Repercussões das práticas profissionais no processo de acolhimento institucional de crianças em uma casa-abrigo na perspectiva de cuidadoras

Abstract

O acolhimento institucional caracteriza-se como uma medida protetiva para crianças e adolescentes que tem seus direitos ameaçados e/ou violados, preconizado pela Política Nacional de Assistência Social de Alta complexidade. Nesta perspectiva, os serviços de alta complexidade oferecem suporte institucional em situações de rupturas de vínculos familiares, visando a proteção integral dos envolvidos. O objetivo do presente estudo qualitativo foi compreender as repercussões das práticas profissionais no processo de acolhimento institucional de crianças em uma casa-abrigo, na perspectiva de cuidadoras. A pesquisa teve como pressuposto epistemológico norteador a ótica da Complexidade, sendo a Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano a base teórica da mesma. Participaram dez cuidadoras de crianças de uma casa-abrigo localizada na região Sul do Brasil. A coleta foi realizada por meio de observação participante e da entrevista semiestruturada. A organização e análise dos dados sustentou-se na Grounded Theory, com auxílio do software Atlas.ti 8.4.14. Os resultados da presente pesquisa foram integrados em três produções científicas, organizadas em formato de artigos. O primeiro artigo consistiu em uma revisão integrativa de literatura, com objetivo de caracterizar a prática profissional e suas repercussões no desenvolvimento das crianças e adolescentes no contexto do acolhimento institucional. Os resultados demonstraram que a instituição de acolhimento representa um contexto de desenvolvimento infantil, evidenciando as relações e vinculações existentes nesse espaço como promotoras de desenvolvimento. As relações estabelecidas entre crianças e cuidadoras foram norteadas pelas práticas profissionais, que conduzem as vivências no cotidiano da instituição. Cabe apontar que os resultados desta revisão mostraram dilemas e dificuldades enfrentados pelas profissionais como a) elevado número de crianças por cuidadora, b) crenças estigmatizantes em relação às famílias de origem, c) ausência de apoio institucional para o melhor desempenho profissional e d) conflito de definição da função do cuidador na instituição, como aspectos que afetam decisivamente o desenvolvimento da prática profissional e consequentemente, o estabelecimento de vínculos e desenvolvimento infantil. O segundo artigo, derivado da pesquisa empírica, teve como objetivo compreender, a partir da ótica da teoria de bioecológica de desenvolvimento, as implicações da prática profissional no processo de acolhimento de crianças em uma casa-abrigo, na perspectiva de cuidadoras. Este estudo demonstrou que as práticas profissionais repercutem em todo o processo de acolhimento, envolvendo procedimentos realizados na chegada das crianças, suporte emocional durante a permanência na instituição e preparação/acompanhamento para o momento de saída da casa-abrigo. Observou-se uma centralização das ações profissionais voltadas aos cuidados físicos das crianças acolhidas, salientando assim, a importância de refletir sobre práticas profissionais que ofereçam um cuidado integral aos acolhidos, de modo a articular os cuidados físicos às necessidades emocionais que surgem durante o processo de acolhimento dentro da casa-abrigo. O terceiro artigo, também empírico, que teve como objetivo analisar os significados atribuídos ao processo de acolhimento institucional de crianças, na perspectiva de profissionais de uma casa-abrigo, identificou que os significados atribuídos ao processo de acolhimento institucional, como valores e crenças pessoais das cuidadoras vinculadas às famílias, à educação e ao cuidado das crianças, podem atuar como eixos norteadores da prática profissional no contexto da casa-abrigo. A partir da compreensão das práticas desenvolvidas pelas cuidadoras e dos significados atribuídos ao processo de acolhimento institucional de crianças foi possível visualizar as diferentes formas de vinculação e as dimensões contextuais que interagem com o fenômeno. Advoga-se sobre a importância da criação de espaços de promoção de trocas e diálogos, dentro do contexto institucional, que estimulem a reflexão e a capacitação ou formação sistematizada e continuada sobre as práticas e os significados atribuídos por profissionais desse contexto sobre a prática e os significados atribuídos ao processo de acolhimento, de modo a integrar e potencializar os cuidados oferecidos. Entendendo o acolhimento institucional como um processo, conclui-se que as tramas relacionais que se expressam no contexto podem determinar os rumos da qualidade do acolhimento e do desenvolvimento infantil.

Abstract: Institutional care is characterized as a protective measure for children and adolescents whose rights are threatened and /or violated, as recommended by the National Policy on High Complexity Social Assistance. In this perspective, services of high complexity offer institutional support in a situation of rupture of family bonds, with a view to the full protection of those involved. The aim of this qualitative study was to understand the repercussions of professional practices in the institutional care process for children in a shelter, from the perspective of caregivers. The research had as a guiding epistemological assumption the perspective of Complexity, with the Bioecological Theory of Human Development being its theoretical basis. Ten caregivers of children from a shelter located in southern Brazil participated. The data collection was carried out through participant observation and semi-structured interview. The organization and analysis of the data was supported by Grounded Theory, with the help of the Atlas.ti 8.4.14 software. The results of this research were integrated into three scientific productions, organized in the form of articles. The first article consisted of an integrative literature review, aiming to characterize professional practice and its repercussions on the development of children and adolescents in the context of institutional care. The results showed that the host institution represents a context of child development, highlighting the relationships and links existing in that space as promoters of development. The relationships established between children and caregivers were guided by professional practices, which guide the experiences in the institution's daily life. It should be noted that the results of this review showed dilemmas and difficulties faced by professionals such as a) a high number of children per caregiver, b) stigmatizing beliefs in relation to the families of origin, c) lack of institutional support for better professional performance and d) conflict of definition on the caregiver's role in the institution, as aspects that decisively affect the development of professional practice and, consequently, the establishment of bonds and child development. The second article, derived from empirical research, demonstrated that professional practices have an impact on the entire welcoming process, involving procedures performed on the arrival of children, emotional support during their stay in the institution and preparation / monitoring for the moment they leave the shelter. There was a centralization of professional actions aimed at the physical care of the children being welcomed, thus emphasizing the importance of reflecting on professional practices that offer comprehensive care to those being welcomed, in order to articulate physical care to the emotional needs that arise during the process of sheltering within the shelter. The third article, also empirical, identified that the meanings attributed to the process of institutional reception, such as values and personal beliefs of caregivers linked to families, education and child care, can act as guiding axes for professional practice in the context of the shelter. From the understanding of the practices developed by the caregivers and the meanings attributed to the institutional care of children, it was possible to visualize the different forms of attachment and the contextual dimensions that interact with this phenomenon. It advocates the importance of creating spaces to promote exchanges and dialogues, within the institutional context, that encourage reflection on the practice and the meanings attributed to the welcoming process, in order to integrate and enhance the care offered. Understanding institutional care as a process, it is concluded that the relational plots that are expressed in the context can determine the direction of the quality of care and child development.