Disfunção temporomandibular: do estudo da audição e dos sintomas cocleovestibulares, álgicos e musculares

Abstract

Introdução: A disfunção temporomandibular (DTM) é definida como o conjunto de alterações articulares e/ou musculares na região craniofacial e pode gerar alterações nas funções estomatognáticas, algesias na região de cabeça e pescoço e sintomas cocleovestibulares afetando assim a qualidade de vida dos indivíduos que a possuem. Dentre as inúmeras formas de avaliar e acompanhar a DTM existe a eletromiografia de superfície (EMG), um instrumento utilizado para avaliação do desempenho muscular durante a realização de suas funções e quando aplicada para análise dos músculos da face fornece parâmetros importantes para o profissional responsável pelo caso. Objetivo: Investigar a audição, os sintomas cocleovestibulares e álgicos e a atividade muscular em pacientes com DTM. Metodologia: Estudo observacional, descritivo, transversal, aprovado pelo comitê de ética em pesquisa com seres humanos da Universidade Federal de Santa Catarina. A pesquisa foi realizada com indivíduos diagnosticados com DTM e atendidos no Ambulatório de Disfunção Temporomandibular da Clínica Escola de Fonoaudiologia da UFSC no período de fevereiro de 2022 a janeiro de 2023. Amostra do tipo não probabilística, por conveniência e os participantes foram submetidos aos seguintes procedimentos: anamnese (investigação do histórico audiológico, queixas cocleovestibulares e álgicas), inspeção visual do meato acústico externo, audiometria tonal liminar, logoaudiometria, imitanciometria, audiometria de altas frequências, emissões otoacústicas evocadas por estímulo transiente e produto de distorção e eletromiografia de superfície dos músculos mastigatórios masseter e temporal, na condição repouso e contração voluntária máxima. Resultado: Participaram do estudo 44 indivíduos, sendo a maioria do sexo feminino (95,5%) e na faixa-etária de 18 a 29 anos, sendo a DTM de classificação mista a de maior prevalência. De forma geral, 45,5% dos participantes apresentaram alteração em algum dos exames da avaliação audiológica. Entre os sintomas cocleovestibulares, observou-se maior prevalência de zumbido (64,5%), seguido dos sintomas de hipersensibilidade a sons (58,1%) e tontura (58,1%). Quando analisadas as algesias, a mais referida foi cervicalgia (83,9%), seguido de dor na ATM (58,1%) e cefaleia (58,1%). Observou-se associação entre alterações na avaliação audiológica e a presença de otalgia. Referente à EMG, no repouso, observou-se maior atividade elétrica em todos os grupos de músculos testados nos participantes que referiram tontura, cefaleia e dor na articulação temporomandibular (ATM) quando comparado aos participantes que não apresentavam estes sintomas. Quando avaliada a contração voluntária máxima (CVM) houve maior atividade elétrica nos músculos masseteres e temporal direito, nos participantes com dificuldade de compreensão de fala, tontura e dor na ATM. Observou-se correlação negativa forte entre a (CVM) e o número de sintomas cocleovestibulares e correlação positiva entre a avaliação do repouso e a quantidade de sintomas álgicos. Conclusão: Os pacientes com DTM apresentaram em sua maioria limiares auditivos dentro dos padrões de normalidade (250 a 8000Hz) e adequado funcionamento de orelha média. O exame auditivo com maior prevalência de alteração foi a audiometria de alta frequência. A média do número de sintomas cocleovestibulares foi de 2,8, e de sintomas álgicos de 2,5, sendo, os mais prevalentes, zumbido e cervicalgia respectivamente. Não foi encontrada associação entre o tipo de DTM e as queixas álgicas ou cocleovestibulares. Houve relações entre os achados da EMG dos músculos mastigatórios e os sintomas de tontura, dificuldade de compreensão da fala, hipersensibilidade a sons, cefaleia e dor na ATM e correlação entre o número de sintomas cocleovestibulares e álgicos e a contração muscular observada à EMG.

Abstract: Introduction: temporomandibular dysfunction (TMD) is defined as a set of joint and/or muscular alterations in the craniofacial region, which can lead to changes in stomatognathic functions, pain in the head and neck region, and cochleovestibular symptoms, thus affecting the quality of life of individuals who have it. Among the many ways to assess and monitor TMD, there is surface electromyography (EMG), an instrument used to evaluate muscle performance during the execution of their functions, and when applied to analyze facial muscles, it provides important parameters for the responsible professional. Objective: To investigate hearing and cochleovestibular symptoms in patients with TMD. Methods: observational, descriptive, cross-sectional study conducted with adults diagnosed with TMD and treated at the Temporomandibular Dysfunction Outpatient Clinic of the Speech Therapy School Clinic at UFSC. The participants underwent the following procedures: anamnesis (investigation of audiological history, cochleovestibular and algic complaints), visual inspection of the external acoustic meatus, pure-tone audiometry, speech audiometry, tympanometry, high-frequency audiometry, transient evoked otoacoustic emissions and distortion product, and surface electromyography of the masseter and temporal muscles, both at rest and during maximum voluntary contraction. Results: the study included 44 individuals, with the majority being female (95.5%), in the age range of 18 to 29 years, with mixed classification of TMD being the majority. Overall, 45.5% of the participants presented alteration in at least one of the audiological assessment tests. Among cochleovestibular symptoms, a higher prevalence of tinnitus (64.5%) was observed, followed by symptoms of sound hypersensitivity (58,1%) and dizziness (58,1%). When analyzing pain complaints, the most commonly reported was neck pain (83.9%), followed by temporomandibular joint pain (58,1%) and headache (58,1%). An association was observed between changes in audiological assessment and the presence of otalgia. Regarding EMG, at rest, greater electrical activity was observed in all muscle groups tested in participants who reported dizziness, headache and pain in the temporomandibular joint (TMJ) when compared to participants who did not present these symptoms. A strong negative correlation was observed between (CVM) and the number of cochleovestibular symptoms and a positive correlation between the assessment at rest and the number of pain symptoms. Conclusion: patients with TMD mostly exhibited auditory thresholds within the normal range (250 to 8000Hz) and proper middle ear function. The hearing test with the highest prevalence of alterations was high-frequency audiometry. The average number of cochleovestibular symptoms was 2.8, and the average number of painful symptoms was 2.5, with tinnitus and neck pain being the most prevalent, respectively. No association was found between the type of TMD and pain or cochleovestibular complaints. There were relationships between the results of EMG of the masticatory muscles and symptoms of dizziness, difficulty understanding speech, hypersensitivity to sounds, headache and pain in the TMJ and a correlation between the number of cochleovestibular and pain symptoms and the muscle contraction observed on EMG.