A continuidade da concepção de ética no desenvolvimento filosófico de Wittgenstein

Abstract

O objetivo deste trabalho é argumentar contra a leitura convencional sobre a concepção de ética de Wittgenstein. Em seus Diários 1914-1916 e no Tractatus logico- philosophicus (TLP) Wittgenstein fornece raras observações sobre a sua concepção de ética. Por exemplo, que a ética trata de valores, que estes têm natureza necessária e não- empírica (TLP 6.41) e que, por isso, não pode haver proposições éticas (TLP 6.42). Segundo ele afirma em uma carta a Ludwig von Ficker, essa parcimônia era algo intencional, porque ele objetivava delimitar o Ético a partir de dentro. Por outro lado, isso também levou alguns autores a considerarem essa parcimônia como uma restrição colocada pela sua concepção de linguagem. Sendo assim, apenas uma mudança nesta poderia permitir um tratamento novo e mais positivo para a sua concepção de ética. Segundo a leitura convencional, é justamente isso que acontece a partir do retorno de Wittgenstein à filosofia por volta de 1930 e da apresentação de uma nova abordagem filosófica. Isto é, com as concepções de jogos de linguagem, semelhanças de família e forma(s) de vida Wittgenstein aborda a linguagem de uma perspectiva renovada e com isso apresenta uma nova concepção de ética. Contra esta leitura, esta pesquisa tem o objetivo de argumentar que não há tal mudança, pois Wittgenstein continua sustentando os mesmos pontos-chave da sua concepção de ética tractariana mencionados acima. Tal concepção é apenas recontextualizada no seio destas novas concepções.

Abstract: This work?s goal is to argue against the standard reading regarding Wittgenstein?s conception of ethics. In his Notebooks 1914-16 and in his Tractatus logico- philosophicus, Wittgenstein offers but brief comments on his conception of ethics. For instance, that ethics deals with values, that values are of necessary nature (TLP 6.41), and that, for this reason, there cannot be ethical propositions (TLP 6.42). According to Wittgenstein in a letter to Ludwig von Ficker, this briefness was intended for he wanted to limit the domain of ethics from the inside. On the other hand, this also led some authors to consider this briefness as a restriction imposed by his conception of language. This being so, only a change in this conception could allow a new and more positive treatment in regard to ethics. According to the standard reading, this is precisely what happens as of Wittgenstein?s return to professional philosophy around 1930 and as of the adoption of a new philosophical approach. That is, with his conceptions of language games, family resemblances and form(s) of life, Wittgenstein approaches language from a new and renewed perspective and, consequently, presents a new conception of ethics as well. Against this reading, our purpose is to argue that in fact there is no such change, for Wittgenstein still supports the same aforementioned key-points of his conception of ethics of the TLP. In this sense, this conception is solely incorporated in a new context provided by his new conceptions.