferia do capitalismo global. Ao final, o fenômeno da captura populista da liberdade é compreendido como uma distorção da ideia moderna de liberdade social, cuja deformação política gera uma patologia da esfera pública democrática, onde o remédio possível de transformação política radical centra-se em torno de uma ideia renovada de socialismo.

Abstract: This thesis aims to analyze the capture of the progressive vocabulary of freedom by far-right populism and the consequent anti-democratic effects resulting from this regressive appropriation. The first step is to reconstruct the genesis of the libertarian grammar of late populism ? characterized by a digital public sphere and a political articulation of the transnational far-right ? distinguishing the way in which the libertarian ideals of modernity, in their progressive meaning, were re-signified in a reactionary way by the neoliberal and traditionalist conceptions of freedom, present both in the fascisms of the early twentieth century, as well as in the neo-fascism of the twenty-first century. From this diagnostic effort, emerges a desiderata of the elements and reflexive stages necessary to criticize the present phenomenon in the course of the second part of the thesis: (i.) a political theory (agonist or liberal), whose methodology of critical scrutiny (constructivist or deconstructivist), is preceded by a conception of progressive freedom (ethical or moral), as a normative foundation, (ii.) a critique of the capture/hijacking/appropriation of this referential that takes into account the current stage of capitalist domination as a cause of populism (as hegemony or iliberal erosion), and, finally, (iii.) a conception of radical democracy as a social transformation of this political regression (which is prefigurative or deliberative). Still in the wake of these critical assumptions, the third part of the thesis defends the hypothesis that the best adaptation of the critique of the phenomenon of late populism and its form of political domination is through the lens of the social philosophy, something we conventionally call the immanent critique of society, committed to the analysis of the pathologies of reason and ideological manifestations of freedom, this model can be presented in the formats of reconstructive and post-reconstructive critique (negative, reflexive and social), in the context of the center and periphery of global capitalism. In the end, the phenomenon of the populist capture of freedom is understood as a distortion of the modern idea of social freedom, whose political deformation generates a pathology of the democratic public sphere, where the possible remedy for radical political transformation revolves around a renewed idea of socialism.