Percepção de proprietários rurais sobre a espécie exótica invasora javali (Sus scrofa) (Linnaeus, 1758) no Parque Nacional de São Joaquim

Abstract

Invasões biológicas e seus impactos são um dos principais desafios para a conservação da biodiversidade. A espécie Sus scrofa (Linnaeus, 1758), que inclui o javali selvagem e seus híbridos com porcos domésticos, é considerada globalmente como uma das 100 piores espécies exóticas invasoras. No Brasil, essa espécie vem apresentando um aumento drástico na distribuição de suas populações nos últimos 30 anos, trazendo prejuízos para a produção agropecuária e para a manutenção da biodiversidade e de serviços ecossistêmicos, especialmente em Unidades de Conservação. O controle de javalis em Unidades de Conservação depende de estratégias de manejo bem fundamentadas. Entre tais estratégias, destaca-se a necessidade de se obter informações sobre o histórico de presença e distribuição espacial dessa espécie exótica invasora. Essas informações podem ser obtidas a partir de consulta a pessoas residentes em áreas invadidas ou com potencial de invasão. Com auxílio de uma câmara técnica, a equipe gestora do Parque Nacional de São Joaquim (Santa Catarina, Brasil) elaborou um plano de ação específico para o monitoramento e controle de javalis. Com o objetivo de subsidiar a implementação desse plano de ação, foram realizadas entrevistas com proprietários e moradores de propriedades não indenizadas do Parque Nacional de São Joaquim. Foram levantados dados do histórico de ocorrência e de distribuição espacial dos javalis na Parte Alta (Floresta Ombrófila Mista e Campos Naturais) e na Parte Baixa (Floresta Ombrófila Densa) do território. Além disso, utilizou-se o questionário aplicado para que se buscasse compreender as percepções dessas pessoas sobre a sazonalidade comportamental, impactos e manejo de javalis na região. Foram realizadas 32 entrevistas. As pessoas entrevistadas percebem a presença de javalis como um problema para a região e apresentaram conhecimentos relevantes sobre seus comportamentos, além de um profundo interesse em colaborar com a resolução da problemática. A presença de javalis é percebida com frequência desde 2011 na Parte Alta e desde 2022 em localidades específicas da Parte Baixa. Grupos de javalis cada vez maiores, assim como um aumento na frequência de avistamento de indivíduos e vestígios de javalis, foram relatados pela maior parte das pessoas entrevistadas na Parte Alta. Distintas formas de impactos foram descritas. Na Parte Alta, foi reconhecida a efetividade do controle com arma de fogo para afastar os animais das áreas onde ficam as propriedades. O presente trabalho contribui para a execução do plano de ação e sugere que ações de detecção precoce e resposta rápida devem ser priorizadas para a Parte Baixa, e que ações de monitoramento e de formas alternativas de controle, como o uso de armadilhas, devem ser realizadas em áreas onde não há presença humana na Parte Alta.