Atitudes e percepções da juventude sobre a senciência e o uso de animais

Abstract

As atitudes e percepções das pessoas sobre a senciência e uso de animais são influenciadas por diversos fatores demográficos, conhecimentos e valores morais. Neste estudo investigamos a influência de diversas variáveis sobre o uso de animais e a atribuição de senciência a eles: demográficas (sexo, idade, região do país, rural/urbano); curso de graduação; anos matriculado no curso de graduação; ano da participação na pesquisa (2014 ou 2022); posse de animal de companhia ou de produção (bovino ou suíno); experiência com a produção animal ou pesca recreativa. Estudantes de 68 cursos de graduação da Universidade Federal de Santa Catarina (2015, n=1007; 2022, n=959) responderam um questionário on-line abordando as atitudes em relação ao uso de animais (produção animal, caça para subsistência, caça recreativa, pesca recreativa e tradições culturais) e a atribuição de capacidade de sentir dor, ansiedade, frustração, tédio e emoções positivas de prazer aos animais, através de escala Likert de 1 a 5. Os resultados foram submetidos a análises multivariáveis; valores P<0.001 foram considerados significativos. O gênero, a idade, o envolvimento com a produção animal, ser estudante de cursos da área de ciências agrárias (Agronomia, Zootecnia, Engenharia de Aquicultura e Medicina Veterinária), praticar atividades que envolvem o uso de animais e a posse ou contato com animais de produção ou de companhia influenciam a atitude de jovens sobre o uso de animais. Homens, pessoas que praticam ou já praticaram atividades que envolvem uso de animais e aqueles que possuem animais de produção apoiaram mais o uso de animais, enquanto mulheres e pessoas que possuíam cão de companhia apoiaram menos. Pessoas mais velhas apoiaram menos o uso de animais em tradições da cultura local. Pessoas que praticam ou já praticaram pesca para lazer e pessoas com experiência prévia na produção animal aprovaram mais todas as formas de uso de animais abordadas. A percepção da senciência animal foi influenciada pelo gênero, idade, área de residência e pela posse ou contato com animais de produção ou de companhia. Mulheres e pessoas que possuem cão de companhia atribuíram maior senciência aos animais, enquanto homens e pessoas que possuíam animais de produção atribuíram menor senciência aos animais. Pessoas que residiram a maior parte da vida em área rural ou cidade pequena atribuíram aos animais menor capacidade de sentir ansiedade. Pessoas mais velhas atribuíram aos animais maior capacidade de sentir tédio. Algumas espécies, como os chimpanzés e os cães, tiveram a sua senciência mais reconhecida que outras, o que pode estar relacionado ao grau de semelhança com seres humanos e ao tipo de relação humano-animal. Na busca por um mundo mais ético para os animais não-humanos, a conscientização acerca da senciência animal pode se configurar enquanto uma importante ferramenta de transformação, sobretudo dentre a juventude.

People's attitudes and perceptions about sentience and the use of animals are influenced by diverse demographics, knowledge and moral values. In this study, we investigated the influence of several variables on the use of animals and the attribution of sentience to them: demographic (sex, age, region of the country, rural/urban); graduation course; years enrolled in the undergraduate course; year of participation in the research (2014 or 2022); ownership of a pet or production animal (cattle or pig); experience with animal production or recreational fishing. Students from 68 undergraduate courses at the Federal University of Santa Catarina (2015, n=1007; 2022, n=959) answered an online questionnaire addressing attitudes towards the use of animals (animal production, subsistence hunting, recreational hunting , recreational fishing and cultural traditions) and the attribution of the capacity to feel pain, anxiety, frustration, boredom and positive emotions of pleasure to the animals, through a Likert scale from 1 to 5. The results were submitted to multivariable analyses; P values <0.001 were considered significant. Gender, age, involvement with animal production, being a student of courses in the area of agricultural sciences (Agronomy, Zootechnics, Aquaculture Engineering and Veterinary Medicine), practicing activities that involve the use of animals and the possession or contact with animals of production or company influence the attitude of young people about the use of animals. Men, people who practice or have already practiced activities involving the use of animals and those who own production animals supported the use of animals more, while women and people who had a companion dog were less supportive. Older people were less supportive of the use of animals in local cultural traditions. People who practice or have practiced fishing for leisure and people with previous experience in animal production approved more all forms of animal use addressed. The perception of animal sentience was influenced by gender, age, area of residence and ownership or contact with production or companion animals. Women and people who had a companion dog attributed greater sentience to animals, while men and people who owned production animals attributed lower sentience to animals. People who lived most of their lives in rural areas or small towns attributed to animals a lower ability to feel anxiety. Older people attributed to animals a greater ability to feel boredom. Some species, such as chimpanzees and dogs, had their sentience more recognized than others, which may be related to the degree of similarity with humans and the type of human-animal relationship. In the search for a more ethical world for non-human animals, awareness of animal sentience can be an important tool for transformation, especially among youth. Keywords: Use of animals, sentience, youth