Se matar de trabalhar não é fazer caridade: dinâmicas práticas e formas econômicas em uma Casa de Umbanda Almas e Angola

Abstract

A presente pesquisa examina etnograficamente os conflitos e conciliações morais entre a religiosidade e a economia em uma Casa de Umbanda Almas e Angola de Florianópolis. Introduzimos o debate sobre a religião e a economia, situando os recentes desenvolvimentos teórico-metodológicos nas discussões dos estudos críticos da religiosidade e do secularismo. Descrevemos as representações históricas da Umbanda e de alguns de seus segmentos, confrontando-as com as historicidades umbandistas, para destacar o papel da economia e dos fatores econômicos na elaboração da identidade-ritual da Umbanda enquanto religião. Apresentamos a Casa de Umbanda Almas e Angola que foi o lugar próprio da etnografia, descrevendo a organização material e os significados cosmológicos por trás das suas práticas. Continuamos descrevendo os trabalhos feitos na Casa, destacando os fatores econômicos presentes na administração, a necessidade material-prática que constrange os ideais mantidos, e a dependência material do terreiro em relação às unidades de produção para o mercado. Por último, destacamos o papel do princípio da caridade no dilema prático cotidiano da Umbanda: como sustentar materialmente a religiosidade de terreiro, se a espiritualidade umbandista, em princípio, não pode ser usada para ganhar dinheiro? Dessa questão, indicamos como a forma econômica própria do terreiro de Umbanda pode ser entendida como economia moral, e como o ideal-prático da caridade pode ser interpretado como princípio da atividade material. Concluímos com as contribuições dessa abordagem para o debate sobre religião e economia.

The present research ethnographically examines the moral conflicts and reconciliations between religiosity and economy in an Almas e Angola Umbanda House in Florianópolis. We introduce the debate on religion and economy, situating the recent theoretical-methodological developments in the discussions of critical studies of religiosity and secularism. We describe the historical representations of Umbanda and some of its segments, confronting them with Umbanda historicities, to highlight the role of economics and economic factors in the elaboration of the ritual-identity of Umbanda, as a religion. We present the “Casa de Umbanda” Almas e Angola that was the proper place of the ethnography, describing the material organization and the cosmological meanings behind its practices. We continue by describing the work done in the “Casa”, highlighting the economic factors present in the administration, the material-practical necessity that constrains the ideals held, and the material dependence of the “terreiro” on the production units for the market. Finally, we highlight the role of the principle of charity in the everyday practical dilemma of Umbanda: how to materially sustain the “terreiro” religiosity, if Umbanda spirituality, in principle, cannot be used to make money? From this question we indicate how the proper economic form of the Umbanda “terreiro” can be understood as moral economy, and how the ideal-practice of charity can be interpreted as the principle of material activity. We conclude with the contributions of this approach to the debate of religion and economy.