Abstract:
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Introdução: No Brasil, os acidentes por serpentes do gênero Bothrops constituem
grave problema de saúde pública e representam cerca de 90% dos acidentes por
serpentes peçonhentas. Contudo, dados acerca das particularidades dos
envenenamentos botrópicos na população pediátrica ainda são escassos na
literatura.
Objetivo: Identificar as características epidemiológicas e clínicas das crianças e
adolescentes vítimas de acidentes por serpentes do gênero Bothrops.
Método: Foi realizado um estudo retrospectivo, descritivo, observacional utilizando
os dados epidemiológicos e clínicos registrados pelo Centro de Informação e
Assistência Toxicológica de Santa Catarina (CIATox/SC) de pacientes com idade
entre 0 e 18 anos vítimas de acidentes com serpentes peçonhentas, no estado de
Santa Catarina (SC), durante o período de 2014 a 2020.
Resultados: No período de estudo, os acidentes botrópicos ocorreram nos meses
de verão em 56,2% dos casos, na macrorregião do Planalto Norte e Nordeste
Catarinense (23%) e na zona rural (59,6%). As vítimas dos acidentes botrópicos
eram do sexo masculino em 73% dos casos e a faixa etária, em 32% dos casos, era
de 15 a 18 anos de idade. Os membros inferiores foram o local da picada em 81,1%
dos registros. As principais manifestações clínicas foram edema (92,8%), dor
(92,8%), hematoma (39,5%), hiperemia (34,5%) e sangramentos locais (24%).
Dentre as complicações locais destacaram-se a infecção secundária (10,8%),
necrose (1,8%) e a síndrome compartimental (0,8%). As complicações locais foram
mais frequentes em crianças até os 9 anos de idade. A principal complicação
sistêmica foi a lesão renal aguda (LRA) (15,4%). Laboratorialmente, em 76,6% dos
casos foram observadas alterações no perfil da coagulação sanguínea. Em 47,6%
dos casos (n=228), os pacientes receberam a soroterapia em até 3 horas após a
exposição. Os envenenamentos foram considerados leves em 82,4% dos registros.
Em 81,5% dos casos graves, a soroterapia foi administrada em período superior a 3
horas após o acidente. Todos os pacientes evoluíram para cura sem sequelas.
Conclusões: O perfil dos pacientes pediátricos vítimas de acidente botrópico em SC
são os adolescentes do sexo masculino, com idade entre 15 e 18 anos, vivendo em
zona rural. As complicações locais são mais frequentes em crianças até os 9 anos
de idade, o que pode estar associada a maior proporção de veneno injetado por
superfície de área corporal. A principal complicação sistêmica é a LRA. É importante
a precocidade da soroterapia para a evolução clínica favorável. |