Estudo do complexo Phylloporia pectinata (Klotzsch) Ryvarden para a Mata Atlântica, Brasil

Abstract

Phylloporia Murrill, um gênero de macrofungos de Hymenochaetaceae Donk, revela uma notável heterogeneidade morfológica. Esta diversidade se manifesta na produção de basidiomas, que variam de sazonais a perenes, apresentando hábitos que vão desde ressupinado até estipitado, além de contextos que podem ser homogêneos ou duplos. Seus basidiósporos, de 2,5 a 6 µm de comprimento, são amarelados, negativos em Melzer, e seu sistema hifal é mono-dimítico. Historicamente, a identificação das espécies deste grupo se baseou na análise morfológica, resultando em complexos morfológicos de espécies. Um exemplo é P. pectinata sensu lato, caracterizado por basidiomas densos, com tomento compactado a duro, sulcado e sistema hifal dimítico. Neste contexto, o presente estudo teve como objetivo investigar espécimes do Brasil previamente identificados como Phylloporia pectinata, adotando uma abordagem integrativa que combina dados morfológicos e ecológicos e reconstruções filogenéticas moleculares. As coletas foram concentradas na Mata Atlântica, em áreas que apresentam alta biodiversidade, mas que enfrentam ameaças como desmatamento e turismo acelerado. Foram revisados morfologicamente um total de 29 espécimes e destes, 11 foram utilizados para análise molecular, dos quais foram obtidas 37 sequências (11 para nLSU, nove ITS, oito TEF1-a e nove RPB2). As análises filogenéticas moleculares confirmaram todos os espécimes testados no gênero Phylloporia, em quatro clados independentes e distintos de linhagens existentes com dados moleculares disponíveis. A partir da filogenia global de Phylloporia apresentada aqui, os morfogrupos foram recuperados como não monofiléticos, em linhagens de distribuição geográfica restrita e apresentando preferência por hospedeiros específicos. Diante dos resultados, do padrão observado e tendo em vista que P. pectinata tem como localidade do tipo, a Índia, não é possível confirmar que P. pectinata sensu stricto ocorra no Brasil. Através desta análise integrativa, são reconhecidas como novas espécies: P. imbricata ad int., P. perdurans ad int. e P. quiinicola ad int., além da combinação nova, P. lilliputiana ad int. confirmado como espécie válida para o gênero e epitipificado. Todas essas espécies, embora apresentem morfologia similar ao conceito tradicional de P. pectinata, são distintas pela consistência do tomento que pode variar de aveludado, áspero e compactado, quantidade de poros por mm, forma dos basidiósporos e reações diferentes ao azul de algodão e Hidróxido de potássio (KOH). Concluindo, através deste trabalho, é possível inferir que P. pectinata sensu stricto tem distribuição mais restrita do que se postulava e que P. pectinata sensu lato é um complexo de espécies com conceito morfológico amplo, distribuído em diferentes regiões biogeográficas, representando potencialmente outras espécies a serem reveladas, ficando claro a importância de revisar os sinônimos heterotípicos relacionados a este táxon que possui distribuição mais ampla. Ademais, os resultados apresentados confirmam o clado Phylloporia como um grupo monofilético, apesar da heterogeneidade morfológica, contribuindo com o conhecimento da diversidade do gênero no Brasil, e na Mata Atlântica, além de atualizar sua reconstrução filogenética.

Abstract: Phylloporia Murrill, a genus of macrofungi in the Hymenochaetaceae Donk, reveals remarkable morphological heterogeneity. This diversity is observed in the production of basidiomata, ranging from seasonal to perennial, from resupinate to stipitate, as well as the contexts that can be homogeneous or duplex. The basidiospores, measuring 2.5 to 6 µm in length, are yellowish, negative in Melzer's reagent, and the hyphal system is monodimitic. Historically, species identification in this group has been based on morphological analysis, resulting in morphological species complexes. An example is P. pectinata sensu lato, characterized by dense basidiomata with compacted to hard tomentum, grooved, and a dimitic hyphal system. In this context, the present study aimed to investigate specimens from Brazil previously identified as P. pectinata, adopting an integrative approach that combines morphological and ecological data with molecular phylogenetic reconstructions. The collections were concentrated in the Atlantic Forest, in areas of high biodiversity that face threats such as deforestation and accelerated tourism. A total of 29 specimens were morphologically reviewed, and 11 of these were used for molecular analysis, from which 37 sequences were obtained (11 for nLSU, nine ITS, eight TEF1-a, and nine RPB2). Molecular phylogenetic analyses confirmed all specimens tested in Phylloporia, in four independent and distinct clades of existing lineages with available molecular data. From the global phylogeny of Phylloporia presented here, the morphogroups were recovered as non-monophyletic, in lineages of restricted geographical distribution and showing preference for specific hosts. Given the results and the observed pattern, considering that P. pectinata's type locality is India, it is not possible to confirm that P. pectinata sensu stricto occurs in Brazil. Through this integrative analysis, the following new species are recognized: P. imbricata ad int., P. perdurans ad int., and P. quiinicola ad int., as well as the new combination, P. lilliputiana ad int. confirmed as a valid species for the genus and epitypified. All of these species, although they present similar morphology to the traditional concept of P. pectinata, are distinct by having velvety to rough and compacted tomentum, the quantity of pores per mm, the shape of the basidiospores, and different reactions to cotton blue and and Potassium hydroxide (KOH). In conclusion, through this work, it is possible to infer that P. pectinata sensu stricto has a more restricted distribution than previously postulated and that P. pectinata sensu lato is a complex of species with a broad morphological concept, distributed in different biogeographic regions, potentially representing other species to be revealed, making clear the importance of reviewing the heterotypic synonyms related to this taxon that has a wider distribution. Furthermore, the results presented confirm the Phylloporia clade as a monophyletic group, despite morphological heterogeneity, contributing to the knowledge of the diversity of the genus in Brazil and the Atlantic Forest, in addition to updating its phylogenetic reconstruction.