Avaliação das repercussões respiratórias pós COVID

Abstract

Introdução: A síndrome pós-COVID (SPC) é descrita como um conjunto de sinais e sintomas em diversos aparelhos fisiológicos do corpo humano, podendo afetar um ou vários deles de modo isolado ou concomitante, após o período de resolução do quadro agudo de COVID-19. Objetivo: Identificar as repercussões do período pós-COVID sobre o aparelho respiratório e seu comportamento a longo prazo em pacientes diagnosticados com COVID-19 nas formas leve, moderada e grave, num período de seguimento ambulatorial de um ano após a resolução do quadro de COVID nos anos de 2020 e 2021. Métodos: Este foi um estudo observacional transversal, unicêntrico realizado no núcleo de Pesquisa em Asma e Inflamação das Vias Aéreas (NUPAIVA) do Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago em Florianópolis, Santa Catarina. Foram incluídos os pacientes com diagnóstico de COVID-19 leve, moderada e grave atendidos nas unidades ambulatoriais, enfermarias e/ou admitidos na Unidade de Terapia Intensiva no Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago no período de julho de 2020 a maio de 2021, totalizando 120 pacientes. Os mesmos foram convidados a participar do estudo após esclarecimento, e foram incluídos mediante assinatura do TCLE. Foram realizadas duas visitas, 90 dias após a alta hospitalar ou resolução do quando agudo naqueles que não internaram, e uma outra visita após um ano. Nas duas visitas foi realizada a mensuração da capacidade de difusão do monóxido de carbono (DLCO) através do exame da pletismografia, seguindo-se os procedimentos recomendados pela American Thoracic Society (ATS) e pela European Respiratory Society (ERS). Na visita de um ano foi realizada Tomografia computadorizada (TC) de tórax. Foram aplicados os instrumentos de avaliação do estado de saúde (escala Medical Research Council modificada – mMRC e COPD Assesment Test (CAT). A análise descritiva foi relatada por meio de medidas de tendência central e dispersão para as variáveis numéricas e frequência absoluta e relativa para as categóricas. Foi empregado o teste de qui-quadrado e exato de Fisher, quando apropriado, para investigar associação entre grupos. Foi adotado um nível de significância de 5%. Resultados: Houve associação significante entre as classes de gravidade com sexo do paciente (p 0,029). Foi observada associação significante entre as classes de DLCO com obesidade (p 0,006). Houve associação significante entre as classes de CAT com a presença

de tosse (0,002). Em relação ao Teste de Avaliação da DPOC (COPD Assessment Test - CAT) 33 pacientes (45,8%) não apresentaram quadros com impacto na vida diária, enquanto 39 (54,2%) apresentaram a pontuação CAT maior que 10, indicando quadros sintomáticos que impactam na vida diária. No que se refere à análise da alteração do parâmetro da difusão dos gases nas membranas alveolares, 34 (47,2%) apresentaram índice de difusão do monóxido de carbono (DCO) maior ou igual a 80% do previsto, enquanto 38 pacientes (52,8%) apresentaram índice abaixo de 80% do previsto. Em relação à análise dos padrões tomográficos, 18 pacientes foram excluídos devido às dificuldades de acesso aos exames de imagem. Dos 54 pacientes restantes analisados, 39 (54,2%) apresentaram enfisema pulmonar, 24 (33,3%) apresentaram doença de via aérea. Podemos citar a presença de outros padrões menos numerosos em 36 pacientes (50%). No tocante dos achados de imagem no banco de tomografias computadorizadas, os padrões mais comuns podem ser visualizados pelos instrumentos de captura como as opacidades em vidro fosco e micro nódulos Conclusão: Em síntese, após análise detalhada dos resultados obtidos foram observados relação estatisticamente significativa entre a gravidade do caso na admissão e sexo e IMC, entre a capacidade de difusão do monóxido de carbono com obesidade e entre as classes sintomáticas do score CAT com os sintomas mais comuns e mMRC. Neste último, foi correlacionado as classes do questionário COPD Assessment Test (CAT) com a presença de tosse. Não houve associação significativa entre a dispneia e a DLCO em nosso estudo. Em relação aos achados tomográficos, independentemente do progresso para SARA ou barotrauma, o curso natural da COVID-19 contribui para os danos estruturais dos pulmões. Também foi analisado que dentre os casos mais graves de infecção aguda, o sexo masculino foi o perfil mais prevalente. Além disso, exames de imagem demonstraram alterações perpetuantes nessa população e aspectos cicatriciais. A maior parte dos pacientes foram classificados como quadros graves no momento da internação, porém, após acompanhamento observa-se recuperação da função pulmonar. Em resumo, boa parte dos pacientes apresentaram recuperação da função pulmonar após 1 ano do quadro agudo. Todavia, o percentual de acometidos com sequelas perpetuantes é notório, apesar de ser baixo. Porém, ao se extrapolar essa proporção para o cálculo com o total de habitantes brasileiros, o percentual absoluto apresenta-se elevado e significativo.

Background: The post-COVID syndrome (PCS) is described as a set of signs and symptoms in several physiological systems of the human body, which may affect one or more of them separately or concomitantly, after the acute resolution period of COVID-19. Objective: To identify the repercussions of the post- COVID period on the respiratory system and its long-term behavior in patients diagnosed with mild, moderate, and severe COVID-19 in an outpatient follow-up period of one year after resolution of COVID in the years 2020 and 2021. Method: Methods: This was a cross-sectional, single-center, observational study carried out at the Center for Research in Asthma and Airway Inflammation (NUPAIVA) of the Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago in Florianópolis, Santa Catarina State, Brazil. We included patients diagnosed with mild, moderate and severe COVID-19 seen in the outpatient units, wards and/or admitted to the Intensive Care Unit at the Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago from July 2020 to May 2021, totaling 120 patients.They were invited to participate in the study after clarification, and were included by signing the ICF.Two visits were performed, 90 days after hospital discharge or resolution of the acute case in those who were not admitted, and another visit after one year. In both visits carbon monoxide diffusing capacity (DLCO) was measured by plethysmography, following the procedures recommended by the American Thoracic Society (ATS) and the European Respiratory Society (ERS). The health status assessment instruments (modified Medical Research Council scale - mMRC and COPD Assesment Test (CAT) were applied. Descriptive analysis was reported using measures of central tendency and dispersion for numerical variables and absolute and relative frequency for categorical variables. Chi-square and Fisher's exact test were employed, when appropriate, to investigate association between groups. A 5% significance level was adopted. Results: There was a significant association between severity classes and patient gender (p 0.029). There was a significant association between DLCO classes with obesity (p 0.006). There was a significant association between the CAT classes with the presence of cough (0.002). Regarding the COPD Assessment Test (CAT), 33 patients (45.8%) had no symptoms that impacted daily life, while 39 (54.2%) had a CAT score higher than 10, indicating symptomatic conditions that impact daily life. Regarding the analysis of the alteration of gas

diffusion parameters in alveolar membranes, 34 patients (47.2%) had carbon monoxide diffusion index (COD) greater than or equal to 80% of predicted, while 38 patients (52.8%) had an index below 80% of predicted.Regarding the analysis of tomographic patterns, 18 patients were excluded due to difficulties in access to imaging exams. Of the remaining 54 patients analyzed, 39 (54.2%) had pulmonary emphysema, 24 (33.3%) had airway disease. We can cite the presence of other less numerous patterns in 36 patients (50%). Regarding the imaging findings in the CT bank, the most common patterns can be visualized by the capture instruments as ground-glass opacities and micronodules. Conclusions: In summary, after detailed analysis of the results obtained, a statistically significant relationship was observed between case severity at admission and gender and BMI, between carbon monoxide diffusing capacity with obesity, and between symptomatic classes of the CAT score with the most common symptoms and mMRC. In the latter, COPD Assessment Test (CAT) questionnaire classes were correlated with the presence of cough.There was no significant association between dyspnea and DLCO in our study.Regarding tomographic findings, regardless of progression to ARDS or barotrauma, the natural course of COVID-19 contributes to structural damage of the lungs.It was also analyzed that among the most severe cases of acute infection, male gender was the most prevalent profile. In addition, imaging examinations demonstrated perpetuating changes in this population and scarring aspects. The majority of patients were classified as severe at the time of hospitalization, however, after follow-up, it was observed recovery of lung function.In summary, most patients showed recovery of lung function after 1 year of the acute condition. However, the percentage of patients with perpetuating sequelae is notable, despite being low. However, when this proportion is extrapolated to the total Brazilian population, the absolute percentage is high and significant.