Abstract:
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O presente trabalho tem por objetivo refletir sobre o esporte escolar, como
possibilidade de educação para sensibilidade. Inicialmente sensibilidade diz respeito
ao refinamento dos nossos sentidos, sendo que estes estão “frente a frente” com os
estímulos do mundo (sabores, cores, texturas...), sendo que tudo o que nos chega via
órgãos dos sentidos trás consigo uma impressão, ou um significado. Este modo de
conhecer precisa ser valorizado, sendo que, a pessoa por meio dos sentidos, pela sua
subjetividade passa a conhecer/reconhecer o mundo, os objetos, a natureza, as
pessoas e nós mesmos. Mas como atribuir importância a essa forma de saber na
escola? Pois, diz-se que a escola é lugar de conhecimento “sério”, não se pode perder
tempo com imaginação, emoção, sensação ou arte. É importante superar o ensino em
que o professor transmite e o estudante apenas reproduz, o professor mostra
determinado movimento e o aluno somente imita. Reconhecemos a importância e a
complexidade existente no aprendizado dos esportes, mas também se tem o
entendimento de que a aprendizagem da técnica do esporte é importante, é um
conhecimento ao qual os alunos têm direito na escola, porém deve ser oportunizado a
descoberta de modos diferentes de realizar um passe por exemplo. O ensino do
esporte na escola não deveria começar pela correção de formas do movimento, pela
imitação do gesto do professor, pela pura repetição de modelos de movimentos, mas
aproveitar as idéias que ajudem a intenção do mesmo. Nessa direção, Kunz (2003), em
seu texto sobre Os movimentos ritmados no futebol, refere-se ao ensino da técnica do
esporte e toma por exemplo o futebol, em que ressalta a orientação da imitação da
intenção e não a imitação da forma. Significa que para o ensino do esporte (e dos
demais conteúdos da Educação Física escolar), é melhor que se oriente o aluno na
direção do que se quer, da intenção do movimento ou da ação que se busca realizar e
não da cópia, reprodução de um padrão de movimento esportivo. Nessa ótica, o ritmo
tanto no futebol quanto nos demais esportes, deve ser encontrado, descoberto e não
indicado, permitindo que a percepção, sensibilidade e intuição de cada aluno, se
desenvolva. Porém, as aulas de Educação Física têm evidenciado a primazia do
conteúdo esporte na escola, sendo que, o enfoque dado ao mesmo tem sido a
competição, a funcionalidade dos movimentos para o desenvolvimento de habilidades
físicas e técnicas a partir de movimentos padronizados e regras pré-estabelecidas. É
preciso que seja repensado este modo de trabalhar a Educação Física na escola. Pois,
uma educação que vise ampliar as potencialidades do ser humano precisa dedicar-se
aos processos sensíveis que acontece em cada um de nós. O corpo enquanto detentor
destes processos sensíveis, que permite/provoca o sentimento de estar no mundo,
consiste no saber primeiro de que nos valemos para estabelecer relações com as
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pessoas, com as coisas, com os vários saberes. A educação escolar ao privilegiar os
sentidos dos alunos, valoriza a identidade destes, porque permite coincidir ou
aproximar os desejos, paixões e necessidades dos seres humanos. O ensino do
esporte na escola, fundado na sensibilidade, amplia as oportunidades de desenvolver
criatividade, expressividade, percepção. Estes são elementos que podem convergir
para a educação de pessoas mais flexíveis, solidárias, éticas, sensíveis, seguras e
felizes. Então, entende-se que o sentimento de êxito no aprendizado do esporte, não
depende da melhor execução de movimentos técnicos, mas sim no fato dos
movimentos realizados terem deixado transparecer sensações/significados, pois na
perspectiva da educação estética expande-se a idéia de dar sentido ao movimento
realizado. Por fim, compreende-se que a educação voltada à sensibilidade, à arte,
precisa ser uma meta, um horizonte o qual os professores busquem alcançar um pouco
a cada dia. |