Preso entre o abismo e o fuzil: crise e autoritarismo no Brasil contemporâneo

Abstract

Neste trabalho busca-se estudar as alterações causadas pela crise estrutural do capital, iniciada em meados da década de 1970 e marcada pela substituição das tradicionais crises cíclicas do capitalismo por uma crise de caráter universal, alcance global e duração permanente sobre a particularidade histórica do Estado brasileiro, explorando em que sentido a crise interage com a tendência já previamente diagnosticada à autoritarização crescente no país. O Estado brasileiro, voltado ao atendimento dos interesses do bloco de poder dominante, formado pelos monopólios nacionais, o latifúndio e o imperialismo estrangeiro, passou por um processo de redemocratização negociada ao final da ditadura civil-militar em 1988, que constituiu no país uma democracia tutelada pelo Poder Militar. Com a crise estrutural do capital, é reforçada a necessidade de domínio político dos países de capitalismo dependente pelo imperialismo, provocando mudanças nas relações dentro do bloco de poder dominante e consequentemente nas suas formas de controle do Estado e exercício do poder. Inserido no quadro de referência do materialismo histórico, o estudo toma o Brasil como caso ilustrativo desse processo, dedicando-se a uma análise da articulação estrangeira do Golpe de Estado de 2016 e sua influência sobre as eleições presidenciais de 2018 para situar o país como alvo de uma estratégia de dominação do espectro total. Para isso, o trabalho parte da apresentação de uma crítica ontológica e marxista às bases das Teorias das Relações Internacionais e da apresentação de um modelo inicial que conecta a análise da ideologia, das práxis e das estruturas sociais. O modelo assim desenvolvido é conjugado à pesquisa bibliográfica, pesquisa quali-quantitativa e análise de fontes primárias, como livros de atores políticos envolvidos com o golpe de 2016, artigos jornalísticos e peças de legislação recentes.