Abstract:
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A emergência do novo coronavírus, SARS-CoV-2 (do inglês Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2), tornou-se rapidamente uma ameaça à saúde mundial. A doença causada por esse coronavírus é denominada COVID-19 (do inglês Coronavírus Disease 2019), sendo o agente etiológico transmitido pelas vias aéreas. Sua patogenia varia desde assintomática até uma síndrome respiratória aguda grave e uma múltipla falência dos órgãos, podendo levar à morte. Para ocorrer a infecção é necessário que a proteína de superfície do envelope viral, denominada Spike (S), ligue-se ao receptor celular, a enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2), e sofra a ação da serina protease da transmembrana 2 (TMPRSS2) permitindo a entrada de SARS-CoV-2 na célula do hospedeiro. Visto que ACE2, além do seu papel de importância na infecção viral, faz parte do Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona (RAAS), convertendo Angiotensina II (Ang II), um vasoconstritor potente quando não convertida por ACE2, em Angiotensina 1-7 (Ang 1-7), um vasodilatador; e TMPRSS2 ser necessária para o andamento do processo infeccioso, essas proteínas vêm sendo foco de estudos que buscam correlacionar a expressão gênica dessas proteínas com o desenvolvimento sintomático da COVID-19. Porém esses estudos avaliam amostras de pacientes já infectados pelo vírus, surgindo a questão de como essas proteínas se comportam nos períodos pré e pós a infecção. De forma diversa aos estudos mencionados, neste estudo foram avaliados os níveis de expressão gênica de ACE2 e TMPRSS2 pré-infecção, durante a infecção e pós-infecção por SARS-CoV- 2, em um grupo de 26 pacientes. Para a análise da expressão gênica, amostras de nasofaringe foram coletadas, o RNA total foi extraído, dosado, diluído para igualar as concentrações das amostras e submetido à uma transcrição reversa para produção de cDNA. A partir desse cDNA, dados de quantificação absoluta foram obtidos utilizando a técnica de qPCR em conjunto com padrões plasmidiais. Ao comparar sintomáticos e assintomáticos, os sintomáticos apresentaram uma menor expressão de ACE2 nos períodos pré e pós, tendo aumento no período de infecção; e uma maior expressão de TMPRSS2 previamente infecção, reduzindo nos períodos durante e pós infecção. Os assintomáticos somente demonstraram uma diferença significativa durante a infecção, tendo uma alta expressão de TMPRSS2. Visto a baixa expressão de ACE2 e alta expressão de TMPRSS2 pré infecção em pacientes sintomáticos, é hipotetizado que ocorre uma competição por ACE2 entre SARS-CoV-2 e Ang II, sendo que o vírus com sua rápida dinâmica ocupa a maior parte dos receptores fazendo com que Ang II não fosse convertida por ACE2 surtindo seus efeitos vasoconstritores; e a grande disponibilidade de TMPRSS2 permite uma maior entrada, e consequentmente disseminação viral, visto seu papel crucial nesses processos. Quando dentro do organismo, SARS-CoV-2 aparenta influenciar os padrões expressionais dessas proteínas, como é possível observar pelo aumento de ACE2, e diminuição de TMPRSS2 em pacientes sintomáticos no período de infecção. Dado esses resultados, os níveis expressionais de ambas ACE2 e TMPRSS2 prévios à infecção se demonstram como potenciais fatores de risco para o desenvolvimento de um quadro sintomático de COVID-19, e a presença de SARS-CoV-2 aparenta modular a expressão dessas proteínas. |