Encontros nas representações femininas: os caminhos de Dora, Aurora, Ana Terra e Lara Croft

Abstract

Ao longo da trajetória de humanidade, a mulher foi representada de várias formas ao contarmos suas histórias e sua História. Sobretudo, num contexto eurocentrado, as representações femininas acabaram se concentrando em dois tipos comuns: a mulher ideal, servil, boa esposa e mãe versus aquela mulher a ser rejeitada pela sociedade, tida como difícil de conviver, que não aceita os deveres do casamento e da maternidade e que vivencia sua sexualidade livremente. Essa representação dicotômica serviu ao patriarcado para não só promover a rivalidade entre as mulheres, mas também para alimentar quais corpos que serviriam e servem ao sistema colonial e capitalista e aqueles que deveriam ser ignorados, apagados e invisibilizados pela sociedade. Nesse sentido, a presente tese busca, por meio da análise das personagens Dora, do romance Capitães da areia, escrito por Jorge Amado; Ana Terra, do romance O Tempo e o vento, escrito por Érico Veríssimo; Aurora, do jogo Child of light e Lara Croft, do jogo Rise of the Tomb Raider, investigar as representações femininas presentes na literatura brasileira, no segundo período do Modernismo brasileiro e as utilizadas pelos videogames, visto que essa linguagem é uma das quais os jovens mais se utilizam para vivenciar a experiência narrativa. A partir das narrativas dessas quatro personagens, serão analisadas suas características e trajetórias, observando a que representações e estereótipos elas servem. Além disso, representações da mulher, como a donzela, a guerreira e a mãe, arquétipos tão replicados nas religiões católica e de matrizes africanas, tomando como ponto de convergência as santas Bárbara e Ana e as orixás Iansã e Nanã, também serão discutidos, a fim de ressaltar que representações como as de Dora, Ana Terra, Aurora e Lara estão presentes nas diversas linguagens e nos mais variados espaços daquilo que podemos chamar de cultura brasileira. As experiências dessas personagens são influenciadas pela classe, raça, etnia, geração, identidade de gênero, sexualidade, época e localização, então, com aporte da crítica feminista e dos estudos pós-coloniais, questões como invisibilização, poder, opressão, identidade e representatividade serão estudadas, ao passo que também serão propostas e instigadas outras representações, distantes da dicotomia maniqueísta proposta pela racionalidade eurocentrada e mais próximas de nossas realidades e de diversidades.

Abstract: Throughout the trajectory of humanity, women have been represented in various ways when telling their stories and history. Especially in a Eurocentric context, the female representations ended up focusing on two common types: the ideal woman, servile, good wife and mother versus the woman to be rejected by society, seen as difficult to live with, who does not accept the duties of marriage and motherhood, and who experiences her sexuality freely. Such dichotomous representation served patriarchy, not only to promote the rivalry among women but also to nourish the decisions of which bodies would and serve the colonial and capitalist system as well as which bodies should be ignored, be erased, and invisibilized by society. In this sense, through the analysis of the following characters: Dora from the novel Capitães da Areia, written by Jorge Amado; Ana Terra. from the novel O Tempo e o Vento, written by Érico Veríssimo; Aurora, from the game Child of Light, and Lara Croft, from the game Rise of the Tomb Raider, the present thesis seeks to investigate the female representations in Brazilian literature, in the second period of Brazilian Modernism and those used by video games, since this language is one that young people use the most to live the narrative experience. From the narratives of these four characters, their characteristics and trajectories will be analyzed, observing which representations and stereotypes they serve. In addition, discussions about the portrayal of women, such as the ones of the maiden, the warrior, and the mother, archetypes so replicated in the Catholic and African religions, find in Saints Barbara and Ana, and Orixás Iansã and Nanã, a point of convergence, will be held to highlight how representations like those of Dora, Ana Terra, Aurora, and Lara, are present in the various languages and spaces of what we may call Brazilian culture. The experiences of these characters suffer the influence of categories such as class, race, ethnicity, generation, gender identity, sexuality, time, and location. Consequently, supported by feminist criticism and postcolonial studies, invisibilization, power, oppression, gender identity, and representativeness are issues that will be investigated in this work. At the same time, other representations will also be proposed and instigated, far from the Manichean dichotomy suggested by Euro-centered rationality and closer to our realities and diversities.