Proatividade e capital psicológico: interfaces e sinergias em contextos organizacionais

Abstract

Esta tese teve por objetivo analisar, descrever e interpretar as relações entre o construto da Proatividade e os componentes do Capital Psicológico (PsyCap) na ótica dos funcionários de duas organizações brasileiras. O PsyCap e a Proatividade são apontados pela literatura como virtudes psicológicas positivas dos indivíduos que impactam positivamente no desempenho organizacional. O presente trabalho está organizado em três estudos: uma revisão integrativa, um estudo quantitativo e, por último, um estudo qualitativo. A revisão integrativa examinou a literatura em um período de 20 anos, o que demandou a análise de 208 artigos e seleção de 26 documentos para o estudo. Os resultados gerais indicaram que a Proatividade se associou diretamente com todos os componentes do PsyCap, ou seja, teve relação direta com a Autoeficácia, Esperança, Resiliência e Otimismo. Foi demonstrado que a Proatividade e o PsyCap estão alinhados à positividade, ao desempenho e as incertezas ambientais, e que ambos os conceitos (Proatividade e PsyCap) se relacionaram indiretamente por meio do feedback, engajamento, adaptabilidade, felicidade e lideranças. Algumas diferenças também foram observadas, revelando que a Proatividade está pautada na autorregulação, revestida por atitudes intencionais e planejamento estratégico. No que tange aos componentes do PsyCap, estão mais relacionados a eventos circunstanciais e menos deliberados. Além dos aspectos positivos que envolvem a Proatividade e o PsyCap, consequências negativas foram identificadas, como a violência escolar relacionada à Autoeficácia e a conflitos entre colegas no ambiente de trabalho, causados por posturas proativas. Concluiu-se que o estágio dos estudos associando a Proatividade e o PsyCap ainda é incipiente, com lacunas importantes a serem exploradas. O segundo estudo teve como finalidade investigar quantitativamente as relações entre a Proatividade e os componentes do PsyCap. A pesquisa foi realizada com a participação de 113 funcionários. Os resultados confirmaram as hipóteses preestabelecidas para o estudo. A Proatividade se relacionou positivamente com todos os componentes do PsyCap, com relações significativas para a Autoeficácia (r=0,736/forte), Esperança (r =0,572/moderada), Resiliência (r = 0,544/moderada) e Otimismo (r=0,310/fraca). O PsyCap explicou 61,5% da variância total da Proatividade. Por último, o terceiro estudo visou averiguar qualitativamente os determinantes e outros aspectos que envolvem o PsyCap e a Proatividade. O estudo foi conduzido por meio de entrevistas semiestruturadas em uma amostra de 26 funcionários. Os resultados revelaram determinantes comuns para a Proatividade e o PsyCap, entre eles a aprendizagem formal e informal, feedback, felicidade, persistência, curiosidade, desafios e estratégia. Foram observados alguns consequentes positivos como euforia, alegria, realização, entusiasmo, engajamento e gratidão. Notou-se também que a ausência de Proatividade e níveis baixos de PsyCap podem desencadear reações negativas, como a indignação, tristeza, procrastinação, paralisação, desequilíbrio e frustração. A síntese dos três estudos apontou a importância do papel de agência como recursos que podem enriquecer o PsyCap. Diante desses resultados, sugere-se que esse papel ativo do ser humano, representado neste estudo pela Proatividade, pode contribuir para tornar o PsyCap menos circunstancial/reativo rumo a um PsyCap mais deliberado e ativo. Para novas investigações, sugerem-se estudos longitudinais em outras organizações de segmentos variados e em outros países, principalmente para confrontar as definições dos componentes do PsyCap em diferentes culturas. Podem ser igualmente relevantes estudos sobre a dinamicidade das dimensões do PsyCap, pois há indícios de passividade e tímidas associações desses conceitos ao pragmatismo organizacional. Da ótica da aplicabilidade, foi demonstrado que vários aspectos podem ser considerados determinantes do PsyCap e de Proatividade, como a aprendizagem formal, a aprendizagem informal, as lideranças, dentre outros. Assim, faz-se importante incentivar a aprendizagem continuada para os funcionários e a atenção nas relações estabelecidas no cotidiano organizacional, já que são fontes preciosas de desenvolvimento. Sugerem-se, ainda, políticas organizacionais com foco em intervenções para o desenvolvimento da Proatividade e do PsyCap. Por fim, diante das robustas relações e complementaridades entre o a Proatividade e o PsyCap, considera-se que a Proatividade é um conceito com potencial para integrar e enriquecer essa ordem superior do PsyCap.

Abstract: The purpose of this thesis was to analyze, describe and interpret the relationships between Proactivity and the components of Psychological Capital (PsyCap) from the perspective of employees of two Brazilian organizations. PsyCap and Proactivity are identified in the literature as positive psychological virtues of individuals that positively impact organizational performance. The main structure of this thesis is organized into three studies, an integrative review, a quantitative study and finally, a qualitative study. The integrative review examined the literature over 20 years, which required the analysis of 208 articles and the selection of 26 documents for the study. The general results showed that Proactivity was directly associated with all components of PsyCap, that is, it had a direct relationship with Self-efficacy, Hope, Resilience and Optimism. It has been demonstrated that Proactivity and PsyCap are aligned with positivity, performance, and environmental uncertainties, and that both concepts (Proactivity and PsyCap) were indirectly related through feedback, engagement, adaptability, happiness, and leadership. Some differences were also observed, revealing that Proactivity is based on self-regulation, covered by intentional attitudes and strategic planning. Regarding the components of PsyCap, they are more related to circumstantial and less deliberate events. In addition to the positive aspects that involve Proactivity and PsyCap, negative consequences were identified, such as school violence related to Self-efficacy and conflicts between colleagues in the workplace caused by proactive postures. In this literature review. It was concluded that the stage of studies associating Proactivity and PsyCap is still incipient, with important gaps to be explored. The second study aimed to quantitatively investigate the relationships between Proactivity and the components of PsyCap. The survey was carried out with the participation of 113 employees. The results confirmed the pre-established hypotheses for the study. Proactivity was positively related to all components of PsyCap, with significant relationships for Self-efficacy (r = 0.736 / strong), Hope (r = 0.572 / moderate), Resilience (r = 0.544 / moderate) and Optimism (r = 0.310 / weak). PsyCap explained 61.5% of the total Proactivity variance. Finally, the third study aimed to qualitatively ascertain the determinants and other aspects of PsyCap and Proactivity. The study was carried out through semi-structured interviews with a sample of 26 employees. The results revealed common determinants for Proactivity and PsyCap, formal and informal learning, feedback, happiness, persistence, curiosity, challenges and strategy. Some positive consequences were observed, such as euphoria, joy, fulfilment, enthusiasm, engagement and gratitude. It was also noted that the absence of Proactivity and low levels of PsyCap could trigger negative reactions, such as indignation, sadness, procrastination, paralysis, imbalance and frustration. The synthesis of the three studies pointed out the importance of the agency role as resource that can enrich the PsyCap. Given these results, it is suggested that this active role of the human being, represented in this study by proactivity, may contribute to making the PsyCap less circumstantial/reactive for a more deliberate and active PsyCap. For new investigations, longitudinal studies are suggested, in other organizations of different segments and other countries, mainly to confront the definitions of PsyCap components in different cultures. Studies on the dynamics of the dimensions of PsyCap may also be relevant, since there are indications of passivity and timid associations between these concepts and organizational pragmatism. From the perspective of applicability, it was demonstrated that several aspects could be considered determinants of PsyCap and Proactivity, such as formal learning, informal learning, and leadership, among others. Thus, it is important to encourage continuous learning for employees and attention to the relationships established in the organizational routine since they are precious development sources. It is also suggested that organizational policies focus on interventions for the development of Proactivity and PsyCap. Finally, because of the robust relationships and complementarities between Proactivity and PsyCap, Proactivity is considered a potential concept for integrating and enriching this higher order of PsyCap.