Abstract:
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Nas América do Sul, existem evidências de uso da vegetação nativa por seres humanos há pelo menos 30.000 anos. Tendo em vista que os humanos são os principais agentes de transformação de ambientes, espera-se que existam sinais e heranças desse uso e manejo, tanto na paisagem, quanto nas espécies vegetais. Entretanto, ainda carecem estudos interdisciplinares que considerem as dimensões ecológicas e culturais dessas ações que permeiam as interações entre humanos e plantas, mesmo com extensos volumes de dados na literatura, diante disso, nós revisamos trabalhos científicos sobre domesticação de plantas nas Américas. Além disso, sistematizamos indicadores que descrevem os padrões e processos da domesticação de plantas nas Américas. Também elaboramos uma lista de espécies vegetais nativas dos Neotrópicos que estão intimamente relacionadas com a história humana, além de classificá-las quando ao grau de domesticação. Definimos como indicadores de padrão aqueles relacionados aos resultados da domesticação (adaptados de HAMMER e KHOSHBAKHT 2015, LEVIS et al. 2017) e indicadores do processo de domesticação como aqueles relacionados às práticas humanas envolvidas neste contexto (adaptados das categorias de práticas de manejo descritas em LEVIS et al. 2018), dessa forma, foram estabelecidos 12 indicadores de domesticação de plantas: 1Pa) Presença de mudanças genotípicas; 2Pa) Presença de mudanças fenotípicas; 3Pa) Evidência de cultivo em ampla escala geográfica; 4Pa) Evidência de uso pretérito; 5Pa) Evidência de variedades e subspécies; 1Pr) Evidência de remoção de plantas não utilizadas; 2Pr) Evidência de proteção de plantas utilizadas e tolerância; 3Pr) Evidência de transporte e dispersão; 4Pr) Evidência de seleção; 5Pr) Evidência de manejo com fogo; 6Pr) Evidência de manejo do solo; 7Pr) Evidência de cultivo (“Pa” referente aos indicadores de padrões e “Pr” aos de processos). Na lista final, compilamos 340 espécies de 73 famílias botânicas, sendo as sete mais representativas com 42% das espécies são: Fabaceae, Arecaceae, Solanaceae, Myrtaceae, Asteraceae, Sapotaceae e Cucurbitaceae. Com a soma dos indicadores, também classificamos as espécies quanto ao grau de domesticação, sendo 24% das espécies classificadas como domesticadas, 30% semi-domesticadas, 20% sutilmente domesticadas e 24% silvestres. Neste estudo, utilizamos indicadores bem definidos e que podem ser convertidos em valores numéricos, o que facilita a visualização do processo contínuo de domesticação, de forma a captar melhor as particularidades das populações sob manejo que são domesticadas em algum grau e, consequentemente, o processo de domesticação de plantas nas Américas. |