Abstract:
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A pesquisa realizada pretendeu analisar a escravidão em Cuba na segunda metade do século XIX, quando esta ainda era uma colônia espanhola, por meio de registros de batismo da população parda e morena de Havana, livre e/ou cativa. A paróquia selecionada para essa pesquisa foi a Jesús, María y José, no centro histórico de Havana e o recorte temporal utilizado data de 1860 a 1878. A escolha deste recorte temporal se deve ao fato de ter sido promulgada, neste momento, a Ley Moret, que libertou todos os filhos de escravas nascidos a partir de 1868, marcando uma série de reformas que foram implementadas visando o fim gradual da escravidão na ilha caribenha. Os registros de batismo já são largamente utilizados pela historiografia da escravidão africana nas Américas por conterem informações valiosíssimas aos pesquisadores do tema como: nome e sobrenome, sexo, filiação parental, origem étnico-linguística, idade, condição de liberdade/cativo, local de residência, rede de padrinhos e, por vezes, ocupação produtiva. Na documentação analisada, todos estes dados puderam ser encontrados. A metodologia aplicada consistiu em extrair tais dados da documentação após o exercício de paleografia da documentação em língua espanhola, a fim de quantificar as informações apresentadas e traçar os perfis sociais da população estudada. Para entre os anos abarcados (1860-78) foram verificados 242 registros de batismo. Após a análise de 242 registros de batismo e sob a luz da bibliografia lida, foram alcançados resultados em consonância com dados gerais da pesquisa histórica sobre a escravidão cubana no período e local analisado. Ao lançar nova luz sobre a escravidão em Havana, a análise de tais registros de batismo demonstrou o movimento de transição do trabalho escravizado para o assalariado impulsionado pelas reformas que a metrópole espanhola implementou, seja por pressão interna ou externa para que isso acontecesse. O eco na documentação se dá em seus resultados, onde o número de batizados que se encontravam em liberdade batia os 75% e em cativeiro em 22% para o ano de 1860, enquanto em 1870 o número de batizados livres bateu expressivos 91% e o de cativos apenas 4%. Os demais registros que não entraram nessa porcentagem são aqueles que não permitiram sua análise por rasura, ausência da informação ou marcas do tempo no documento que não permitiram sua leitura. Assim, é possível verificar que esta virada das décadas de 60 e 70 foram definidoras para os rumos da escravidão em Cuba, demonstrando o declínio local no número de batizados escravizados e que se insere em um contexto maior de mudança das relações sociais de trabalho no mundo moderno. |