Efeito das diferentes operações de higienização nos resíduos de agrotóxicos em alimentos: uma revisão sistemática

Abstract

O uso de agrotóxicos tem crescido mundialmente nos últimos anos, ultrapassando a casa dos milhões de toneladas, e tendo países como Brasil, China e Estados Unidos como os maiores contribuidores, movimentando em importações e exportações uma quantidade imensa de capital. No Brasil desde 2016 há uma maior permissividade em relação ao uso de agrotóxicos, com o número de registros de produtos aumentando a cada ano. Isso reflete na análise de agrotóxicos em alimentos do país, em que em mais de 50% das amostras foram detectados agrotóxicos, com muitas se encontrando em inconformidade. A exposição aos agrotóxicos tem sido associada a diversas condições de saúde como câncer, diabetes mellitus tipo 2 (DM2), diabetes gestacional, doença de Parkinson, Alzheimer, autismo, depressão e obesidade, prejudicando mecanismos do corpo humano como a microbiota intestinal, formação do tecido adiposo, resposta imune, funções da tireoide, neurodesenvolvimento, metabolismo glicolipídico e dos ácidos biliares, e a regulação hormonal. Além disso, a exposição via ingestão de alimentos é maior em comparação com a exposição por meio da inalação ou consumo de água. Nesse sentido, foi realizada uma revisão sistemática da literatura a fim de coletar os dados relacionados ao efeito das operações de higienização na concentração dos resíduos de agrotóxicos nos alimentos. Também foi analisada a influência das diferentes características dos agrotóxicos e das operações nesse efeito. Foram encontrados 3.686 artigos sendo incluídos 117 na revisão sistemática após seleção das operações de higienização mais difundidas entre a população e consideradas eficazes na remoção dos agrotóxicos (água, bicarbonato de sódio, vinagre, ácido acético, cloreto de sódio, hipoclorito de sódio, água ozonizada e água com ultrassom). A redução dos agrotóxicos após as lavagens variou entre 0 e 100%, com alguns estudos mostrando aumento da concentração e formação de metabólitos. As lavagens com ácido acético, bicarbonato de sódio, cloreto de sódio e com água ozonizada foram mais eficientes em reduzir os agrotóxicos do que a lavagem com água, enquanto a lavagem com ácido acético e com bicarbonato de sódio foram mais eficientes do que a lavagem com cloreto de sódio. De acordo com os achados, a maior redução foi dos agrotóxicos com menor solubilidade em água e maior coeficiente octanol-água (Kow). E a maior temperatura, tempo e concentração do soluto da lavagem estão associados com maior redução dos agrotóxicos, com valores ideais entre 22 e 60ºC (água e água ozonizada), 5 e 45 min, e 5 e 10% (bicarbonato de sódio, ácido acético e cloreto de sódio) e 2 e 5 mg/L (água ozonizada), respectivamente. Ao final, devido a importância dos fatores definidos no campo (ex.: intervalo pré-colheita e agrotóxico utilizado) e no momento da lavagem, é necessário que, para se ter um menor consumo de agrotóxicos por meio da alimentação, sejam adotadas boas práticas desde a produção agrícola até a preparação doméstica dos alimentos.

Abstract: The use of pesticides has grown worldwide in recent years, surpassing millions of tons, with countries like Brazil, China and the United States as the biggest contributors, moving a huge amount of capital through imports and exports. In Brazil since 2016 there has been greater permissiveness regarding the use of pesticides, with the number of product registrations increasing every year. This reflects in the analysis of pesticides in food in the country, in which more than 50% of the samples were detected pesticides, with many found non-compliant. Exposure to pesticides has been associated with several health conditions such as cancer, type 2 diabetes mellitus (DM2), gestational diabetes, Parkinson's disease, Alzheimer's, autism, depression and obesity, impairing mechanisms of the human body such as the intestinal microbiota, formation of the adipose tissue, immune response, thyroid function, neurodevelopment, glycolipid and bile acid metabolism, and hormone regulation. In addition, exposure via food intake is greater compared to exposure via inhalation or water consumption. In this regard, a systematic review of the literature was carried out in order to collect data related to the effect of washing operations on the concentration of pesticide residues in food. The influence of different characteristics of pesticides and the operations on this effect was also analyzed. A total of 3,686 articles were found, 117 of which were included in the systematic review after selection of the washing operations most widespread among the population and considered effective in removing pesticides (water, sodium bicarbonate, vinegar, acetic acid, sodium chloride, sodium hypochlorite, ozonized water and water with ultrasound). The reduction of pesticides after washing varied between 0 and 100%, with some studies showing an increase in the concentration and formation of metabolites. Washing with acetic acid, sodium bicarbonate, sodium chloride and ozonized water were more efficient in reducing pesticides than washing with water, while washing with acetic acid and sodium bicarbonate were more efficient than washing with sodium chloride. According to the findings, the greatest reduction was for pesticides with lower water solubility and higher octanol-water coefficient (Kow). And the higher temperature, time and concentration of the washing solute are associated with a greater reduction of pesticides, with ideal values between 22 and 60ºC (water and ozonized water), 5 and 45 min, and 5 and 10% (sodium bicarbonate, acid acetic acid and sodium chloride) and 2 and 5 mg/L (ozonated water), respectively. In the end, due to the importance of the factors defined in the field (e.g. pre-harvest interval and used pesticides) and at the time of washing, it is necessary that, in order to have a lower consumption of pesticides through food, good practices should be adopted from agricultural production to domestic food preparation.