Características das tentativas de suicídio notificadas em Santa Catarina entre 2015 e 2022

Abstract

A tentativa de suicídio (TS), conduta ou dano autoprovocado com intenção de morte, é o principal fator de risco para o suicídio, apresentando-se como um problema e um desafio para as políticas públicas em saúde, no Brasil e no mundo. Neste estudo de abordagem quantitativa, retrospectivo descritivo e com dados secundários, objetivou-se caracterizar e analisar as TS notificadas em Santa Catarina, entre 2015 e 2022, por meio da análise das fichas de notificação de violência interpessoal e autoprovocada inseridas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Analisou-se as características sociodemográficas e as circunstâncias das TS notificadas. Calculou-se as frequências absolutas e relativas com seus respectivos intervalos de 95% de confiança (IC95%) e o valor de p. Calculou-se as taxas de incidência de notificações por ano e por macrorregião de saúde. Obteve-se como resultados: 35.853 (38,18%) notificações de TS, predominando em pessoas do sexo feminino (66,92%), entre 20 e 29 anos (26,46%), autodeclaradas brancas (88,44%), heterossexuais (96,20%), sem cônjuge (53,84%), nível de escolaridade médio (44,89%) e aproximadamente um terço (29,13%) possui deficiência ou transtorno. O método mais utilizado foi a intoxicação (79,59%), a residência foi o local predominante (92,35%) e quase metade referiu tentativas anteriores (42,50%). A maior frequência de notificações (19,44%) e taxa de incidência (89,14/100 mil) foi em 2019 e a incidência anual foi maior na Macrorregião Sul, em quase todo o período do estudo. Os objetivos deste estudo foram alcançados e conclui-se que é possível associar fatores sociais e culturais, como a violência de gênero e a medicalização do sofrimento psíquico, à frequência maior de tentativas de suicídio na população feminina. Além disso, apontou-se uma possível relação entre a maior incidência de TS em regiões mais afetadas por desastres climáticos e ambientais. Observa-se a relevância da temática estudada e recomenda-se a realização de estudos mais ampliados na população e regiões mais vulneráveis, uma vez que o comportamento suicida no que tange às tentativas, ainda é pouco investigado pela ciência. Sugere-se a qualificação da ficha de notificação de violências, a sensibilização e capacitação dos profissionais de saúde por meio de educação permanente e do incentivo à pesquisa, visando subsidiar o aprimoramento de políticas públicas para a prevenção e redução das tentativas de suicídio no Estado.

Abstract: Suicide Attempt (SA), a behavior or self-inflicted harm with the intention of death, is the primary risk factor for suicide, presenting a problem and challenge for public health policies in Brazil and worldwide. This quantitative, retrospective, descriptive study, using secondary data, aimed to characterize and analyze the reported SA cases in Santa Catarina from 2015 to 2022 by analyzing the records of interpersonal and self-inflicted violence entered into the Notifiable Diseases Information System (SINAN). The study examined the sociodemographic characteristics and circumstances of the reported SA cases. Absolute and relative frequencies were calculated with their respective 95% confidence intervals (CI95%) and p-values. Incidence rates of notifications per year and by health macro-region were calculated. The results obtained were: 35,853 (38.18%) SA notifications, predominantly among females (66.92%), aged 20-29 years (26.46%), self-reported as white (88.44%), heterosexual (96.20%), without a spouse (53.84%), with a high school education level (44.89%), and approximately one-third (29.13%) having a disability or disorder. The most commonly used method was poisoning (79.59%), the home was the predominant location (92.35%), and nearly half reported previous attempts (42.50%). The highest frequency of notifications (19.44%) and incidence rate (89.14/100,000) was in 2019, and the annual incidence was highest in the South Macro-region throughout most of the study period. The study's objectives were achieved, concluding that social and cultural factors, such as gender violence and the medicalization of psychological suffering, can be associated with the higher frequency of suicide attempts in the female population. Furthermore, a possible relationship between higher SA incidence in regions more affected by climate and environmental disasters was noted. The relevance of the studied topic is observed, and it is recommended to conduct more extensive studies in vulnerable populations and regions, as suicidal behavior regarding attempts is still under-researched. It is suggested to improve the violence notification forms, to raise awareness and train health professionals through ongoing education, and to encourage research to support the enhancement of public policies for preventing and reducing suicide attempts in the state.