As estratégias de denúncia da violência policial adotadas por comunidades periféricas de Florianópolis

Abstract

A pesquisa investiga as estratégias de denúncia das violações de direitos humanos cometidas pela Polícia Militar nas periferias de Florianópolis, com enfoque no Morro do Mocotó, analisando os desafios enfrentados pela população e as formas de denúncia adotadas pela sociedade civil. Parte-se da compreensão da militarização da segurança pública no Brasil, um modelo historicamente repressivo que perpetua desigualdades e resulta em alta letalidade policial. Metodologicamente, a pesquisa adota uma abordagem qualitativa, baseada em entrevistas semiestruturadas com jornalistas, lideranças comunitárias e ativistas. A análise também incorpora o jornal alternativo Desterro, concluindo que o mesmo desempenha um papel fundamental na visibilização da violência policial em Florianópolis. Além disso, a pesquisa evidencia que as organizações de denúncia de violência policial nas periferias frequentemente enfrentam repressão da polícia, que utiliza operações ostensivas e intimidação para enfraquecer movimentos sociais. Conclui-se que as lideranças comunitárias seguem desempenhando um papel essencial na denúncia e resistência, além de reivindicar direitos das comunidades. Os resultados indicam que os mecanismos formais de denúncia são desacreditados pela população, devido à ineficiência, ao medo de represálias e à persistência da violência estrutural. Os relatos coletados demonstram que a atuação da Polícia Militar extrapola o enfrentamento à criminalidade, frequentemente se traduzindo em práticas seletivas e abusivas que violam direitos fundamentais.

The research investigates the reporting strategies for human rights violations committed by the Military Police in the outskirts of Florianópolis, with a focus on Morro do Mocotó, analyzing the challenges faced by the population and the reporting mechanisms adopted by civil society.The study is based on an understanding of the militarization of public security in Brazil, a historically repressive model that perpetuates inequalities and results in high police lethality. Methodologically, the research adopts a qualitative approach, relying on semistructured interviews with journalists, community leaders, and activists. The analysis also incorporates the alternative newspaper Desterro, concluding that it plays a fundamental role in making police violence in Florianópolis more visible. Furthermore, the research highlights that organizations reporting police violence in peripheral areas frequently face police repression, as law enforcement employs ostensive operations and intimidation to weaken social movements. The findings indicate that community leaders continue to play a crucial role in reporting and resisting abuses, as well as advocating for the rights of their communities. The results suggest that formal reporting mechanisms are discredited by the population due to inefficiency, fear of retaliation, and the persistence of structural violence. The collected testimonies demonstrate that the actions of the Military Police go beyond crime control, often translating into selective and abusive practices that violate fundamental rights.