Atividade analgésica e alterações na metabolômica após a estimulação manual do acuponto "spleen" 6 (sp6) em modelo de dor neuropática em camundongos

Abstract

A dor neuropática possui difícil tratamento pois os fármacos disponíveis são parcialmente eficazes e trazem efeitos adversos. Isso faz com que profissionais e população busquem alternativas como a acupuntura que, ainda que controversa, é considerada segura e eficaz. Portanto, o objetivo desse estudo é investigar o efeito da acupuntura manual no acuponto SP6 sobre a metabolômica de camundongos com dor neuropática crônica induzida por ligadura parcial do nervo ciático (LPNC). Na presente pesquisa foram utilizados camundongos Swiss e os grupos experimentais separados em duas etapas: (1) OP (Operado, animais submetidos à LPNC que não receberam qualquer tratamento), grupo FO (Falso Operado, submetidos ao procedimento cirúrgico, mas o nervo ciático não foi ligado) e grupo SP6 (operados e tratados com acupuntura manual no acuponto SP6). Os animais foram avaliados antes da cirurgia e diariamente após o início dos tratamentos (7 dias após a LPNC) com relação à hiperalgesia mecânica e em dias alternados desde o primeiro tratamento, nas mesmas datas em que foi realizada a acupuntura, até o 21º dia de tratamento quanto à hiperalgesia térmica ao calor (Hargreaves) e ao frio (Placa fria, 10° Celsius). Durante a segunda etapa, novos camundongos foram distribuídos em: grupo FO (falsamente operados e sem tratamento); SP6 (falsamente operados e tratados com acupuntura); OP (submetidos à LPNC e sem tratamento); LPNC+SP6 (operados e tratados com acupuntura). Ao término dos tratamentos, os animais foram eutanasiados para coleta de sangue. Nos testes comportamentais foi confirmada a hiperalgesia mecânica e térmica ao calor e ao frio induzido pela LPNC. Além disso, observou-se a redução da hiperalgesia mecânica induzida pelo tratamento com acupuntura que perdurou por até 1 hora no primeiro tratamento. De forma interessante, notamos um aumento gradual da duração do efeito da acupuntura com a realização de mais sessões, sendo que com cinco tratamentos o efeito analgésico perdurou por seis horas e após oito tratamentos o efeito durou 24 horas. Após dez tratamentos, o efeito da acupuntura perdura por mais tempo. Além disso, a terapia diminuiu a hiperalgesia térmica ao calor, porém não influenciou a hiperalgesia ao frio. A análise metabolômica evidenciou alterações metabólicas nos camundongos, com diferença significativa apenas nas substâncias: ácido araquidônico, ácido cis-10-heptadecenóico e ácido butanodióico; e com diferença significativa entre o LPNC+SP6 e os outros três grupos na substância glicerol. Mais do que isso, vieram à luz possíveis marcadores de acupuntura: oito substâncias foram encontradas nos camundongos operados ou falso-operados tratados no acuponto SP6 e não nos outros animais. Concluindo, a acupuntura reduziu a hiperalgesia mecânica e térmica dos animais com neuropatia. A intervenção demonstrou efeito gradualmente mais persistente com a realização de múltiplas sessões. Diferentes metabólitos parecem participar do mecanismo da acupuntura nesse processo.

Abstract: Neuropathic pain is difficult to treat as the available drugs are partially effective and have side effects. This leads professionals and the population to seek alternatives such as acupuncture, which, although controversial, is considered safe and effective. Therefore, this study aims to investigate the effect of manual acupuncture in acupoint SP6 on the metabolomics of mice with chronic neuropathic pain induced by partial sciatic nerve ligation (PSNL). We used Swiss mice and separated them into experimental groups: In the first cohort: (1) OP (Operated, animals submitted to PSNL that did not receive any treatment), FO group (False Operated, submitted to the surgical procedure but the sciatic nerve was not ligated), and SP6 group (operated and treated with manual acupuncture at the SP6 acupoint). The animals were evaluated before the surgery and daily after the beginning of treatments (7 days after PSNL) for mechanical hyperalgesia and on alternate days from the first treatment, on the same dates when acupuncture was performed, until the 21st day of treatment for thermal hyperalgesia to heat (Hargreaves) and cold (cold plate, 10° Celsius). In the second cohort, mice were distributed in the FO group (falsely operated with no treatment); SP6 (falsely operated and treated with acupuncture); OP (submitted to PSNL with no treatment); PSNL +SP6 (underwent surgery and treated with acupuncture). The animals were euthanized for blood collection at the end of the treatments. Behavioral tests confirmed the mechanical and thermal hyperalgesia to heat and cold-induced by PSNL. In addition, we observed a reduction of mechanical hyperalgesia induced by acupuncture treatment that lasted up to 1 hour in the first treatment. Interestingly, we noticed a gradual increase in the duration of the acupuncture effect with more sessions; with five treatments the analgesic effect lasted for six hours. After eight treatments, the effect lasted for 24 hours. After ten treatments, the impact of acupuncture lasted for days. Furthermore, the therapy decreased thermal hyperalgesia to heat, but did not influence cold-induced hyperalgesia. Metabolomic analysis showed metabolic alterations in the mice, with a significant difference only in the substances: arachidonic acid, cis-10-heptadecenoic acid, and butanedioic acid; and with a significant difference between LPNC+SP6 and the other three groups in the substance glycerol. More than that, possible markers of acupuncture came to light: eight substances were found in the operated or sham-operated mice treated at the SP6 acupoint and not in the other animals. In conclusion, acupuncture reduced mechanical and thermal hyperalgesia in animals with neuropathy. The intervention demonstrated a gradually more persistent effect with multiple sessions. Different metabolites seem to participate in the mechanism of acupuncture in this process.