Abstract:
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Investigar as memórias das oficinas de arte, oferecidas em um território periférico de Florianópolis/SC, consiste no objetivo desta pesquisa. Com recursos do BNDE, foi construída a Cooperativa no Morro da Queimada, no intuito de ser um local de geração de renda, contudo, após o fim da parceria das entidades que a viabilizaram, a Cooperativa entrou em declínio. Para conter o interesse do tráfico local em ocupá-la, a comunidade se organizou, e uma das estratégias utilizadas para manter a edificação sob sua tutela foi a oferta de oficinas mediadas por diferentes linguagens artísticas. A maioria dessas oficinas não teve continuidade, porém permanecem no local rastros do que ali acontecia. Interessa, nesta pesquisa, investigar esses rastros. Gagnebin (2009), resgatando o legado de Walter Benjamin, afirma a importância do trabalho de poetas e artistas com os restos, com aquilo que é jogado fora, rejeitado, esquecido pela civilização do desperdício e, ao mesmo tempo, da miséria. Importa-nos estes restos à investigação em psicologia, pois ainda que minúcias insignificantes, são vestígios de outros possíveis que, sendo perscrutados e visibilizados, podem vir a contribuir para a compreensão e transformação do presente. Nesse sentido, o objeto de análise visa compreender as características das oficinas de artes oferecidas na Cooperativa e antes da construção da Cooperativa, com foco na participação comunitária, eventuais repercussões e os motivos para que tenham deixado de existir. Para investigação dessas memórias, realizou-se 10 entrevistas com mulheres participantes das oficinas. A metodologia de análise dos dados foi a Análise do Discurso, com contribuições de Mikhail Bakhtin, Lev S. Vigotski e Walter Benjamin. A presença marcante das lideranças comunitárias para a concretização das oficinas, o caráter descontínuo desses espaços devido a ausência de uma liderança referência, além de outras contradições presentes na comunidade que reverberam nos espaços de oficina compõem os principais resultados. Apesar da descontinuidade, alguns rastros de aprendizagens persistiram, e seguiram passados de geração em geração, principalmente aqueles com o qual havia um sentido mais amplo como, por exemplo, a tradição do fazer chocolate para entregar na páscoa às crianças da comunidade. Outro resultado foi na importância dada às oficinas como locais de concretização de encontros, do estar junto e compartilhar experiências de vida. |