Abstract:
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A pressão arterial (PA) é mantida, principalmente pelo barorreflexo, em uma faixa de variação relativamente estreita. E, embora o organismo seja capaz de corrigir variações abruptas, a PA apresenta certa variabilidade ao longo do tempo, que pode ser avaliada por métodos lineares e não lineares. As abordagens não lineares da análise desta variabilidade podem extrair informações adicionais de séries temporais que não são detectáveis por métodos lineares. Além disso, esse método tem sido amplamente demonstrado como ferramenta útil para determinação de prognóstico e estratificação de risco em várias doenças cardiovasculares e/ou sistêmicas.
A entropia é uma medida de irregularidade ou imprevisibilidade de séries temporais. Nesse caso, regularidade indica baixa entropia e irregularidade indica alta entropia. Em geral, a alta entropia é uma característica de sistemas saudáveis ou complexos, visto que a complexidade do sistema é o que permite que os organismos respondam de forma rápida e adequada a uma demanda fisiológica, indicando que, quanto maior a complexidade/irregularidade do organismo, melhor será a sua funcionalidade. Por outro lado, a análise de flutuação sem tendência (DFA) quantifica o grau de auto-similaridade dos sinais ou séries temporais. No DFA o α-expoente pode ser visto como um indicador da “rugosidade” da série temporal, quanto maior o valor de α, mais suave será a série temporal (menos rugosa) e mais saudável será o indivíduo.
O objetivo deste estudo foi investigar, pelos índices de entropia e DFA, a contribuição da hipertensão arterial e da atividade parassimpática na dinâmica não linear da variabilidade PA em ratos.
Todos os procedimentos foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa Animal da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, USP, Brasil (nº 126/2011).
Foram utilizados registros de PA de 15 minutos de ratos machos (20 semanas de idade, 320-550g). Um agente anticolinesterásico, donepezila, foi utilizado para aumentar a atividade parassimpática. Desta forma, foram avaliados ratos normotensos - Wistar–Kyoto (WKY = 12), e espontaneamente hipertensos (SHR) tratados (SHR + DON = 8) ou não (SHR = 9) com donepezila.
O tratamento com donepezila iniciou-se antes do início da hipertensão, quando os animais tinham 5 semanas de idade. Os animais foram implantados com mini-bombas osmóticas subcutâneas para a administração de donepezila (1,4 mg/kg/dia - concentração necessária para inibir ~60% da atividade da acetilcolinesterase cerebral). Animais SHR controle e WKY de mesma idade foram submetidos ao mesmo procedimento cirúrgico.
Ao final de 16 semanas de tratamento, os animais foram anestesiados com isoflurano (indução: 5%; manutenção 1,5–3%) e instrumentados com cateteres de polietileno na artéria femoral. Após 24 horas de recuperação, a pressão arterial (PA) foi registrada diretamente por meio da artéria femoral com os ratos conscientes.
As séries temporais da PA sistólica foram avaliadas e foram calculadas a entropia amostral, fuzzy e de dispersão; e os expoentes em escala de DFA em janela curta (α1; 5≤n≤15), média (α2; 20≤n≤100) e longa (α3; 100≤n≤500).
A análise demonstrou: 1) redução da entropia de amostra, fuzzy e de dispersão em SHR (amostra: 0,73 ± 0,05; fuzzy: 0,55 ± 0,04 e disp: 3,01 ± 0,07; P <0,05) e SHR + DON (amostra: 0,76 ± 0,07, fuzzy : 0,57 ± 0,06 e disp: 3,06 ± 0,10; P <0,05) vs WKY (amostra: 1,07 ± 0,07, fuzzy: 0,86 ± 0,07 e disp: 3,43 ± 0,11);
2) aumento de α2 em SHR (0,95 ± 0,03, p <0,01) e SHR + DON (1,02 ± 0,04, p <0,001) vs WKY (0,79 ± 0,04) e, também, aumento de α3 em SHR vs WKY (0,99 ± 0,06 vs 0,76 ± 0,06 , p <0,05), enquanto que α1 não foi alterado (p = 0,97).
Em conclusão, os resultados mostraram redução da imprevisibilidade da pressão arterial sistólica e aumento da escala fractal média em SHR tratados ou não com donepezila, indicando que a hipertensão afeta a complexidade do sistema e que o aumento da parassimpática, induzida pela donepezila, não produz efeitos nessas alterações. O aumento da escala fractal média em SHR vai contra o apresentado pela literatura (redução do expoente-α), dessa forma, mais estudos em animais são necessários para elucidar essa questão. |