Transmasculinidades, práticas corporais e esportivas

Abstract

A crescente presença de pessoas trans nas quadras, campos, pistas e ringues esportivos desafia a normatividade instituída de esporte, particularmente no que tange à divisão binária entre categorias femininas e masculinas. Esta tese investiga as práticas esportivas de pessoas transmasculinas, discutindo as transmasculinidades nos esportes em sua relação com outras masculinidades. Entendem-se por pessoas transmasculinas aquelas que foram designadas do sexo feminino ao nascer, mas que se identificam e expressam suas corporalidades através das masculinidades. Esta etnografia foi feita com entrevistas e pesquisa de campo em times de futebol transmasculinos e de rúgbi LGBTQIAPN+ inclusivo, além de trazer relatos autobiográficos do pesquisador que é homem trans e jogador de rúgbi. Os times em questão se configuram, na sua maioria, como coletivos que competem em amistosos e festivais de celebração das diversidades, negociando em que categoria atuam (masculina, mista, transmasculina). A tese traz também considerações sobre pessoas trans nas lutas, apontando que os desafios enfrentados pelas mulheres são diferentes dos homens, e que cada modalidade esportiva exige e produz uma masculinidade específica, assim como demanda um corpo específico a ser construído dependendo do nível de competitividade. Sobre os diferentes níveis de competitividade, conclui que é preciso que, no contexto do alto rendimento mais pessoas trans tomem parte das diferentes modalidades para que critérios mais justos de competição sejam formulados, mas também, que é preciso olhar para as práticas de lazer e amadora sob outras perspectivas, incluindo aquela que aparece como uma saída encontrada pelos próprios sujeitos da prática: equipes e categorias transexclusivas. O trabalho aponta, portanto, que a presença das pessoas trans leva o campo esportivo a se repensar.

Abstract: The growing presence of trans people on courts, fields, tracks, and sports rings challenges the established normativity of sports, particularly regarding the binary division between female and male categories. This thesis investigates the sports practices of transmasculine people, discussing transmasculinities in sports in their relation to other masculinities. Transmasculine people are understood to be those who were assigned female at birth but who identify and express their bodies through masculinities. This ethnography was conducted with interviews and field research in transmasculine soccer teams and inclusive LGBTQIAPN+ rugby teams, in addition to bringing autobiographical accounts from the researcher who is a trans man and rugby player. The teams in question are mostly configured as collectives that compete in friendly matches and festivals celebrating diversity, negotiating in which category they compete (male, mixed, transmasculine). The thesis also brings considerations about trans people in sports, pointing out that the challenges faced by women are different from those faced by men, and that each sport requires and produces a specific masculinity, as well as demands a specific body to be built depending on the level of competitiveness. Regarding the different levels of competitiveness, it concludes that in the context of high performance, more trans people need to take part in different sports so that fairer competition criteria can be formulated, but also, that it is necessary to look at leisure and amateur practices from other perspectives, including the one that appears as a solution found by the practitioners themselves: trans-exclusive teams and categories. The work thus points out that the presence of trans people leads the sports field to rethink itself.