Abstract:
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Miconia cinerascens Miq. é considerado um complexo de espécies que envolve quatro entidades: M. cinerascens Miq. var. cinerascens, M. cinerascens var. robusta Wurdack, M. lagunensis Ule e M. proteoides A.St.-Hil. & Naudin, e está distribuído desde o Rio Grande do Sul até o Rio de Janeiro e Minas Gerais, alcançando também o Paraguai e a Argentina. As variedades aceitas em M. cinerascens possuem variações morfológicas distintas, bem como na distribuição, o que tem levado autores a considerar a hipótese de espécies distintas. Ademais, também pertencem ao complexo Miconia lagunensis e Miconia proteoides, que ocorrem em restinga em Santa Catarina e locais de altitude no Rio de Janeiro, respectivamente. Por possuírem características morfológicas intermediárias entre as variedades de M. cinerascens, autores têm sugerido a possibilidade de que elas sejam conspecíficas de uma e de outra variedade de M. cinerascens. A hipótese desse trabalho é que as quatro entidades pertencentes ao complexo M. cinerascens podem ser consideradas como quatro espécies distintas, dada a combinação única de caracteres morfológicos e de distribuição. O objetivo deste trabalho foi contribuir com uma melhor circunscrição taxonômica do complexo Miconia cinerascens por meio de uma abordagem molecular. Para isso, foram investigados marcadores moleculares do tipo ISSR e a região ETS do DNA nuclear a fim de testar hipóteses de delimitação de espécies, contrastando os dados genéticos com a morfologia e distribuição geográfica. No estudo, foi adotada a abordagem integrativa por congruência e considerou-se como espécie segmentos de linhagens de metapopulações evoluindo independentemente. Foram amostradas populações do complexo M. cinerascens em diferentes estados do Brasil, de modo a abranger sua distribuição no país. Extrações e amplificações de DNA dos indivíduos das populações citadas foram feitas com dois primers do tipo ISSR ((AC)7RG e (CA)8G), além de ETS. Os dados provenientes da genotipagem foram analisados com o software Structure e por análise de PCA. Os dados do sequenciamento do ETS geraram uma árvore filogenética que, de maneira geral, não teve sustentação estatística, sendo o monofiletismo do grupo inconclusivo. Nas duas análises populacionais, o melhor cenário de agrupamentos genéticos foi igual a 5. Ademais, parece haver um fator geográfico envolvido nos agrupamentos genéticos, que gera um padrão nos agrupamentos mais evidente que o delineamento pelas típicas diferenças morfológicas e da distribuição dos espécimes, como seria o esperado pela hipótese inicial. Assim, as análises de nosso trabalho não suportaram a hipótese da circunscrição de quatro
espécies no complexo, sendo que, nesse momento, a circunscrição mais adequada para o grupo é de que este seja constituído por uma única espécie de grande variabilidade morfológica, de acordo com o ambiente ocupado. |