Abstract:
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Antimicrobianos são compostos que possuem a capacidade de eliminar ou diminuir o
crescimento de microrganismos. Desde a sua descoberta são utilizados como ferramentas para
o tratamento de infecções em humanos e animais. Apesar de estes fármacos serem um método
eficiente para o combate a infecções bacterianas, com o passar do tempo, mecanismos de
resistência entre os microrganismos foram surgindo. Para lidar com tal adversidade,
organizações como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Centro de Controle de
Doenças (CDC) consideram a abordagem de Saúde Única como uma ferramenta importante
para controle da resistência. Em síntese, o conceito de Saúde Única visa analisar a saúde
humana, animal e do ambiente conjuntamente, pois, crê-se que somente dessa forma é
possível alcançar o bem-estar físico, mental e social das pessoas. No presente trabalho, foram
analisados isolados de Escherichia coli de pinguins. Os pinguins, grupo de aves da família
Spheniscidae, são conhecidos pela sua grande adaptação à vida aquática e migrações sazonais.
Santa Catarina está entre os estados com maior recepção de Pinguim-de-magalhães
(Spheniscus magellanicus). O interesse em avaliar as bactérias resistentes nesses animais tem
dois olhares: o primeiro baseado na característica migratória desses animais, podendo servir
como transporte de resistência entre regiões antropizadas e o ártico. A segunda ótica é voltada
para as adversidades da migração: são constantemente encontrados pinguins feridos na costa.
Ampliar o conhecimento acerca da prevalência de resistências nesse grupo de animais pode
melhorar o uso terapêutico de antimicrobianos, aumentando a oportunidade de sobrevivência
dos indivíduos. A escolha de lidar com amostras de pinguins também foi influenciada pela
disparidade de artigos científicos que estudam animais de criação em relação a animais
selvagens, tornando os dados sobre bactérias resistentes nesse segundo grupo muito escassos.
Assim, o presente trabalho caracterizou fenotípica e genotipicamente isolados de Escherichia
coli obtidos de amostras de pinguins pela Associação R3 Animal, através do Projeto de
Monitoramento de Praias (PMP/BS). Dentre os 55 isolados de E. coli, 67,2% foram
classificados como XDR (Extensivamente resistentes aos antimicrobianos). O perfil de
resistência para os antimicrobianos testados foi: Ampicilina (83,6%); Ampicilina-Sulbactam
(56,4%); Amoxicilina-Ácido Clavulânico (72,7%); Piperacilina-Tazobactam (45,5%);
Cefepima (40%); Cefotaxima (58,2); Cefoxitina (45,5%); Ceftxidima (56,4%); Ceftriaxona
(58,2%); Cefuroxima (58.2%), Ertapenem (30,9%); Imipenem (12,7%); Meropenem (7,3%),
Aztreonam (21,8%); Ciprofloxacino (78,2%); Levofloxacino (58,2%); Ácido Nalidíxico
(65.4%); Norfloxacino (74,5%); Amicacina (3,6%); Gentamicina (36,4%); Tobramicina
(67,3%); Tetraciclina (76,3%); Tigeciclina (1,8%); Fosfomicina (1,8%) e Nitrofurantoína
(5,5%). A proporção de isolados com fenótipo ESBL foi de 20%. Foram detectados os genes
TEM, SHV, CTX-M-1, NDM e ineditamente em pinguins, o gene KPC. Além disso, o
presente estudo, em uma análise temporal, destaca um aumento da presença do gene NDM em
Pinguim-de-magalhães. Algumas técnicas fenotípicas foram imprecisas e precisaram ser
complementadas por técnicas genotípicas. Observando os resultados obtidos é possível
perceber que a resistência aos antimicrobianos encontrada em E. coli de pinguins é alta e está
provavelmente associada à ação humana. |