Espetáculo, descartabilidade e barbárie: interseccionalidade na trilogia Jogos Vorazes

Abstract

No contexto da literatura distópica juvenil, a trilogia Jogos Vorazes, da autora Suzanne Collins, se passa em uma nação chamada Panem, estruturada por um sistema político, econômico e social baseado em relações de desigualdade e de precariedade. Considerando Panem uma representação da sociedade norte-americana pela perspectiva de Collins ? e, em maior escala, um reflexo das sociedades capitalistas ocidentais ?, esta dissertação apresenta uma leitura das principais críticas realizadas pela autora a essa organização social. Em especial, são discutidas e analisadas aquelas que se referem a situações de exploração do trabalho, às condições de descartabilidade em que vivem determinados grupos, bem como à dessensibilização e à espetacularização da violência e da morte. Para isso, utiliza-se como fio condutor o conceito de interseccionalidade e destaca-se o modo como alguns eixos interseccionais aparecem com maior frequência na trilogia. Da escrita de Collins, emergem representações atravessadas principalmente por gênero, geração, classe, raça e nacionalidade, que se combinam de diversas formas para alterarem as (e serem alterados pelas) vivências das personagens. Nesse panorama, evidenciaram-se os modos como os adolescentes, conforme os eixos interseccionais se entrelaçam e se influenciam, são ao mesmo tempo vítimas e algozes de tal sistema.

Abstract: In the context of young adult dystopian literature, the trilogy The Hunger Games, from the author Suzanne Collins, takes place in a nation called Panem, structured by a political, economic and social system based on relations of inequality and precariousness. Considering Panem as a representation of North American society by Collins? perspective ? and, on a larger scale, a reflection of western capitalist societies ?, this thesis presents a reading of the main criticisms, made by the author, of this social organization. In particular, are discussed and analyzed those that refer to situations of labor exploitation, the conditions of disposability in which certain groups live, as well as the desensitization and the spectacularization of violence and death. For this purpose, the concept of intersectionality is used as a conducting wire, and stands out the way some intersectional axes appear more often in the trilogy. From Collins? writing, representations emerge, crossed mostly by gender, generation, class, race, and nationality, that combine themselves in diverse ways to alter the (and be altered by) the characters? experiences. In this panorama, the ways in which adolescents, according to the intersectional axes? entanglement and mutual influence, are at the same time victims and tormentors of such a system were highlighted.