Saberes e práticas no ambiente alimentar universitário da UFSC

Abstract

Esta pesquisa teve como proposta investigar saberes e práticas alimentares de estudantes no ambiente universitário, com objetivo de analisar e interpretar percepções, influências, valores, aspectos comportamentais e afetivos envolvidos nas escolhas alimentares. Ambiente alimentar é uma estrutura dinâmica que exerce influência na configuração das práticas alimentares para o desenvolvimento de comportamentos futuros. A hipótese apresentada foi que as práticas e as relações podem ser moldadas pelos atores sociais individuais (estudantes) e institucionais (gestores, reitoria, servidores), com argumento de que alimentação saudável, por mais seja um conceito investigado, ainda não apresenta consenso. Análise tem base no campo de estudos sociais da Ciência, Alimentação, Cultura e Sociedade, e nos trabalhos das ciências nutricionais; se apoia em matrizes teóricas como a teoria das práticas. A paisagem criada entre os dados empíricos e a revisão integrativa permitiu maior amplitude nas discussões e favoreceu a comparação de particularidades técnicas, socioecológicas e institucionais que permearam o estudo. Partiu-se do pressuposto de que as narrativas dos atores, enquanto sujeitos ativos, são importantes e decisivas fontes de orientação para entendimento de como se criam as concepções hegemônicas, as quais, de alguma forma formatam as interações individuais e grupais. Isto justifica a importância da metodologia qualitativa aplicada em grupos com discussão focada e entrevistas em profundidade. Como resultados, a partir dos nexos propostos, sumariamente: 1) entre o grupo de estudantes há dois entendimentos que influenciam fortemente as escolhas individuais: fuga da monotonia e modelagem social, incentivando a reflexividade sobre comida de verdade, interpretado como ?resgate cultural?; 2) os atores concebem e valorizam a possibilidade de estratégias inovadoras no campo de ação da comensalidade, mas também refletem inseguranças, às fontes duvidosas de condução pesquisas científicas, à influência da indústria, ao abalo na confiabilidade do marketing nutricional e apresentam muitos dilemas pessoais relacionados a princípios éticos/ambientais. Ainda, relatam falta de liberdade, impotência e falta de suporte social, políticas de estado, questões institucionais. Tudo interferindo no estilo de vida em relação à maneira de se alimentar, afetando processo pessoal de saúde-doença, interpretado como ?anomia? (incertezas no campo alimentar); 3) quanto aos engajamentos, relações se desdobraram entre comer por prazer e o comer tradicional/familiar. Comida surge como subversão às normativas (sistema), às limitações impostas pelo tempo e cobranças acadêmicas, aspectos financeiros e ambientais à falta de opções para as escolhas. Do afeto emergem esperanças e expectativas para o exercício das metas e projetos futuros, refletem confiança na ciência e em quem orienta o conhecimento. Estudantes mostraram performar suas escolhas, de maneira individual e coletiva (no campus ou em casa), a necessidade de autonomia. E, nessa teia de inter-relações, exteriorizaram assumir o protagonismo da própria alimentação. A revisão bibliográfica auxiliou a representação do conjunto de definições, conceitos e interações complexas e multidirecionais. O modelo apresentado contribuiu para compreender o fenômeno que faz ambientes estarem condicionados ao comportamento individual e vice-versa. Maioria dos estudos, em distintas nacionalidades, indica vulnerabilidades e a necessidade de atenção à melhoria nas políticas públicas nos ambientes em que estudantes estão inseridos. Por fim, constatou-se que ferramentas convencionais, a exemplo do protótipo de gestão atual, são contraditórias com os valores e com as questões identitárias e simbólicas estudantis. Assim, como conclusão, a partir da reflexividade proposta, identificou que afeto, confiança e liberdade são valores que contribuem para que os indivíduos assumam o protagonismo de suas escolhas. Aprimorar programas que promovam mudança nos fatores comportamentais evidenciados torna-se importante tanto para diminuir os riscos, como contribuir para a qualidade de vida nessa comunidade.

Abstract: This research aimed to investigate student?s food knowledge and practices related to food purchases in university environment, in order to identify and analyze perceptions, influences, values, behavioral and affective aspects involved in food choices. This environment is a dynamic structure that influences young adults feeding practices configuration, to build up. eating behaviors, which extend to other stages of life. The hypothesis presented was that practices and relationships can be shaped by social individual actors (university students) and institutional ones (managers, rectory, service providers), arguing that healthy eating, even as an investigated concept, still has no consensus. The analysis is based on Science, Food, Culture and Society fields and on the nutritional sciences work; it is also based on theoretical matrices such as the Theory of Practices. The landscape created between data obtained in the empirical research and in the integrative review allowed greater amplitude in the discussions and favored the comparison of technical, socio-ecological and institutional particularities that permeated the study. It was assumed that the actor?s narratives, while active subjects, are important and decisive guidance sources to understand how the hegemonic conceptions are created that, somehow and later, format the individual and group. interactions, which justifies the importance of qualitative methodology applied in groups with focused discussion and in-depth interviews. As a result, from the linkage proposed by TP, summarily: 1) among the students there are two understandings that strongly influence the individual choices: the run from monotony and social modeling, encouraging reflexivity over real food, interpreted as a \"cultural rescue\"; 2) these actors conceives and values the innovative strategies possibility in the commensality action field, but also reflects insecurities, reports impotence in relation to the lack of social support, the dubious sources of scientific research conduct, the industry influence, the shake-up. in the reliability of media/marketing and state policies, besides many personal dilemmas regarding ethical and environmental principles, institutional issues and lack of freedom, all affecting their lifestyle in regard to the way of feeding and to the health-disease personal process, interpreted as \"anomia\" (loss of certainties in the food field); and 3) as for engagements, relationships that have unfolded between pleasure eating and traditional/family eating. Eating comes as a subversion to the system's normative, the lack of options for the choices and the limitations imposed by time and by academic demands and financial and environmental aspects. From the related affection emerge hopes and expectations for future goals and projects exercise, reflect confidence in science and in those who guide knowledge. Students have shown performing their choices, individually and collectively, both on campus and at home, the need for autonomy. And, in this net of interrelations, they externalized that they assume the leading role of their own food. The literature reviewed helped to represent the complex and multidirectional interactions set of definitions, concepts and relationships. The model presented helped to understand the phenomenon that makes food environments conditioned to individual behavior and vice versa. Most studies, even in different nationalities, indicate the need for attention to improve public policies and programs that promote changes in the behavioral factors evidenced in the university food environment. Finally, it was found that conventional political tools, like current management models, are contradictory with values and with student identity and symbolic issues. Thus, as the conclusion of this study, and based on the reflexivity proposed, it was identified that affection, trust and freedom are the values that contribute to individuals assuming the protagonist of their choices. Building public policies aimed at improving the food environment in which these students are inserted becomes important to reduce the risks, as well as contributing to this community quality of life.